Sim, Frost também escreve contos, não apenas fica chateando todo mundo pelo forum! Não sei se são bons ou não, vocês decidem.
Falando sério agora, sempre me interessei por histórias, livros, coisas do tipo, mas nunca me imaginei com capacidade para fazer algo, até que há algum tempo eu tomei coragem para escrever um conto, espero que gostem ou ao menos digam o que eu errei.
O tema não é algo comum (eu acho) por aqui, o velho oeste, mas o conto de maneira alguma se trata de um bang bang desenfreado, também sou um fan de suspense e tentei misturar as duas coisas, se deu certo ou não, quem ler é quem decide.
Aqui vai:
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O lado negro da mente
Às vezes nem os olhos abertos ajudam a compreender uma determinada situação. Em certos momentos eles servem apenas para confundir ainda mais, contradizendo com o que sua cabeça deseja acreditar, vendo coisas que não deviam estar ali.
Era isso que acontecia com Roy naquela noite, mas não apenas a visão contribuía para confundi-lo, os ferimentos e a fraqueza também o deixaram assustado. Como ele foi parar ali? E talvez algo mais importante, que diabos de lugar era aquele?
Não conhecia aquela estrada, não conhecia aquelas arvores mortas, aquela poeira, aquelas rochas, nem a vegetação rasteira, mas isso não era o que mais o perturbava, mas sim o que iluminava a existência dessas coisas: o fogo que queimava restos de corpos e carroças que se espalhavam por toda estrada e além dela.
Os rostos estavam desfigurados demais para serem reconhecidos, as carroças destruídas demais, não havia nenhum sinal de cavalos, não havia nada que ele conhecia, até que seus olhos foram ao encontro de Clara, ela estava a poucos metros, jazia inerte próximo a uma rocha. Roy tentou se aproximar, foi então que notou que estava caído, seu casaco estava sujo com alguma coisa e suas pernas eram como um fardo que ele não conseguia carregar.
Arrastar-se com a ajuda apenas de seus braços era como escalar alguma coisa, porém ainda mais difícil devido a seus ferimentos, era como se suas mãos pegassem fogo sempre que forçavam o chão. Foi uma luta difícil, mas no final ele chegou até Clara. Não podia abandoná-la ali, ela havia salvado suas vidas inúmeras vezes, deixá-la seria como deixar uma parte de si mesmo. E após a duvida sobre os pedaços que havia visto, se alguns deles não eram seus, não podia arriscar perder mais nada. Finalmente conseguiu colocar suas mãos em Clara e a analisou totalmente, algo faltava.
Ela estava descarregada.
Um ruído próximo tirou sua atenção da arma, aparentemente, alguém também se encontrava confuso. Era um homem que já aparentava mais de meio século, sua barba e o que restava de seu cabelo já se encontravam em um meio termo entre o cinza e o branco. Estava tão sujo quanto o outro, embora ferido em uma hemorragia terrível. Roy percebeu nesse momento de quem era uma das pernas que vira ao acordar.
— Ah! Droga, bastardos, olhe o que fizeram! Eu sabia que eles viriam, mas de onde? Foi tudo tão rápido!
O velho parecia dizer mais para si mesmo do que para qualquer outro, mas ficou apreensivo quando escutou o galopar de cavalos em algum lugar próximo. Roy só conseguiu distinguir o som dos estalos do fogo quando o outro silenciou.
Chegaram tão rapidamente perto dos dois feridos que ambos se surpreenderam. Os homens montados eram sete no total, o que os liderou desceu de seu animal e retirou o chapéu, o que fez Roy perceber que também utilizava um. Seus dentes eram podres e seu rosto suado, seus olhos eram fundos e negros, o cabelo lembrava capim já morto, em suas costas carregava uma carabina, muito parecida com Clara. Roy fitou-o por alguns segundos e então se lembrou vagamente de quem era o homem, seu nome era Bob Conrad.
— Woaah. Que confusão os senhores aprontaram aqui, não é mesmo? — disse Conrad olhando mais para Roy do que o velho. — Cheguei a pensar que o ouro também tinha ido junto com toda essa gente.
Roy não conseguia entender sobre o que o homem estava falando, nada fazia sentido para ele naquele momento. A não ser as dores dos ferimentos em si mesmo que ele começava a diferenciar a origem. A dor na lateral de seu corpo provavelmente viera de algumas costelas quebradas, algumas pontadas de dor em alguns lugares diversos surgiram de algumas concussões e sua perna foi definitivamente baleada.
— Monstros, foram vocês que fizeram isso! — O velho manifestava uma raiva que parecia superior ao que ele podia suportar.
— Sim, fizemos, perdemos muitos dos nossos no processo, mas a tristeza que sentimos por eles agora vai desaparecer em breve quando ficarmos com suas partes da pilhagem. — Conrad parecia se divertir.
— Malditos! Olhem para o que fizeram, será que não têm família?
— Não sei quanto aos outros, mas depois de hoje, se eu quiser poderei comprar uma.
Repentinamente, o ancião surpreendeu novamente Roy ao tentar se levantar e ir ao encontro de Conrad, com sua fúria maior que si próprio. Entretanto, nenhuma fúria consegue ser maior que uma bala, para ser mais exato, uma bala que entra em um lado da face e sai pelo outro deixando uma cratera quatro vezes maior. Conrad guardou a carabina novamente em suas costas. Aquele foi o momento em que Roy pareceu conhecer os outros homens que estavam lá.
Sabia que um deles era o responsável por conseguir pólvora, era um homem instruído e falava muitas línguas. Outro era um mexicano, mal falava inglês e sabia contar apenas até seis, o necessário para recarregar e recomeçar a matança. Os outros ainda eram desconhecidos, pois também as chamas já começavam a se apagar e a escuridão tomava conta de todos.
— Roy, você vem comigo agora. — Não era surpresa, se Roy conhecia Conrad a recíproca também era verdadeira.
— Nãao.... eu.... — O som da própria voz era estranho para o homem ferido, então ele decidiu permanecer no silêncio.
— Ah! Quem você acha que é para discutir? Para casa é que você não vai, isso se tiver uma.
Os sete homens haviam deixado uma carroça em um lugar próximo, Roy viajava jogado atrás de uma delas, outras pessoas também feridas estavam a seu lado, as infecções que podiam surgir dali eram inúmeras. Um dos homens havia levado Clara.
— Você vai simplesmente deixa-los levarem você? Deus sabe o que diabos vão fazer quando chegarmos vai saber onde! Seremos reféns com certeza, mas depois disso seremos inúteis! — Um homem que parecia ter morrido há dias era o dono dessas palavras. Roy pensou tê-lo reconhecido, qual era mesmo seu nome? William? Travis? Ele não conseguia lembrar, mas pelo que pouco conseguia recordar ele já devia estar mesmo morto, mas não tinha tempo para debates sobre vida e morte, queria apenas descansar.
— Hey, você é um tolo sabia? Alguém quer salvar sua vida aqui, eu já estou ferrado! — Tudo que Roy queria era que o homem ficasse quieto. — Esse cara morto aqui do meu lado tem uma arma na cintura, você sabe atirar não é? É claro que sabe, hoje eu vi você matar muita gente, não venha me negar isso. Você é dos bons.
O homem ficou quieto depois que Roy pegou a arma e a escondeu sob o casaco, ao contrário de Clara, estava carregada.
— Jonas, Stuart e Michael morreram. — informou o homem que conseguia a pólvora. Roy acordou e olhou para os outros deitados na carroça e para o homem que os analisava, apenas ele estava se mexendo, ao seu lado o que havia falado com ele antes de adormecer estava calado até demais. Seu nome não era nem Jonas, Stuart ou Michael, até onde Roy conseguia se lembrar.
— Roy, você está bem? — Conrad apareceu para verificar e notou que ele era o único a se mover. Então estendeu a mão.
Aquele gesto, estender a mão, era uma marca de Conrad, não, na verdade, a marca era a pistola de carga única por baixo da manga que ele utilizava em seus cumprimentos covardes. Roy sabia que estava ferido demais, sua união com os mortos apenas piorou sua situação, seja lá o que Conrad preparava para ele, não seria mais possível, era dia, as montanhas estavam distantes, assim como as cidades, Roy morreria até lá.
— Foi o único a agüentar até aqui, considere-se um homem de sorte! — Conrad ainda estendia a mão.
— Talvez... um pouco de sorte para mim... — Roy tentou dizer. — Mas não para você. — Disse numa calma como se estivesse lendo uma receita de torta, então sacou a arma escondida com destreza. Alvejou Conrad, o homem da pólvora e um terceiro que não conseguia se lembrar, antes que esses pudessem perceber o que havia se passado. Arrastou-se para fora da carroça e olhou para onde os homens haviam acampado. Nenhum deles parecia estar a caminho, talvez tenham pensado que os tiros pertenciam a Conrad e os outros com a finalidade de matar os doentes como ele. Estavam enganados, Roy pensou, os tiros não pertenciam a Conrad nem aos outros homens, mas as balas agora eram deles.
A perda de consciência já se tornara algo comum. Roy sabia que havia caminhado o máximo que pode naquele deserto. O sol havia esquentado tanto sua cabeça que ele não mais se importava, pensamentos fluíam em seu cérebro de forma desordenada como um quebra-cabeça.
Ele caiu mais uma vez, primeiro de joelhos, depois de todo o corpo, mas antes que navegasse pelo rio da inconsciência, conseguiu amontoar algumas peças de suas lembranças:
Estava em seu cavalo, Clara em mãos, uma caravana passaria por ali a qualquer momento.
— Temos homens infiltrados. — O homem no outro cavalo disse. — Eles sabem o sinal.
— Soube que há um grande carregamento de pólvora na caravana, além do ouro. — Disse Roy.
— Sério? Então eles deviam trazer mais homens com eles.
— Acho que já estão em grande número.
— Não o suficiente.
— Humph... De todo modo, vou preparar para dar o sinal. Deseje-me sorte.
— Boa sorte. — Disse Bob Conrad.
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Bom, é isso, espero que não tenha sido tempo gasto em vão.
Sinceros agradecimentos pela leitura,
Frost