Bom, gente, aqui vai uma pequena amostra do material que eu trabalhei nesse período. O formato dele é um bocado diferente do que eu, pelo menos, tô acostumado a ver. Mas ficou interessante, eu acho. Sobretudo, eu creio que deixa o leitor instigado, nem que seja pelas idéias que eu tento trabalhar nesse momento.
OBS: posts seguidos pra facilitar a leitura. Caso aja algum problema, basta avisar que eu altero.
Mas vamos a ele.
A Sua Excelência, o Stadhouder da Venerável e Santa República do Sagrado Nyar, e aos Cardeais do Venerável Sínodo:
Senhores:
Conforme a missão que em vossa sabedoria houveram por bem a mim designar, dou-vos agora conta da longa viagem, que neste momento chega ao destino, no país de Pyrgos.
Partindo do vosso iluminado porto a testa de uma flotilha de oito navios, não foi dificultosa ou periclitante a viagem. Apenas uma vez grupos dos malditos flibusteiros tentaram atacar nossas naus – e foram duramente batidos pelo capitão Odel. Depois disso, seguimos com maior liberdade.
Saímos do porto, e a lua estava em minguando. Mas até a península de Shinar, que marca a metade dói caminho, ela já tinha minguado uma segunda vez, e agora crescia. Ali paramos em diversos portos, os quais são ricos em alimentos e pérolas. Embarcamos um rico carregamento de ambas as riquezas, renovando com isso a necessidade de víveres, e a de riquezas. Nossos marinheiros realizaram grandes proezas de armas aos pequenos e insignificantes régulos locais; creio, sinceramente, que pode ser útil enviar uma guarnição e constituir algumas feitorias. Em todo o caso, esse é o pedido de um dos régulos. Também creio, sinceramente, na necessidade de vários missionários, posto que o povo aqui não pratique religião alguma senão oculto ao mar e aos antepassados.
Saímos de novo a alto mar. Nessa fase, eram comuns navios de outros países, e identifiquei bandeiras de vários de nossos vizinhos. Mesmo assim, eram menores os comboios, e menores os navios.
Depois de mais duas fases da lua, avistamos terra. Lembro-me que estava no convés, ao lado do capitão, e foi ele quem ma indicou. Era tão extensa quanto a vista e os óculos podiam alcançar, e as areias eram claras, assim como era possível avistar uma floresta grande, sombria e escura. Acima dela, erguiam-se montanhas de tal forma altas que não creio que nossa pequena cordilheira central possa competir.
Mais alguns dias, e chegamos a um bom e agitado porto. Segundo me informei, lá vivem dez mil famílias, de forma que estimo cerca de cinquenta mil pessoas. A cidade se chama Begran, e fica no Tach de Kurgan, no oeste de Pyrgos. Há mais quatro Tach nessa vasta região – que segundo vi em mapas, é apenas a borda ocidental de uma terra muito maior. O clima e delicioso, e as chuvas que caiam pontualmente ao entardecer, ao meio do dia, e AA alvorada refrescavam a cidade. Uma brisa sopra do mar durante o dia, e da terra durante a noite. Não creio que aja canícula.
Como resultado, a riqueza do solo – que apenas apurei por muito alto, nesses curtos meses de estada – é lendária. Ou invés de duas colheitas, são feitas três ou quatro, de cevada, painço e arroz. As frutas crescem de tal forma abundante que qualquer um, por pobre que seja, tem o direito de colhê-las. Não vi ninguém morto de fome, e isso é mais que posso dizer sobre algumas de nossas santas cidades.
A cidade em parte se localiza a beira-mar, e, em parte, sobre uma rede de outeiros. Pelo que entendo, as pessoas mais pobres vivem do lado oriental do porto – lá existe um grande hospital que os acolhe quando doentes, e silos para épocas de fome. Apesar dos parques, as casas são pequenas e parcamente ajardinadas, embora a pintura seja bem feita. Como em toda a cidade, as ruas e avenidas são retas e pavimentas, e tem um nome que a identifique.
Na região mais central fica a zona de comércio, e as casas destinadas a aqueles que se ocupam da atividade mercantil. De fato, o maior mercado de todo o Tach ocupa o centro dessa área: uma avenida que se estende por três leh, até o porto. Na cabeceira, há uma estátua de um herói local, ao passo que ao sem fim há uma tábua, com as leis da cidade. Os mercadores se organizam em pequenas bancas, lado a lado, e vendem praticamente de tudo. Ah! O doce cheiro do cardamomo, do gengibre se mescla a frituras exóticas – comi abelhas fritas no próprio mel. Cravo e canela podem se achar, bem como uma planta que pouco conhecia, o betél. A qualidade do açúcar me impressionou, e isso é uma descrição mui breve das riquezas que há nesse grande mercado em especiarias. Há muito mais, como tapetes, seda falsa e seda verdadeira, enfeites e vidros maravilhosamente soprados.
Ao redor dessa grande artéria há grandes ruas com lojas. Em várias delas, encontram-se jóias aos cachos, peles e tecidos manufaturados de extraordinária qualidade, elixires e coisas ainda mais exóticas. Também há prostíbulos que oferecem homens, mulheres, e até mesmo outros tipos de diversão. Reluto em dizer que alguns de nossos marinheiros se entregaram a luxúria. Peço, porém, sua compreensão: serviram-nos muito bem.