A Vila das Luas

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A Vila das Luas

Mensagempor Léderon em 26 Mar 2009, 22:06

A Vila das Luas

I. Da lenda

— Por ter minha dama assim proposto, até lá eu fui e voltei com vida. – disse o homem.
A condessa o olhou de cima a baixo.
— Pois então me diga o que tu viste na Vila das Luas, bardo, se é que tal lugar realmente existe e, em verdade, tu não estavas em delírios no absinto de tua casa.
— Confirmo e juro pela minha sombra, ó dama, que no criso da lua deste ano realmente pisei nas Terras de Lá, e na Vila das Luas estive; aquele lugar encantado o qual dizem haver fortuna e beleza sem igual.

II. Do Criso

— Ora – continuou o bardo –, estava eu na estrada para Daré, na noite do primeiro dia do mês, quando vi que a lua se perdeu na noite e o criso se formou. Meu cavalo relinchou e me derrubou, mas eu sabia que se tentasse seguir o animal, perderia a estrada para a tal Vila. Continuei, co’as minhas próprias pernas, até chegar numa encruzilhada. Ali dei os três passos pra frente e fechei os olhos, como mandam; quando dei por mim, estava do lado de Lá.
— E como era, homem? – perguntou a condessa, curiosa.
— Nem todas as palavras do mundo poderiam descrever tal fantasia, minha senhora. Depois de abrir os olhos, vi uma estradinha de terra batida, e segui por ela. Estranhei a noite clara, e pensei que já tinha chegado a alvorada, quando vi que no céu não tinha criso, e que a lua não era mais a mesma ou, se era, havia se tornado três.
— Três?
— Sim, dama. O céu das Terras de Lá tem, pois, três luas, e quando aqui tem criso, lá também, só que em vez da escuridão, o que se vê é claridade como se a lua cheia tivesse inchado e virado um sol branco.

III. Do Muro Branco

— A partir de um certo ponto, chegando na cidade, a estradinha de terra começa a ser margeada por pedrinhas brancas, do tamanho de um punho fechado. Todas elas parecem refletir a luz do céu, como um rio reflete a luz da luz. As pedrinhas seguem até o portão da cidade, e o lugar é todo branco. A entrada é um arco aberto, sem porta alguma, ladeada por muros que dão muito bem dois homens de altura. O muro branco segue para os dois lados até onde a vista alcança mas, por falta de tempo naquele lugar, não pude segui-lo e muito menos contorná-lo.
— Pois eu acho que estavas é com medo, homem. – a nobre o provocou.
— Medo? Pois medo eu tive depois, e quase me borrei todo, quando de trás das colunas do portal surgiram dois homens, usando armaduras tão brancas quanto os tijolos da muralha. “Alto lá!”, eles disseram, e me meteram entre eles, me levando pelas ruas da vilinha até algum lugar.
A condessa, que fingia desinteresse, não conseguia se conter:
— E como era a vila? E as pessoas?
— Pois já chego lá. Como ia dizendo, os guardas usavam armaduras brancas, e me apercebi que tudo naquele lugar é branco como a lua. Roupas, tijolinhos, até as árvores de dentro das muralhas eram brancas, e tinham folhas prateadas!

IV. Do Povo da Vila

— Devo dizer que muito pouca gente habita aquele lugar. Se vi mais de sessenta, digo que posso estar mentindo. De duas crianças sei que me lembro bem, pois só haviam aquelas duas, me olhando com olhões assustados; o resto eram homens e mulheres velhos, mais meia dúzia de guardas. Mais tarde fiquei sabendo que levavam a vida com pequenas coisas; cuidando de suas casas brancas, confeccionando roupas, conversando e brincando. Raramente tinham visitantes de Cá, e quando isto acontecia, a pessoa era sempre levada ao centro dali. Evitavam falar comigo depois, e mesmo naquele momento, estavam todos quietos; não falavam nada enquanto os guardas abriam caminho até um prédio alto – em verdade, a única construção do lugar que tinha um andar; todo arredondado e com desenhos detalhados nos batentes das portas e das janelas. Ficava em frente a uma pracinha com um chafariz.
— Um chafariz, numa vila? – a condessa levantou uma sobrancelha – Mal temos isso em nossas cidades grandes!
— Pois eu digo que vi com esses olhos que a terra há de comer. Um chafariz, e ainda com estátuas! Três mulheres, co’as ancas encostadas, cada uma olhando para um lado da praça enquanto jorrava água das mãos. Pareciam sorrir para quem quisesse.
A mulher suspirou, contrariada.
— E eram brancas?
— Sim, a pedra da qual eram feitas era branca tal como os tijolos do prédio ao qual me levaram. Ora, voltando a falar dele, digo que era muito bonito por dentro; cheio de tapetes coloridos, bordados muitas vezes co’as três mulheres que vi na praça.
— E o que fizeram contigo no prédio?
— Pois me levaram a uma mulher, uma donzela. E ela parecia ter nos olhos o brilho dum veio d’água correndo no meio da noite; tinha o cabelo liso e negro como carvão, coberto por um lenço branco cheio de babados. No peito carregava um pingente que lembrava o desenho das três luas no céu, que eu já lhe disse como são.

V. Da Origem da Vila

— E quem era ela, andarilho? A senhora da Vila?
— Pois sim. Ela me disse numa linda voz; levava a vila consigo onde quer que fosse, e esta era mantida pela sua própria vontade. Sabia que eu era um viajante de Cá e me contou tudo. O povo vivia da luz das luas de lá; não comem nem bebem nada durante toda a vida. Também não nascem e não morrem; apenas aparecem de um dia para o outro e lá passam a ter uma nova vida.
— Que absurdo. Ninguém brota do chão!
— Pois concordo com vossa senhoria. Para mim, aquele lugar deve ser o mundo dos mortos, e para aquela vila vão os que merecem tal caminho após o fim da vida.
— E pareciam mortas as pessoas, para tu pensares isso?
— Não pareciam; muito menos a Senhora, a qual tem uma beleza incomparável tanto Cá quanto Lá. Mas veja só, ela me falou de um rio, o qual não pude ver, pois disse que é secreto. Tal rio fica além dos terrenos atrás da praça e daquele prédio, e é em tal curso d’água que aparecem as pessoas. Também me disse ela que, com o passar do tempo, muitas pessoas chegaram e poucas se foram, e a luz das luas de lá já não era mais suficiente para alimentar a todos eles. Por isso, pelos encantamentos da Senhora, a vila cai em nossa terra em toda noite de criso, e da nossa própria lua eles pegam luz para se manterem.
— E o que fazem com essa luz? Como se alimentam de luz, por Deus?
— Tal procedimento é fantástico, senhora. Vi com meus próprios olhos. No topo do prédio da Senhora há um instrumento semelhante a um moinho dos nossos, só que apontado para o céu. Ele gira lentamente, e das pás dessa máquina escorre um líquido prateado que se forma aos poucos. Duas moças e um rapaz, munidos de jarros de barro branco, carregam o líquido para o chafariz da praça, sempre que as luas se afastam. E uma coisa também me esqueci de dizer!

VI. As Terras de Lá

— E por que demoras? Fale logo.
— Ora, não sei por quanto tempo fiquei na Vila das Luas. Lá se perde a nossa noção das horas, pois não amanhece nunca. Não há sol nem nuvens; apenas as três luas e as estrelas, que são diferentes das de Cá. Continuei minha conversa com a Senhora, e ela me levou para os lados d’uma mata (que fica à direita de quem entra pelo portão); no caminho pude perceber a brisa fresca que sopra naquelas terras, sempre na direção da vila. Olhando para trás por um momento, tive a impressão de ter visto um risco prateado no horizonte, que imagino quer era o Rio Secreto. Enfim, andando pela floresta, lá ela me mostrou várias plantas e arbustos que são como os daqui, mas com os troncos e galhos brancos, enquanto as folhas são prateadas, como já lhe falei.
Dizendo isso, o homem fez uma reverência à condessa, tirando de um bolso interno do camisão um fino galho branco como talco e o entregando a ela.
— Mas é magnífico! – disse a mulher, examinando mais de perto e abrindo a boca de espanto – Isso é feito de... prata?
— E quem melhor para me dizer do que é feito tal galho que uma nobre que vive cercada de jóias? Pois não é o que te dei, um galho da mais pura prata? Senhora, a Vila das Luas é um lugar belo e amável, calmo e cálido, e a luz que brilha nos olhos das pessoas de lá é de uma pureza infinita. Ainda assim, têm eles roupas e casas feitas de prata, e nunca se aproveitam de tal coisa! Talvez eu esteja enganado ao dizer que o lugar seja uma terra dos mortos e seja, em verdade, o paraíso que dizem, mas de uma coisa tenho certeza: de todas as terras que vi até hoje, é a indiscutivelmente mais rica e pura, e assim creio que deva permanecer por muito tempo.
— Mas não seria nem mesmo possível invadir aquele lugar em busca de riquezas, meu caro. A menos que se juntasse um batalhão de incrédulos e os enviasse nos crisos, mas, ainda assim, creio que prefeririam ficar lá do que voltar para as terras perdidas daqui. O que te fez voltar, bardo?
— Mas era nisso mesmo que eu estava a chegar, madame. O problema da Vila da Senhora é que lá só podem viver os triluenses.
— Triluenses?
— Sim, é assim que se chamam. A crença deles e da Senhora é de que as Três Luas são suas criadoras, tal como há muito tempo achávamos que o Sol era nosso deus e criador. Não sei se realmente não conhecem o motivo, ou se me esconderam a explicação, mas me disseram que, se alguém ficar nas Terras de Lá por toda a fase de uma lua, nunca mais pode voltar para as Terras de Cá e, se voltar antes do tempo, nunca mais pode voltar para a Vila das Luas.
— Quer dizer que quem vai uma vez, estando de volta aqui, nunca mais pode voltar para lá?
— Foi isso que me disseram. Graças a esse motivo, me considero um sortudo só por ter visto os olhos e ouvido a voz da Senhora da Vila das Luas. O lugar é a paz que eu procurava para meu espírito, e sinto que meu coração anseia por pisar naquelas terras todos os dias que acordo. Talvez minha crença seja certa e, quando morrer, eu possa atravessar aquele rio e ver a terra prateada mais uma vez, então eternamente.



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A Vila das Luas

Mensagempor Madrüga em 26 Mar 2009, 22:59

Foi o que eu falei no comentário da avaliação: tem um gosto de "já vi", mas é uma coisa muito bela.

Você quer expandir isso mais para o lado do RPG ou mais para o lado do conto? Acho que vale perguntar antes de tecer mais comentários.
Cigano, a palavra é FLUFF. FLUFF. Repita comigo. FLUFF

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A Vila das Luas

Mensagempor Léderon em 19 Abr 2009, 13:57

Er. Desculpe a demora pra responder. = =

Acho que no momento eu vou querer expandir mais a coisa como vila, pra jogo, mesmo. Sei lá, desdobramentos, relações com cenários, aparições em lugares diferentes, mitos relacionados.
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