Essa é uma história que comecei em um fórum de histórias Yuris (relações homossexuais entre duas garotas). Não sei se pode ser considerada indevida para menores de 17 anos, então preferi não colocar nada. A narração é PoV (Point of View / 1ª pessoa), e o cenário não é bem definido. Maaaaas, eu espero que vocês gostem. ^^ Para não colocar muita coisa, vou postar o capítulo 2 mais tarde/amanhã, e assim será com o 3 e o 4. O 5 não tem previsão de saída, então não posso dar previsões. ;*
Cap. 01 - A Terrível Noite
Acordei de um pulo. Já era tarde, mas algo me incomodava, e havia me despertado do sono. Estava frio, e minha garganta estava muito seca... Resolvi ir até a cozinha para beber um copo de água. Acendi uma vela que estava ao lado de minha cama, e comecei a andar corredor a fora. A porta, já enferrujada, fez um ruído metálico que ecoou pelo andar. Parecia algo aterrorizante, se você já não estivesse habituado com o mesmo som todos os dias. O chão frio incomodava meus pés, e a estrutura de mármore não ajudava a me esquentar.
- Por que tive que esquecer de pegar meu casaco?! - pensei, enquanto andava pelos corredores. Ao virar a direita no fim do corredor, escuto um som vindo da porta à minha esquerda. Um barulho de algo quebrando. Era o quarto de meus pais.
- Que estranho. Tem uma luz vindo de lá. Será que ainda estão acordados? - Engoli em seco. Será que algo poderia estar acontecendo? Resolvi abrir a porta. - Papai? - ao terminar de abrir a porta, meus olhos se depararam com uma cena que não poderia ser pior. Uma poça de sangue reluzia à luz das velas, e o corpo de minha mãe jazia sobre esta. Seus olhos estavam vidrados, com uma terrível expressão de tristeza. Um deles, pelo menos. Na órbita esquerda estava apenas um buraco. Seu vestido, outrora branco e refinado, estava todo rasgado, transparente de suor... E totalmente coberto pelo sangue. Os cabelos pareciam terem sido arrancados, e estavam espalhados pelo quarto. Seu corpo estava branco como a neve que caía do lado de fora do castelo, e estava todo perfurado, como se alguém tivesse tido o prazer de vê-la sofrendo. As paredes estavam com ocasionais borrões de sangue, e uma figura se encontrava diante da lareira. Minhas pernas fraquejaram e eu caí ajoelhada, vomitando enquanto chorava. Acabei derrubando a vela, que caiu e permaneceu acesa por alguns segundos antes de o fogo se extinguir no chão frio.
- Por que choras, minha criança? - reconheci aquela voz de imediato... - Não consegues ver que agora, finalmente, irás assumir o trono de rainha?
- P-pa-pai... - virei para o lado e vomitei novamente. Meu estômago estava embrulhado, e todo meu corpo tremia sem parar. Tentei me levantar, mas minhas pernas fraquejaram novamente. Ele se levantou e me encarou. – O... O que... - Seus olhos estavam arregalados, e um sorriso doentio estava em sua face. Sangue escorria de sua boca, e seu rosto estava todo sujo. Suas vestes estavam manchadas, e seus braços, arranhados. Seus cabelos ruivos, que vivam impecáveis, estavam bagunçados, e molhados de suor.
- Venha. Vamos, juntos... - ele me ofereceu a mão, vermelha de sangue. Eu me senti jogada para trás, e comecei a me arrastar pelos corredores, chorando. Às vezes, conseguia dar três ou quatro passos, mas caía novamente. Na fuga pelos corredores sombrios, as paredes pareciam me observar com o mesmo sorriso doentio, e os quadros pareciam estar sujos de sangue, estendendo suas mãos para mim. Eu estava suando frio, e meu corpo tremia sem parar. Já sentia as roupas molhadas, e minha cabeça latejando. Minhas mãos já estavam sem a firmeza de outrora, e meus sentidos pareciam ter parado de funcionar. O pouco que conseguia sentir era medo. Muito medo daquele ser. Ele não poderia ser meu pai... Nunca fora. Ouvia vozes em minha cabeça, e comecei a me sentir acuada. Vi sombras, mesmo em meio aquela escuridão. Estavam atrás de mim, queriam roubar-me a vida! Não sei de onde tirei forças, mas me levantei e comecei a correr sem direção, enquanto fugia das sombras. O castelo estava totalmente vazio... Eu precisava me esconder. Corri até uma porta, que abri e entrei, fechando-a com uma batida atrás de mim. Uma luz vinha do canto do aposento. Vi um vulto que revirava as gavetas. Pela altura, já devia ser um adulto. Nos encaramos durante alguns segundos, até que me joguei em cima daquele ser.
- Por favor! Me... Me tire daqui! E - eu faço o que você quiser, mas me tire daqui! - eu soluçava incontrolavelmente, chorando sobre o ser. Senti suas mãos sobre meu cabelo. Seus olhos me encaravam. Sua pele era morena, e seus olhos pareciam esmeraldas. Sua voz era doce.
- Não sei o que houve, mas para uma princesa estar neste estado, algo horrível dele ter acontecido. Faça o seguinte: durma, e, amanhã, se ainda tiver este mesmo desejo, estarei esperando-te ao pôr-do-sol na saída leste da cidade. Leve roupas leves e confortáveis, água e comida. Iremos precisar, se realmente desejar sair deste local. - Suas mãos se colocaram sobre meus ombros, e me afastaram. - Agora vá, e mantenha-te calma, pelo menos na presença de outros.
O vulto saiu pela janela, em meio a noite fria... Me apoiei numa parede e sentei. Acabei dormindo por lá mesmo, sentada no chão frio do aposento. Usei uma antiga tapeçaria de lã para me aquecer enquanto dormia. Acordei com a luz solar invadindo meus olhos, como quem força a entrada de uma porta. Abri meus olhos lentamente... A cena de ontem ainda vagava em minha visão, mas eu precisava ser corajosa. Minha noite havia sido terrível, cercada de pesadelos e sobressaltos noturnos. Me levantei, ainda tremendo, e saí. A luz do dia não chegava com total força nos corredores, o que obrigava as velas a ficarem sempre acesas. Fui arrastando os pés, de cabeça baixa, sem me dirigir a ninguém, até meu quarto. Entrei e me tranquei lá, onde fiquei na cama, deitada.
- Senhorita, por favor, permita-me abrir a porta! Estás trancada aí dentro há horas! Deves comer algo ou tua saúde poderá ficar frágil e instável!
Uma voz conhecida. Meu coração disparara. Pulei da cama e abri a porta. Era Maria, minha professora e segunda mãe. Pulei em cima dela, que me abraçou. A convidei para entrar e tranquei a porta logo em seguida. Sentamo-nos na cama, e eu comecei a chorar. Precisava dela de alguma forma...
- Nada irá te acontecer. Por favor, confie em mim. Irei protegê-la, por mais que isto custe minha vida.
- S-sério?
- Claro. Tu és minha pequenina, e não permitirei que mal nenhum se abata sobre ti.
- Então vais comigo para longe deste demônio?
- Como assim?
Expliquei a história, e contei-lhe que ia fugir no mesmo dia. Ela sorriu e levantou.
- Vou preparar tuas coisas e as minhas. Nos veremos mais tarde... - abriu a porta - Ah, sim. O rei já saiu do castelo para sua caçada, então acho que tu podes ir comer algo.
Não sei o porquê, mas o peso que eu sentia havia se aliviado. Resolvi seguir e ver o que iria acontecer. Escuridão, esconde meus medos...