Primeira Parte:
Olhei para a xícara de café. Uma certa nostalgia tomou minha mente fazendo com que fechasse os olhos e respirasse como se faltasse ar, fazendo-o correr excitante pelo meu corpo que estremeceu sutilmente.
- Eu devo estar louco ... - sussurrei na vontade de que alguem escutasse -.
- Sim você esta - me afirmou a xícara de cafe - Olhe ao seu redor. Vê alguem? Algo? Nada?
Olhei ao redor como o café havia pedido. Não via ninguem além daquelas enormes formigas que sentadas em suas mesas, não para elas, discutiam, conversavam, e inacreditavelmente se beijavam com amor, e eu podia ver a baba escorrendo e sendo sugada, como se obtivesse algum prazer naquele ato nojento. Um frio percorreu minha espinha fazendo até mesmo aquela mais longe de mim perceber o desconforto que passava.
- Primeiro: Café não fala! - repetiu a marca registrada de Macabéa, o forte gosto e a essência com certo ar de inebriante sedução. Era impossível recusar uma xícara sua. Impossível - Muito menos são atraente. Se eu fosse você arrumava minhas malas agora, chegava em casa com passos lentos e imperceptíveis, pegava uma roupa ou duas, e pegava todo aquele dinheiro suado na caixa de sapatos no armário, talvez beijasse aqueles dois pirralhos nojentos na testa para não me arrepender mais tarde e fugiria. Sim, fugiria.
Dei o último gole. Seu rosto não expressou dor, ou nem ao menos reclamou de ter sido bebido. Talvez o fato de bebe-lo, eu bebe-lo, fosse uma honra incomparávavel. Num segundo vesti meu casaco me perguntei como seria dentro de mim. E com um olhar cerrado, quase fatal fitei a formiga em trajes de atendente que pegou os dez reais e partiu, assim como eu, deixando o troco para trás, na caixa tinha bem mais de dez reais. Muito mais.
Respirei fundo. Sob a luz fraca que bruxeleava, falhando e me atrapalhando de procurar a chave certa. Me encarou.
- Na boa, acha isso certo?
- Não, mas não custa tentar? - disse olhando para a lâmpada que abaixou o rosto ferida pela pergunta, via-se claramente em seu rosto triste que o fato de tentar, a opção, nunca tinha sido uma opção ter opção para ela, era uma lâmpada e ponto. -
- Ok. Você é o cara.
Por fim achei o metalzinho frio em forma de chave que encaixou perfeitamente naquela boquinha estreita que gemeu ao passo que eu girava a chave.
Silêncio. Podia ver que uma luz, mesmo que fraca, iluminava porcamente a sala, Anna, aquela jumenta, estaria me esperando acordada? Fiz uma pequena preçe com o molho de chave em mãos e a porta ainda aberta. Ouvi alguem respirar e abri um olho. Dei um passo. Abri o outro olho. Dei dois passos. Ah! Graças a deus a potranquinha fogosa dormia no sofá com as patas descobertas. Senti meu sexo pular dentro da jeans.
"Café, sexo, sexo, café?". "Café" confirmei. Corri para o quarto com passos silênciosos, mas tambem, quando ela dorme não tinha como acorda-la, podia dar uma rapidinha ali mesmo nela, roçar nas suas pernas que ela ainda estaria sonhando com aquele Audi, o apartamento em Copacabana e o vestido D.G. bege de costas núas. "Vaca".
Abri o armário e entre as minhas roupas localizei a bendita caixa que suspirou ao finalmente pega-la, que apenas via a luz do sol no fim do mês quando eu depositava certas quantias de dinheiro que a leiteira pedia pra gastar com outras coisas, pagar contas, ou o suado do fim do mês. "Pra que?".
- Pai?
"Deus, é a voz da jumentinha, por que a fez levantar meu bom Deus?"
Olhei com certo receio para trás. Sim, a jumentinha - assim a chamo pois em tudo puxou a mãe, até na aparência, a qual não sei dizer se é bela ou feia. Dava pro gasto. Escondi a caixa de volta que urrou de raiva.
Tive vontade de pega-la pela crina enorme e bater repetidas vezes contra a parede até ver sangrar.
- Eu não acharia ruim - disse a parede - Um estímulo não faz mal.
Foi o que fiz, apressei a jumentinha para que entrasse por completo, fechei a porta. Fiz com que sentasse na cama, e aquele sorrinho - hipócrita - se fez no rostinho quase meigo que ela tinha. Como se fosse acaricia-la peguei-a pelos cabelos mal lavados e sebosos e com força, que eu nunca antes havia visto ou experimentado joguei com facilidade aquele peso contra a parede! "Finalmente!" e um barulho forte se fez quando a parede a beijou com força e logo o chão.
- Merda se o Junim acordar e aquela jumenta também, to fudido.
Acho que se passaram dez minutos enquanto eu fazia pose de vigilante atrás da porta. Nada, nem ninguem. Nem o cão latiu, nem a vaca mugiu.
Arrumei minha mala a corri. Me espere Macabéa, estou chegando. E não sera a hora da sua estrela brilhar, mas da minha meu bem...