por Ermel em 01 Mai 2008, 19:27
Bem, pensei em uma continuação que vai se estender por mais alguns capitulos.
Obrigado a todos.
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Sexta Parte:
Peguei a vassoura. Não poderia partir sem nem ao menos dar uma limpa nesse lugar. Lugar, santuário que serviu para minha iluminação. Para que eu enxergasse além, enxergasse meu futuro promissor e belo.
Na estante peguei um pano de chão velho, todo furado, e o detergente na prateleira. Mordisquei levemente o lábio inferior - pra causar certo ar de dúvida - e olhei para o chão ensanguentado.
Olhei para a vassoura e o pano, que me fitaram com cara de vítima. Como que, mesmo que nascidas para aquilo, não quisessem ter o árduo trabalho de limpar a sujeira. O pano relutou, dançando ao vento, em abraçar a vassoura.
- Oh tarefa ingrata! Sempre que acontece merda quem se fode somos nos! Por que nos? Já tentou se enroscar em uma vassoura e limpar o chão? Uma tarefa nada legal - disse entre suspiros tristes o pano -.
Naquele momento eu senti pena, a vassoura quieta não lutava contra sua obrigação. Mas notava-se em seu olhar certa tristeza.
- Não ha nada que eu possa fazer em seu favor! É como pedir para um médico que trabalhe como advogado, ou um jornalista para que trabalhe como veterinário! É ridiculo! Simplesmente cale-se e faça aquilo para que veio ao mundo!
E decidido, como aquele que tem toda a razão, o enrolei na vassoura que, encoberta murmurou algo que eu não pude escutar. Joguei o detergente no pano colorindo-o de um azul fraco que logo se misturou ao vermelho no ladrilho do chão.
...
Levou algumas horas de trabalho. Muita sujeira. Cansaço. Mas enfim, valeu a pena. Não parecia novo, mas também não parecia que alguem tinha alguma vez algum sangue escorrera por ali.
Foi quando me lembrei. Em um certo seriado - muito legal até - qual o nome me fugia da cabeça no exato momento, lembro-me apenas que começa com três letras... Enfim, onde eles encontravam tudo! A miníma pista, o simples fato d'eu ter pisado nesse chão os faria saber quanto eu calço e com qual tênis eu estava naquele dia e, só para incrementar, saberiam da minha cirurgia no joelho. "Merda!". E eles me encontrariam. Senti meus pelos eriçarem até a nuca num arrepio sútil e gélido.
- Até parece! - rugiu a casa - Até parece que aqui, nesse páis onde vivemos, eu e você, nessa cidade que não é santa nem o rio do mês, sem falar que ela nem burguesinha era, vão se dar ao trabalho de procurar alguem como você. Me poupe!
- Mas... Mas não deixa de ser um assassinato... - desviava meus olhos de sua entrada como que envergonhado, parecia tolo, mas a casa era realmente intimidadora -.
- Isso não traz credibilidade nem muvuca pra mídia, eles não estão interessados em notícias tolas, talvez você seja, no minímo, citado no jornal das sete, muito menos no jornal que é nacional. Eles querem estardalhaço, algo com repercussão, sensacionalismo! Você não é nada! - e num grito final ela se calou, como pontuando o fim da discussão. E assim foi -.
"Não sou nada...?" Balela. O mundo ficaria sabendo de mim. E da minha vida. A minha biografia - que não sera escrita por agora já que, toda biografia tem que terminar em morte - será a mais vendida. E a minha vida, minha verdadeira vida com meus verdadeiros prazeres e vocações começa agora!
"And the question is
Was I more alive then than I am now?
I happily have to disagree
I laugh more often now
I cry more often now
I am more me!"