Bom gente, fazia tempo que eu não escrevia um conto, na verdade, desde o ultimo campeonato de contos da Spell
Esse foi escrito após duas noites sem dormir, não foi revisado por outra pessoa e ainda precisa ser aprimorado, para que se torne mais... "mágico", mais detalhado, que prenda mais o leito e para que haja uma imersão maior... Por enquanto, vai assim mesmo
Criticas, sugestões, elogios e xingamentos inescrupulosos serão bem vindos!
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História de bardos: Saudades sem fim
A todos vocês, que estão ao redor desta fogueira, contarei a história de uma menina, uma doce menina que havia conhecido um bardo, um vagabundo andarilho, um contador de histórias, e nele encontrado um porto seguro. Já ouvi milhões de histórias, mas essa se faz necessária para essa noite. Contarei a vocês, com todo meu ardor, a história do Bardo e da menina, “Saudades sem fim”. Prestem atenção, fechem os olhos e escutem com o coração, sintam a história, essa noite foi feita para essa história assim como a lua foi feita pro mar.
“Em uma vila distante, em um tempo distante, viveu uma menina, doce, recatada, não conhecia muito da vida com seus 15 anos, era jovem e imatura, porem, nela havia a centelha que exalava bondade por todos os poros de seu corpo. Certa noite, seu pai levou-a para uma taverna, onde haveria um bardo viajante contando histórias de sua vida, histórias que vivera, histórias que vira, histórias que escutara. A noite estava calma, típica de começo de outono, uma brisa suave que dançava entre os longos cabelos negros da menina, eles saíram de sua fazenda, e foram até a taverna, e então ela e seu pai adentraram. Foi um momento marcante na história daquele bardo, foi olhar no olhar, um desejo sem fim, ele mergulhou nos olhos da menina, que brilhavam como diamantes, e decidiu que faria uma apresentação especial. Convidou a todos a se retirarem da taverna, e que seguissem ele para uma clareira na floresta, onde ele acendeu uma fogueira, e então histórias começaram.
Ele iniciou com a história de um povo de muito longe, que fazia guerras para promover a paz, que mandava seus jovens para a morte, em troca de uma falsa segurança para os velhos burgueses, e todos notaram que durante essa história, as vestes do bardo mudavam de cor, iam tornando-se vermelhas e cinzas, cores pesadas, cores tristes, assim como sua voz e suas melodias, ao fim dessa história o bardo iniciou outra, sobre um povo bonito, que vivia pregando o amor como fonte de todo o bem do mundo, que buscavam amar a todos e a tudo, proteger as florestas e os animais, e então suas vestes foram se tornando mais claras, azuis, roxas, verdes, sua voz mais harmônica e doce, e ao redor dele uma incrível aura de paz e calmaria.
Após essa história, o bardo se calou, começou a arrumar suas coisas novamente, teria que partir em breve, mas antes disso precisava falar com a menina, precisava olhar aqueles olhos novamente, precisava mostrar pra ela que existia amor, lá estava o bardo, experiente, viajado, mais velho, completamente apaixonado pela menina. E foi assim, que quando ele se virou, lá estava ela, olhando para ele com a mesma paixão que ele transmitia, não houveram palavras, não foi preciso, houve um beijo, forte, apaixonado, de quem busca o outro para nunca mais largar, mas não foi assim que aconteceu, o beijo terminou e a menina perguntou ao bardo:
- Você pode ficar na minha casa se desejar, pra sempre eu serei tua, aceitas minha proposta?
O pobre bardo estava tentado a ficar para sempre com sua amada, a todo instante, a todo momento, mas ele sabia que não podia ser assim, e não aceitou. Partiu jurando que voltaria em breve, e assim fez. Desta vez, não reuniu todo o povo, somente ela estava na fogueira, e ele com vestes vermelhas e brilhante, contando histórias de um povo que vive perto de vulcões, que tem praias maravilhosas e é muito animado. Depois, contou histórias sobre um povo pobre, porem muito unido, que luta junto para conseguir melhorar de vida, suas vestes estavam douradas, brilhando na luz que a fogueira reluzia, e a menina ficando cada vez mais encantada.
Aquela vila nunca havia visto um casal tão apaixonado, quando juntos tudo eram flores, ele amava a menina como nunca havia se visto, a ela ele dava de tudo, dizia que se fosse preciso, seu próprio sangue seria dado a ela, nunca ninguém duvidou disso, nunca ninguém duvidou do amor deles. Mas, havia uma hora onde tudo acabava em tristeza, quando o bardo tinha que dizer a menina:
-Adeus, eu preciso ir. Você sabe que eu voltarei logo, mas preciso ir agora.
Era verdade, ele voltava por que amava a menina, mas a menina não se conformava, sempre dizendo:
-Não vá, eu chorarei a tua espera, meu coração será corroído pela saudades. Sabes que eu fico muito triste quando você vai embora.
O Bardo sabia disso, e sentia o mesmo, as vezes muito mais do que a menina, por ser um ser livre, de espírito que não se prende a ninguém, estar dividido entre a mulher da sua vida e sua liberdade machuca, mata aos poucos. Mas não havia saída:
-Eu terei saudades também, te amo infinitamente. Chorarei sangue enquanto estiver indo, mas eu tenho que ir. Eu sou um bardo, sou um andarilho, meu espírito não fica em um só lugar. Vou contar a você o que faz um bardo, o que torna ele assim, mágico, o que faz minhas vestes acompanharem minhas histórias, e tudo ao meu redor se transformar nas mesmas. Não é difícil entender, assim como os cavalos precisam de feno e as plantas de sol, eu tenho minhas necessidades também! Para que eu brilhe, para que eu mude e me transforme, eu preciso de saudades. As pessoas são tocadas pela minha história quando sentem saudades de algo, e eu preciso que você sinta saudades de mim, para que nosso amor continue, e para que eu sempre brilhe aos teus olhos. É a tua tristeza, tua angustia, tua espera pela minha volta que faz com que meus cantos toquem teu coração, minhas vestes mostrem as histórias e minha aura exale a essência de toda essa experiência.
E assim, mais uma vez o bardo foi embora, e a menina ficou chorando, triste e pensativa, ciumenta, pensando se ele voltaria, se ele teria outra mulher, e então ela decidiu prender o bardo, tê-lo pra si mesma. Contou ao seu pai que estava grávida, e assim foi acertado que quando ele voltaria, casariam. O bardo não sabia de nada, voltou a sua amada algumas semanas depois, foi bem recebido como sempre, descansou de sua viagem, e no amanhecer foi dito a ele do problema, e que a solução seria o casamento. O bardo sabia que sua amada não podia estar grávida, mas não ousaria desmenti-la na frente de sua família, então aceitou. Olhando profundamente nos olhos dela disse:
- O que fizeste minha amada? Sem tua saudades ficarei murcho e seu cores, não mais brilharei, não mais terei a voz que tanto ama, nem ao menos terei histórias de lugares diferentes para te contar! O que fizeste... Sem tua saudades, nosso amor irá embora.
A menina não acreditou no bardo, achando que agora que teria ele pra sempre ao seu lado, seria feliz. Seria completa, pois tinha tudo que sempre desejou. Teriam 3 meses antes de se casarem, para os preparativos da cerimônia, mas antes do termino do primeiro mês, as vestes do bardo não mais brilhavam, eram trapos, seu cabelos presos, agora estavam desgrenhados, sua voz era rouca e sem harmonia, e em volta dele só se sentia tristeza. Tristeza essa que não se sentia nem quando ele contava história de lugares onde não se havia o que comer, e pessoas morriam de fome a todo momento, onde não havia esperança, somente tristeza, nem nesses momentos o bardo exalava tanta tristeza.
A menina olhava para o bardo, não vendo mais seu amado, e passou a duvidar de seu amor, se arrependeu do que fez, ficou triste também, não mais sorria, não mais tinha aquele maravilhoso brilho no olhar, o amor deles tinha acabado. Durante a noite, a menina chorava, e o bardo somente observava, dizendo que havia avisado...
No começo do segundo mês, durante uma manhã, a menina olhou para o bardo, dizendo:
- Vá meu amor, estais livre, contei aos meus pais toda a verdade. Eles não me culparam por aquilo, entenderam que eu queria todo seu amor, junto de mim a todo instante. Não vendo que eu sacrifiquei o que mais valia a nós, a nossa liberdade.
Pela primeira vez, desde que chegara a casa da menina, o bardo sorriu, levantou e disse:
- Obrigado meu amor, eu tenho que partir agora! Preciso recuperar meu caminho, minha voz, meu brilho, meu fogo, minha harmonia! Preciso ir, partirei o mais cedo, para que a saudades me inunde, me preencha com seu calor e sua paixão, para que eu tenha vontade de voltar e te ver novamente. Lembre-se meu amor, sempre que você sentir saudades, eu brilharei mais aos teus olhos.
O bardo se foi, a menina ficou, porem dessa vez sorrindo, contando os dias para que ele voltasse. O bardo percorria distancias sem fim, buscando histórias, contando coisas, reunindo gente em torno de fogueiras.
Todo dia a menina se enfeitava, na esperança que seu amado chegasse naquele dia, por que saudades já era infinita, e ela passou a amar o mundo todo, pois em algum lugar desse mundo, o bardo estava contando uma história para alguém, em algum lugar desse mundo, o bardo estava conhecendo coisas novas e crescendo a saudades novamente.
Toda noite ela ia pra cama, triste, com o coração roído de saudades, porem feliz ao pensar:
- Quem sabe ele não volte amanhã?
E assim, ela dormia feliz, com a esperança de um reencontro”.
Essa meus amigos, foi à história de um amor sem fim, aonde mesmo com tudo diferente, veio uma paixão sem precedentes, mágica, iniciada por um olhar. Destino? talvez, sorte? Quem sabe. Mas é o amor mais lindo que eu já presenciei. Por hoje, eu me despeço de vocês, arrumarei minhas coisas, apagarei a fogueira e irei embora, já é tempo de eu voltar a ver minha amada.
Por: Murilo Lorenzo
Agradecimento especial à: Rubens Alves