por ShinRyuu em 15 Jan 2008, 14:17 
			
			Por que eu sou fã de FR? Certamente, por força do hábito mesmo. Meu primeiro contato foi na época do ginásio (que já faz uns 10 anos). Começamos a jogar com o kit First Quest, daí o DM que era o mais rico (ou menos pobre) da turma comprou os 3 livros básicos e, eventualmente, o cenário de campanha de FR. Eu nunca tinha visto um cenário de campanha, e o da 2ª edição me impressionou com todos aqueles mapas continentais, cartões com emblemas e resumos sobre organizações e religiões etc. Aquilo tudo me fascinou, pela riqueza criativa. Antes que falem besteira, estou falando de trabalho criativo, não de originalidade. Ver não apenas um livro descrevendo um mundo fictício em detalhes geopolíticos, culturais e tudo o mais já era uma coisa que eu não via todo dia, ainda mais com tantos acessórios divertidos. Bem, eu me encaixava exatamente na idéia de "adolescente punheteiro de 14 anos" que iniciou o tópico, enfim.
Agora, por que eu continuo fã de FR? Bem, por boa parte desses 10 anos eu não estava de alma vendida. A 2ª edição era rica em cenários, e eu fazia questão de apreciar cada um aos que conseguia acesso. Não tinha muito essa idéia de criticar "esse cenário não presta, é tosco, mal-elaborado etc. etc." Como estava conhecendo, ia de mente aberta e viajava na loucura do cenário. A 3ª edição é que me corrompeu a FR mesmo. Com o SRD, ficou mais fácil e barato jogar D&D. Se bem que, como mudei de Recife pra Salvador na época, não conhecia muita gente e não consegui fazer um grupo, daí apelei pro mIRC e consegui começar uma campanha. O cenário escolhido foi FR porque... simplesmente porque era praticamente o único cenário que estava sendo suportado ativamente pela WotC e era mais fácil arranjar material de referência. Não foi uma escolha elaborada, foi prática. Minha campanha se passou no Norte mesmo, nas Fronteiras de Prata. Não por acaso, o primeiro livro específico de região lançado na 3ª edição foi esse mesmo. Games como Baldur's Gate e Neverwinter Nights também contribuíram para a fixação da "marca" de FR.
Por um lado, pode-se dizer que eu estava com muita fome de RPG, e a fome é o melhor tempero. Mas nunca fui chato pra comer (RPG, pelo menos). Gosto de FR justamente porque nele eu encontro de tudo o que eu possa querer. Se estou num ambiente que lembra o Norte da Europa e quero inserir um viajante de origem árabe, eu posso. Se estou num ambiente que lembra o Mediterrâneo e quero fazer uma invasão viking, eu posso. Se quero fazer uma campanha voltada para a exploração de selvas tropicais populada apenas por tribos indígenas, eu posso. O que alguns vêem como defeito, eu vejo como qualidade: potenciais vastos de aventuras. Por que um cenário tem que ser tão diferente da Terra? Já tivemos todo tipo de civilização, só nunca tivemos magia de verdade... até onde sabemos.
Confesso que eu nunca soube lidar muito bem com o caráter altamente mágico de FR, e provavelmente deveria ser obrigação do cenário prover subsídios e orientações nesse sentido. Mesmo nas Fronteiras de Prata, tínhamos a Lua Prateada num extremo, uma metrópole onde magia salta de todos os lados, com mythal, academia arcana e tudo o mais, e tínhamos o Poço de Beorunna em outro extremo, vivendo precariamente como bárbaros recém-assentados. De certa forma, eu via o Norte de Faerûn de forma muito similar aos Pontos de Luz: um ponto pode estar extremamente desenvolvido, mas é uma pequena estrela perdida dentro de um mar de trevas e morte. Se por um lado o mythal protege a cidade contra assaltos arcanos ou ameaças climáticas, se avançar muito nas trevas encontra-se de tudo, de aberrações a dragões anciões só esperando que alguém se meta a besta.
Da forma que eu vejo, desconsiderando o eventual cataclisma divino, considerando os tempos mais estáveis, os elementos mágicos mais fortes de FR são umas poucas heranças que o DM deveria caracterizar como coisas raras e maravilhosas, como os poucos mythais que sobreviveram, mas a maioria está perdida ou escondida nas entranhas dos ermos e caminhos subterrâneos do mundo. Quanto a PdMs superpoderosos, não acho forçado dizer que eles têm mais o que fazer do que te ajudar. Acho que, quando os protagonistas da estória entram em contato com personagens ainda mais poderosos, tomam-nos como referenciais de superação. O PJ vai se esforçar pra deixar sua marca no mundo, inicialmente sendo comparado a um PdM e um dia superando-o. Minha campanha em FR acabou parando em volta do 12º nível; a essa altura, já tinham conquistado reputação e eram tidos como aliados valorosos da Lua Prateada e, enquanto Alustriel ia para Anauroch confrontar Obscura diretamente (ainda que sorrateiramente, não abertamente), os PJs estavam a caminho de um posto avançado na fronteira entre o deserto e o Norte, nas ruínas de Ascore, para minar as defesas do Império Obscuro como um corte cirúrgico, permitindo depois o avanço de tropas militares, se a operação fosse bem-sucedida. Se falhasse, não causaria um incidente diplomático, ao menos não antes da hora certa.
Enfim, já me diverti muito com FR, acho que o cenário tem muito material interessante pra oferecer. Inclusive, achei muito bem-elaborados os livros da trilogia de Drizzt e acho que o ódio que existe contra o personagem se deve mais ao "hype" dos "Drizzt-wannabes" do que ao próprio. Não concordo com algumas abordagens do cenário, particularmente quanto à caracterização dos deuses, mas esse é o tipo de coisa que eu mudo tranquilamente na minha mesa.
Agora, pra quem gosta de cenários mais "cabeça", "originais" ou "climáticos"... gosto não se discute. Pra quem acha FR uma colcha de retalhos... não tem como não ser, com tanto material escrito por tantos autores diferentes. Eu prefiro ter muito material e fazer ou não fazer com ele o que bem entender do que partir de elementos vagos e genéricos e ter que inventar todos os detalhes. Afinal, eu sempre tenho a opção de criar meu próprio cenário, então se estou usando cenário pronto, é porque não quero ter tanto trabalho.