E aê, pessoal da Spell, há quanto tempo!!!!
Este é um conto que escrevi para uma daquelas dinâmicas de empregos chatas e inúteis à que temos que nos submeter, achei até que ficou razoável e resolvi desenvolvê-lo melhor em casa, aí está o resultado
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UM CORPO PENDURADO
(Sérgio de Souza Faria)
Era uma situação complicada! Lá estava ele agarrando-se com todas as forças a uma estreita erva daninha, pendurado na parede de um poço úmido, escuro e, ao que tudo indicava, bem profundo.
Ele não se lembrava de como fora parar ali, do que fizera no dia anterior ou do que fazia há algum tempo atrás, antes de ir parar lá; ele não se lembrava sequer de seu próprio nome! Sua mente lhe parecia tão obscura quanto o fundo do poço e, seu passado, igualmente distante.
Tudo o que sabia era que estava à iminência da morte e sua vida dependia daquele delgado ramo de erva daninha que brotava da parede.
Tentar escalar a parede estava fora de cogitação. A beira estava muito além de seu alcance e o barro estava muito mole por causa da umidade. Se tentasse criar um apoio fincando o pé ou a mão na terra um pedaço logo se desprendia. Descobriu isso da pior maneira:
Ao tentar enfiar a ao na parede acabou arrancando um grande naco de barro, expondo ainda mais a erva que o sustentava até agora.
... O pior é que ele ainda não ouviu aquela pelota de terra atingir o fundo do poço!
Seus braços estavam se cansando e, vez ou outra, ele tentava segurar-se àquela raiz com os dentes para ver se conseguia alguns preciosos minutos de descanso para um de seus membros. Era inútil, ele sabia, pois nunca tinha coragem de largar uma das mãos; mas mesmo assim ele queria tentar fazer alguma coisa, ele queria lutar por sua vida!
Para piorar a situação um corvo que pairava por ali resolveu entrar no poço e pousar sobre sua cabeça.
Ele não tinha forças e nem coragem para soltar uma das mãos e enxotar a ave, assim como não conseguia balançar a cabeça suficientemente forte para espantar o bicho.
O corvo, por sua vez, parecia nem ter notado que havia alguém abaixo de si, quem dirá seu desespero, e bicava displicentemente a erva-daninha à qual ele se segurava, parando vez ou outra para grasnar.
Em meio a seu desespero ele teve um lampejo de luz e percebeu que, sempre que o corvo grasnava, falava com ele. E mais: ele entendia o que a ave dizia!
- Caia! Caia! – a negra ave dizia.
Sim. Cair. Livre de preocupações e indiferente às conseqüências. Ele deveria apenas cair, pois quando chegasse ao fundo do poço, independente de para qual lado fosse, ele estaria subindo.
FIM