Semana passada, por recomendação do Zé, assisti
Na Cidade de Sylvia. Conta a história de um rapaz, cujo nome não é revelado, que está em uma cidade também não declarada (apesar de SER Paris, não mostra nenhum dos cartões-postais estereotipados), e segue uma mulher pela qual tem um amor platônico.
O cara é um desenhista. E até metade do filme, é o único protagonista. Passa horas sentado num café, desenhando mulheres num caderno. O filme é bem perturbador numa coisa: o enquadramento. O foco das cenas, que deveria ficar em primeiro plano, SEMPRE fica no fundo. O tempo todo o que se ouve é conversas de pessoas passando, barulhos de carros ou outros sons da cidade. As cenas às vezes são bem longas, e em algumas delas o personagem desaparece, mostrando apenas o que ficou pra trás.
Enquanto o rapaz desenha, dá pra perceber que ele quer encontrar uma modelo ideal. Até que vê uma moça, mas em vez de apenas desenhá-la, começa a segui-la. E a segue. Por uma hora. Sem diálogos. Eu quase cochilei, umas vezes. Mas chega um ponto que se cria uma tensão tão grande que dá vontade de xingar o cara. A moça (que
ele chama de Sylvia) percebe que ele a segue, e tenta despistá-lo, dando mil voltas pela cidade.
Só que ele, lorpa, não percebe que ela percebeu.
Quando ele finalmente toma coragem de falar com ela...
... num bondinho, diz que ele a conhece, e que a viu há SEIS ANOS, num bar. Na ocasião ela havia o emprestado um lenço, e ele nunca esqueceu dela. "Mas essa não sou eu. Nunca te vi na vida.", ela responde.
Por Deus. O cara fica acabado. É desastroso, e dá uma pena danada dele, MESMO, depois de tanto tempo acompanhando o infeliz PERSEGUINDO a mulher. Era uma certeza tão convicta, que enquanto os dois conversavam, eu me peguei torcendo pra ela se lembrar. E olha que é raro eu me apegar tanto assim em filmes.
Acaba que ela o xinga muito no twitter, dizendo que é feio e errado seguir as pessoas - aí ele faz cara de VOSEPERSEBEU// - e fala pra ele não a seguir mais. O problema é que agora, mesmo ela não sendo mais a tal Sylvia - aliás, o nome verdadeiro dela também não é dito - ele se apaixona, e começa a perambular pela cidade pra ver se a re-encontra.
O filme vale MUITO pela direção e a fotografia. Por mais perturbadoras que fossem, eu achei demais.
Recomendo pra quem tem paciência e gosta dessas coisinhas diferentes.