Todos se surpreenderam com o rapaz que acabara de entrar, mancando, no hospital. Já estava gravemente ferido. Ele sabia que já havia passado por situações piores, mas as marcas, cortes, machucados, lesões e hematomas, dessa vez, não eram de uma só situação, e sim de várias noites incansáveis guardando e protegendo a casa onde morava.
Era um garoto, decerto, bonito. Alto, magro, de cabelos brancos e longos, olhos cor-de-mel... Mesmo com 17 anos, fora incumbido de uma grande tarefa: liderar os Shielders, grupo responsável por proteger a cidade em seus limites. Ameaças vinham a todo instante, parecia que a magia (o grande forte da cidade) era como o açúcar para as formigas, no caso monstros e criaturas malignas de todos os tipos, mandadas pelo pior tipo de invejosos. A cidade era próspera e era a principal fonte da magia no mundo, eles tinham que tê-la. Mas nunca com sucesso, os Shielders eram bem eficientes. Até que desistiram de atacar a cidade, e começaram a atacar, pessoal e domiciliarmente, membro a membro dos que compunham aquela defesa.
De volta ao hospital, o garoto estava em seu limite. Ninguém conseguiu entender como ele alcançara o hospital, mesmo naquele estado. Quer dizer, só uma pessoa o conhecia o bastante para não estranhar sua resistência.
- Dra. Heblen! - gritou um menino, assustado com o rapaz que entrou.
- Shh, não grite, isso aqui é um hospital! - sussurrou a enfermeira que fora chamada. - O que foi? - sorriu, ajeitando o jaleco.
O menino apenas precisou apontar.
- Certo, certo, esse aqui deve dar trabalho - disse enquanto caminhava até o corpo já inconsciente. Ia com a maior calma do mundo, como se fosse apenas uma picada de inseto o que fosse tratar. - Imagino o que você deva ter aprontado para ficar nessa situaç...
De repente ela emudeceu. Heblen reconheceu de pronto aquele rosto.
- ...Spark?! - exclamou em tom mais urgente. Deixou-o em cima de um carrinho e foi praticamente correndo até o quarto vago mais próximo, onde deixou-o na cama e começou a formar uma bola de energia. A assistente de Heblen entrou atônita no quarto sem entender nada do que estava ocorrendo.
- Ele estudou comigo! - falou, sem paciência, enquanto passava a bola de energia sobre o corpo dele. Essa energia ia cicatrizando os cortes e machucados, fazia sumir os hematomas. Em pouco tempo ele estava praticamente em plenas condições, se não fosse o rosto exausto, a palidez e as roupas sujas.
A assistente de Heblen simplesmente lançou um olhar para ela ao ouvir seu nome sendo chamado no quarto ao lado e disse, antes de sair, pisando duro:
- Do jeito que você é, em breve nem vai mais precisar de mim.
Heblen apenas respirou fundo e procurou ignorar o que ela disse. Seu olhar se voltou para Spark, que estava dando sinais de despertar. Olhou para sua ex-colega e disse:
- Sabia que iam te chamar. Também, eu recusaria se outra pessoa viesse me socorrer - disse a voz fraca de Spark.
- Boa noite para você também, Spark. Está melhor?
- Isso foi uma pergunta retórica, não? Vindo de você, é claro que estou melhor!
Ambos riram. Evidentemente ele já estava plenamente recuperado, o que aliviou Heblen, mas a expressão séria que Spark tomou logo atraiu a atenção (e despertou a preocupação) dela mais uma vez.
- Eu precisava falar com você mesmo. De preferência num lugar reservado.
Spark abaixou a cabeça, já sentado na cama, e prosseguiu:
- A perseguição continua. Você lembra daqueles vultos cinzas perto da escola, ano passado, não? Então, eles acharam meu endereço na lista telefônica. - apoiou a cabeça nas mãos cruzadas à sua frente, visivelmente impaciente e inquieto.
- Essa cidade nunca foi um exemplo de segurança mesmo... - começou a falar, até receber o olhar indignado de Spark - ...quer dizer, até vocês começarem a atuar aqui.
- Agora começou a piorar, Heb. Meu irmão, meu pai, minha casa está toda em perigo. Há noites eu não durmo decentemente porque tenho que vigiar a casa. Eles estão querendo me esgotar, me tirar da ativa, e sinceramente estão conseguindo. Minha vida agora é um inferno. - sentia-se a raiva no tom de voz dele.
Heb sentou-se ao lado dele e pegou em suas mãos.
- Eu posso ajudar, não posso? - falou, olhando nos olhos dele.
- Pode, mas não vou deixar que ajude, não diretamente, do jeito que você quer. Olhe ao seu redor, você já tem uma vida, tudo o que você quis, está bem, está feliz aqui, eu não vou fazer você abdicar de... - Heb colocou um dedo na frente da boca dele.
- Eu nunca tive o que pode se considerar vida. Estou aqui para o que precisar, e não vou te deixar na mão, quando claramente precisa. Eu estou aqui, Spark...
Heblen abraçou Spark, e era o que ele mais precisava agora, embora sua voz tentasse dizer o contrário:
- Olha ao seu redor! Você está onde quer, fazendo o que quer! Eu não estou vivendo, Heb, eu estou apenas suportando, e você não merece o mesmo que eu! - gritava Spark, derramando as primeiras lágrimas.
- Chore, isso é ótimo. - disse, enquanto alisava os cabelos dele - Spark. Eu nunca passo o sentimento verdadeiro aos outros, eu sou como o camaleão... me camuflo. O que realmente quero é te ajudar, isso não vai interferir em nada.
Ficaram naquela cena por um ou dois minutos, até Spark se recompor. Era raro ele chorar, quanto mais chorar assim. Já foi o suficiente para alertar Heblen da gravidade da situação.
- ...obrigado, Heb. É raro achar um amigo de verdade, hoje em dia, uma amiga como você. - falava enquanto secava as lágrimas.
- Você disse que precisava falar comigo num lugar isolado, não? Enfim, meu expediente está acabando, se você esperar mais 5 minutos a gente pode ir pra uma casa minha aqui perto. E eu faço questão de comprar roupas novas para você - apontou as roupas rasgadas dele, rindo.
Spark riu por fora, mas por dentro ele estava sério, sóbrio. Mais do que nunca, Heblen podia oferecer ajuda. Ele só rezava para que ela pudesse ajudar do jeito que ele precisava.
Este conto é baseado numa aventura de RPG free-form jogada por mim, Erick Polido Ferreira, e Ellen Fernandes Lopes. Algumas partes foram modificadas, e eu dou os devidos créditos da personagem Heblen a ela. Conforme apareçam mais personagens, eu vou dando os créditos.
Esse é meu primeiro conto, espero que compreendam a baixa qualidade dele.
Mais partes virão, e creio eu que não serão poucas. =X
E... é isso! Comentem!
EDIT: Espaço entre as linhas. Concordo, DL, ficou bem melhor