Fico imaginando se não é assim que nasce uma lenda...
Nasce uma lenda:
Isso foi uma daquelas histórias em que, como diria Disraeli “o fato é mais interessante do que a versão”. Ela começa numa tarde chuvosa em Londres, com uma simpática e congelada inglesa chamada Jeanne.
A nossa heroína estava cansada após um longo e exaustivo dia de trabalho, e uma cansativa sessão de ginástica. Aos vinte e poucos anos era bonita, com formas voluptuosas e um sorriso simpático. Era inteligente, dona de uma sorte tremenda e de um grande futuro. Mas naquela tarde era apenas uma mulher menstruada, cansada e doida para tomar um pouco de chá-gelado.
Geralmente os ginásios da fog city são bem providos de tudo o que seus clientes estressados e bem frios possam desejar. Mas naquele dia, especialmente, o novo empregado, Nando, tinha cometido alguns errinhos pela manhã, entre os quais não ligar para o fornecedor de chá. O cidadão veio com tudo, menos o chá gelado.
Quando a Jeanne pediu o chá o rapaz disse que não tinha. Contava com sua simpatia e estampa de rapaz malhado para garantir que a coisa não desandasse. Só que não era assim com Jeanne, que começou a reclamar. E ao descobrir que o cidadão era brasileiro, estudante, iniciou um mui excelente discurso sobre a falta de educação, pontualidade e urbanidade dos latinos em geral. E, como de praxe para um bom anglo-saxão, disse que esse era o maior problema de Buenus Aires.
Nando, já agastado, sai do local a procura der algo que possa acalmar a cliente. Ele, destemido, derruba pilhas de chá normal, de café gelado, de refrigerante, e o oferecia a mala da cliente. E ela, britanicamente, recusava, seria chá gelado ou nada.
Então entrou a coisa do jeitinho, tão característico do nosso povo brasileiro. Ele pegou um produto genuinamente tupiniquim, algo que os gringos nunca teriam experimentado. Ofereceu a ela, com toda a educação de seu sorriso de dentes colgate e charme de moreno-de-corpo-malhado-de-bombas-e-academia uma garrafa de gatorade. A pobre Jeanne tinha um lado meio newtoniano, e optou por tomar ao menos um gole daquele bebida de cor azul Royal, que o negro estava oferecendo.
Jeanne sentiu uma coisa, assim, sei lá, indescritível. Era como se saúde estivesse sendo bombeada para seu interior. Uma coisa como se fosse um whiskey laphroaig sem o seu elevado teor alcoólico. Até o incômodo tinha sumido. E da sensação de prazer ela viu o raio, símbolo da fantástica bebida, e uma idéia louca surgiu na sua cabeça. Uma idéia, muito, muito louca.
A jovem deu uma boa gorjeta a Nando, e saiu, assobiando com a garrafa na mão direita e a cabeça nas nuvens. No trem para casa a cabeça veio mais para a terra, e a idéia teve um parto fácil.
E essa, garotos, é a verdadeira história do parto de Harry Potter.
-----------
Seth