Um pequeno conto existencialista que escrevi em 10 minutos.
---
Bolor
Eu estava a contemplar a monotonia daquele bolor, que escorria solenemente pela catarata formada na parede. A sangria ininterrupta remetera-me a um estado senil, de mais profunda concentração. Mas aquela admiração era plenamente natural, componente obrigatório na vida de qualquer indivíduo, assim eu pensava. Fato consumado e cotidiano, pleonástico e soberano, pois residia na admoestação divina; relação entre vida e ser vivo de consciente autonomia.
E nessa galeria de opiniões formadas, para além dos guichês do otimismo, desaguando no delta do mau-humor, eu construí meu império. Acostumei-me a ver, em todos os fins de tarde melancólicos, uma legião de troncos de mogno, decepados em vida natural, transbordarem-se pelos rios e irem morrer em cadeiras, mesas e banheiras de hidromassagem. Acostumei-me a passividade das horas.
Esse cenário bucólico de vida passava diante dos meus olhos, enquanto eu permanecia encaixotado e anestesiado. A velocidade com que a mortalha vestia minha existência crescia de maneira exponencial. No fim da história, eu não havia feito nenhum relato para informar às gerações futuras de que nesse mundo eu nasci e morri.