Eltor Macnol escreveu:
[edit]Passeando no google enquanto escrevo esse post, encontrei uma citação do próprio Dawkins que pode ser a que você mencionou:
“Look, somebody who thinks the way I do doesn’t think theology is a subject at all. So to me it is like someone saying they don’t believe in fairies and then being asked how they know if they haven’t studied fairy-ology. I think it is as simple as that. I’m all for professors of theology who write about little-known religious texts and study biblical history, but when theology turns to the study of the trinity, then I think it’s a non-subject.” 
Considerando o ponto que grifei, acho que a intenção se aproxima mais da segunda alternativa do que da primeira, apesar de a primeira frase, fora de contexto, parecer mesmo radical.[/edit]
Não sabia que ele achava isso. Tinha lido outras pessoas falando, mas como ele é um pesquisador sério, eu gostaria de manter algum respeito. Mas em 
"Look, somebody who thinks the way I do doesn’t think theology is a subject at all. So to me it is like someone saying they don’t believe in fairies and then being asked how they know if they haven’t studied fairy-ology"
não tem contexto que dê jeito. É apenas estúpido, porque do jeito que não só Deus, mas o pensamente religioso foi e tem sido influente, não é só a existência ou não de Deus que está em jogo. Na verdade, ela é o que menos importa. E quando a gente joga a teologia no lixo, a gente perde inclusive a noção de como a religião foi quem formou a tradição de educação e conhecimento que nós temos (obrigado ao Elfo por me lembrar disso), que ela não é meramente um monte de crenças bobas e irrelevantes (falando em irrelevante, não tem como ser, quando mesmo o que é comprovadamente bobo e falso ainda influencia as sociedades hoje), e que o Dawkins não faz ideia do assunto sobre o qual ele está falando. (não só teologicamente, inclusive, mas também social, cultural, politica e economicamente)
O problema é que o Eagleton não elabora sobre por quê faria diferença considerar os trabalhos dos autores que cita. Pô, ele quer cobrar rigor do oponente? Vai fundo, mas dê o exemplo antes. É por isso que eu vejo como nada mais que name-dropping pra tentar pegar carona no gravitas de autores mais famosos. Quer citar os trabalhos deles como importantes? Então diga por quê são importantes, aponte os argumentos que ele está dizendo que os autores ateus não levam em consideração. Se nem os próprios defensores da teologia dizem o que são esses fabulosos argumentos, como vão cobrar que os ateus respondam a eles?
Nem vou gastar muito tempo defendendo o texto do Eagleton, porque eu esperava um pouco mais deste texto também. Eu desconfio que ele não seja para uma audiência especializada, e eu também acho que ele podia ter ido direto ao ponto e citado os principais erros do Dawkins, ao invés de ficar falando sobre crença e amor. Por outro lado, o Eagleton também não é teólogo, e eu sei lá se ele acredita mesmo em Deus, já que ele é o grande nome do materialismo histórico dentro dos estudos culturais na Inglaterra hoje. Mas materialismo histórico só tem maluco, então socialista radical religioso é o de menos. Eu acredito que ele quis puxar a sardinha pro lado dele e falar um pouco de amor, que tem sido um dos focos dele nos últimos anos. Ainda assim, Dawkins é pesquisador, e para o bem e para o mal, um dos tropos da academia é esse: quando alguém te acusa de falta de peso teórico, o ônus de rebater a acusação é seu (acho isso uma merda, na verdade), e o Dawkins usa a pior desculpa: estão verdes.
Também tem um certo catch-22 nessa jogada, porque religião é um assunto monumentalmente extenso pra ser discutido, e nenhum autor, nunca, vai abranger uma quantia grande o bastante das suas facetas. Sempre vai ter alguma coisa que não vai ser abordada pelos autores mais famosos, especialmente se é algo mais obscuro e que uma parcela pequena da população sequer conhece. Aí é muito fácil citar dois ou três autores, mesmo que só sejam centrais pra apologia de uma religião específica, e dizer que se não são abordados diretamente, o livro é inválido.
E dá-lhe exclusão do meio termo, hein? No momento, ninguém está pedindo que o cara conheça tudo. O problema é que ele não conhece nada e fica batendo em espantalhos que ele mesmo cria.
Vou chutar aqui que a maioria absoluta das pessoas que acreditam em deuses nem sequer conhecem os autores que o Eagleton cita, e isso não influi em nada sobre acreditarem ou não, então vale mesmo a pena abordar eles em um livro cujo público alvo é bem mais amplo que o meio acadêmico?
Quando você está refutando qualquer validade de qualquer religião, é bom que você ataque os maiores defensores e os argumentos de mais peso, não? Claro, você também pode ficar debatendo baseado no seu próprio preconceito com relação às crenças alheias. Isso vende mais que citar São Tomás de Aquino. Teve um cara que disse uma vez: quem escreve para tolos sempre tem um grande público. Mas aí é minha vez de perguntar: qual a validade de um livro desses?
mas tem uma diferença enorme entre apontar que a campanha da ATEA é tão idiota que quebrou a Lei de Godwin, e dizer que o que Dawkins diz não é válido porque ele não discute a Teologia da Esperança. Especialmente levando em consideração que a visão do próprio Eagleton sobre deus é algo que se assemelha bem pouco com o padrão das igrejas cristãs mais populares, está mais perto de um deísmo vago que foge da antropormoficação (ou pelo menos tenta).
Na verdade, eu não estou defendendo que Dawkins é invalido porque ele não discute uma teologia específica e absurda. Eu estou dizendo que Dawkins é inválido porque ele não sabe nem o que religião é direito, e talvez um pouco de leitura teológica pudesse esclarecer. Mas ele não está interessado nisso. Ele está mais interessado em ficar debatendo a existência de deus com rednecks que ele pode facilmente derrotar num debate. Mas ou menos como nós quando um coitado que nem sabe as implicações de chamar os textos de Antigo e Novo. E eu acho um saco, a discussão sobre a existência de deus entre crentes e ateus nunca vai dar em nada, só tomar o tempo de outras discussões envolvendo religião mais importantes, por exemplo, o estado laico é melhor pra todo mundo, inclusive para as pessoas religiosas (sério, é um saco viver num estado cuja religião oficial não é a sua, vocês não iam gostar), então, por favor, vamos logo liberar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Acho, inclusive, que todos nós deveríamos ler mais Kant. Faz um tempinho que ele disse que essa discussão é a discussão errada. Inclusive, como vimos nas últimas 6 páginas, é fácil ver como ela descamba pro preconceito, pra xenofobia, pro antissemitismo... E, nós, os ateus, sabemos que o negócio tá russo, mas não falamos nada, porque apostar corrida contra manco (adorei,vou usar sempre) é mais divertido que corrigir esses detalhes. Tipo, a inexistência de deus é mais importante que meia dúzia de judeu apedrejado.
O que eu não citei, é porque eu concordo bastante, ou gostei, mas não quero admitir nem elogiar.