Acho que todos concordamos em que a discussão chegou num ponto cego, em que corre o risco de se tornar estéril. Atingimos um ponto em que seria interessante exemplos de aplicações bem sucedidas em sala de aula.
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Por outro lado, se seguirmos por este caminho, corremos o risco de tornar a discussão técnica demais, o que reduziria o escopo da discussão de maneira tal que os apontamentos tirados aqui seriam de pouca validade, uma vez que este não é um fórum primariamente voltado ao campo da educação, nem a característica principal dos membros deste espaço é o envolvimento com a área; justamente por isto corre-se o risco ou de a discussão não fluir como deveria, ou de alienar a maior parte dos usuários do fórum que poderiam se interessar pelo assunto mas não por uma discussão técnica demais. Portanto eu tentar puxar um outro fio por aqui.
Qual o problema com RPG e educação?
A princípio nenhum. Tentativas de inovações metodólogicas e didáticas soam sempre bem, certo? Eu mesmo, que sou um pouco cético quanto ao assunto, não nego a possibilidade de aplicações pontuais bem sucedidas. Mas meu ceticismo tinha um outro fundo, um fundo que eu nunca pude identificar exatamente, que eu nunca consegui exprimir até a discussão sobre RPG e arte no paragons, que foi quando eu li um comentário do Madruga:
Madrüga escreveu:O problema é que esse tipo de afirmação consegue aprovação instantânea não pela coerência dos argumentos, mas pelo desejo interno de valorizar o objeto. É claro que o RPGista médio vai ler o artigo e dizer “nossa, é claro que é arte” e até brigar com quem discordar. É um raciocínio de gueto, o RPGista já cansou de ver seu hobby difamado e mal-entendido, daí qualquer coisa que o valorize ser bem-vinda até demais.
(retirado de
http://www.paragons.com.br/rpg-e-arte-parte-1/)
As minhas reservas quanto uso de RPG na educação partem do mesmo princípio: parece-me que antes de tudo a tentativa de aproximar RPG e Educação parte da tentativa de agregar valor ao hobby, e não da preocupação com a educação. Entretanto, se ainda assim isso acendesse ou trouxesse reais benefícios para a área de educação, não seria ruim, certo? Mas o problema reside justamente aí.
Quando se tenta validar o hobby aproximando-o das artes, por mais flamática, maluca ou impositiva que a discussão seja, as artes não estão nem aí. As artes não correm o risco de se desvirtuarem, as pessoas envolvidas com a produção artística podem ou não aceitar que rpg seja arte. Se sim, ei as artes no máximo ganham novas técnicas, se não, meh, as artes não vão pro buraco por causa disso. Se quem não manja muito do assunto começa a fazer pressão, insistir na comparação, o meio artístico pode tacar um foda-se, e nada vai acontecer.
Quando o assunto é educação, o buraco é mais embaixo. Primeiro, porque, bom, há TCCs, monografias, teses, partindo do seio das instituições que se ocupam da educação, cuja principal motivação é validar o hobby. Não estou dizendo que são todos, mas vocês não podem dizer que não há nenhum, certo? Ainda que fosse nenhum, os problemas que o entorno causa são inegáveis. Exemplo:
Léderon escreveu:GarotoVaca escreveu:http://www.ies.ufscar.br/aulacomrpg/
Alguém ja viu esse site?
O tipo de atividade que esta ali parece ser interessante pra vocês?
Eu to com um pé atrás.
... Leonardo Antônio de Andrade e Rogério de Mello Godoy são os autores do OPERA.
Até que ponto isso é legítima preocupação com a educação e até que ponto é validação do hobby? Mais: até que ponto é legítima preocupação com educação e até que ponto é tentativa de abrir um novo nicho pro mercado das editoras de RPG? (e antes que alguém venha me chamar de comunista, gritar "mas o que é que você tem contra o mercado, blablablá", deixo claro: o problema não é a existência de um mercado pra lidar com as impressões de material de rpg voltado pra educação. O problema é forçar a barra pra criar um que talvez não seja tão necessário assim, o que me leva ao segundo (ou terceiro? perdi as contas) ponto:)
Outro problema que eu identifico neste tipo de discussão, em que o RPG é oferecido como panaceia para os males da educação, é que se costuma partir da premissa que diz que os problemas da educação no país são de caráter puramente didático e metodológico, o que é falso. E eu já vi RPGista/jornalista/membro deste fórum escrevendo sobre isso em artigo de jornal, como se o grande problema da educação fossem professores resistentes a novos métodos de ensino (os há, e aos montes, mas isso é o de menos). E, no fim das contas, acho que esse tipo de discussão me frusta justamente por essas coisas (quem acompanhou minha participação no off-topic sobre religião já deve ter entendido): a galera já entra na voadora, escolhe um lado, e ignora que há outros fatores, maiores, envolvidos. Neste caso, não há novas metodologias que dêem conta do buraco no casco do barco.