por Anonimous000 em 15 Out 2007, 21:23
Pensei em postar apenas umas, mas as cenas 11 e 12 são praticamente simultâneas, então melhor ler as duas de uma vez. Me sugeriram fazer como um só, mas como tem um "corte de câmera" eu prefiro separar.
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11.
Cho ouviu alguém entrar na oficina, pensou que fosse Caroline, que havia saído pouco tempo antes.
–Posso falar com você?
Torio falou em japonês. Cho ficou paralisada um momento, ainda segurando a tocha laser. Ele andou em volta da mesa onde o Vandal estava sendo desmontado, e se sentou no outro lado, onde Caroline estava mais cedo, e ficou encarando Cho.
–Você está me evitando? Eu sei que ficou aqui ontem o dia todo, e hoje também. Mas quando foi pedir ajuda, pediu para Caroline, mesmo sabendo que eu estava mais perto.
Cho ficou quieta, olhando para Torio.
–Será que não se lembra de nada do seu passado?!- Torio não percebeu que estava elevando a voz, não que isso fosse um problema, pois Jonathan e Caroline não falavam japonês.- Não lembra de mim?
Cho encarou Torio nos olhos por um instante, depois abaixou a cabeça.
–Você tem que lembrar de algo Akagawa!- Torio parou em seguida, ao perceber que havia falado algo que não devia.
Cho não percebeu mais nada ao seu redor, novamente começou a visualizar outras coisas, memórias. Primeiro ela se viu em um hangar, cercada por Mobilesuits, bem diferentes dos que havia visto nos últimos dias. Em seguida se viu dentro de um Battlesuit, parecia familiar. Ouviu um rádio, em inglês “Tenente Akagawa, está pronta?”, depois ouviu a própria voz responder, mesmo sem ter falado. As visões pararam por um segundo, mas voltaram em seguida. Agora ela estava em uma plataforma espacial, ainda no mesmo Battlesuit, lutando contra outros Mobilesuits. Ela via ao fundo um planeta, parecia que ela tentava se aproximar dele.
Torio percebeu que Cho estava distraída, e se aproximou dela. Mas ela reagiu e o segurou no pulso, tentando mantê-lo longe. Ele tentou forçar, mas ela girou a mão com força, e ele sentiu seu pulso estalar, ficou tonto com a dor, e em seguida sentiu o chão atingir suas costas.
12.
“Será que fui muito dura com Torio?” Caroline estava perdida em pensamentos. Decidiu por fim voltar para a garagem e tentar continuar a conversa.
Ela parou na escada que levava a garagem, não conseguia ver Torio lá. “Ele deve ter ido embora...”, ela começou a pensar, mas ouviu Torio gritar em seguida. Ele gritou algo em japonês, mas ela entendeu a última palavra: Akagawa. Ela correu até a oficina, apenas a tempo de ver Torio ser jogado para fora, gritando de dor. Seu pulso esquerdo estava virado em um ângulo errado. Caroline ficou paralisada, sem saber o que fazer. Por fim ela se decidiu, e correu até Torio.
–O que houve?
Torio não respondeu, estava apenas gemendo com a dor. Jonathan chegou em seguida.
–O que está acontecendo?- ele parou ao lado de Torio, e se abaixou, examinando o pulso dele.- Calma, não mova o braço, você deslocou o pulso. Caroline, o que houve?
–Não sei, eu cheguei aqui e ele já estava no chão.
–Eu vou levar ele pra enfermaria e tentar colocar o pulso dele no lugar.
Caroline esperou eles se afastarem, e entrou na oficina. Cho não estava mais trabalhando no Vandal. Ela olhou ao redor e a avistou encolhida em um canto. Ela se aproximou vagarosamente, percebeu que Cho estava chorando.
–Tudo bem? O que houve aqui?
–Eu... eu não sei direito... Ele tentou conversar comigo. Disse que eu estava evitando ele...
–Bem... Sem querer ser chata, mas parecia exatamente isso.
–Sim... eu estava. Eu lembro dele. Sei que conheci ele antes... antes de perder a memória... Não sei quando, ou como...
–Tudo bem, deixe isso de lado. O que aconteceu depois?
–Ele começou a falar mais alto... Depois gritou comigo. Ele me chamou por outro nome... Não consigo me lembrar agora...
Caroline pensou em falar, ela sabia perfeitamente qual era o outro nome.
–Depois... eu não sei, me distraí. Comecei a lembrar, e...
A voz de Cho ficou fraca antes dela parar de falar. Lentamente as imagens voltaram. Ela assistiu tudo novamente, imóvel. Depois ela afundou o rosto nas mãos metálicas, chorando.
–Tente se acalmar. O que você lembrou?
–Eu não sei direito... o que eu vi... parece uma guerra... eu matei... matei muitos... sem remorso... como se fosse a coisa mais comum... mais comum, mais simples...
Lentamente Cho voltou a chorar.