A forma do Poder

Confira os contos enviados para nosso concurso.

Moderadores: Elara, Lady Draconnasti, Dahak, Moderadores

A forma do Poder

Mensagempor Bahamute em 16 Abr 2009, 21:54

A forma do Poder

Peguei me olhando pro espelho mais uma vez.
A escova de cabelo estava em minha mão. Segurava-a com afinco, como se aquilo fosse meu ultimo porto seguro. Queria poder olhar-te uma vez mais. Sentir o cheiro de teus cabelos e abraçar-te.

Foi tarde, quando percebi, tudo a minha volta estava ruindo. Mesmo eu, com todo o poder que foi me dado, com todo o fardo que vim carregando e com toda esperança depositada, deixei-me falhar. Melhor, permiti-me falhar.

Eu não queria, eu não podia, eu não deveria. Mas, como humano que sou, apesar de tamanho poder, estou fadado ao fracasso. Não pude proteger-te, não pude proteger este mundo, e nunca mais poderei.

Só me restou o lamento, as lagrimas e as lembranças.
Eu sei que você não vai voltar. Sei que, depois do que fiz, nunca mais ninguém vai voltar. Só queria poder dizer, pelo menos a ti, mais uma vez, que te amo.

Queria poder, mais uma vez, tentar defender este mundo, fazer a diferença e jus ao poder que me foi dado.

Com minhas mãos, com minha alma e meu fôlego. Queria poder ter uma segunda chance, para mostrar que nunca mais falharei.

Mentira.

Tento enganar a mim mesmo, pois eu, melhor do que ninguém, sei que vou falhar. Falhei como ser humano. Falhei como herói, falhei como teu protetor.

Agora, diante deste espelho trincado, olho a figura patética que sou. Queria poder, ao menos ter força para destruí-lo. Assim, nunca mais veria a face inútil que preenche-o.

Restou me apenas um mundo inerte. Vazio como minha alma, como meu ser, como tudo o que eu já representei.

Ando agora por um vale de sombras, trevas e pesadelos. A única certeza que tenho, é que estou fadado a solidão.

Desperdicei minha vida. Desperdicei meu tempo. Desperdicei meu poder.

Talvez ainda haja combustível em mim para procurar vida em outros cosmos. Mas, aonde quer que eu vá, eu levarei o caos e a destruição. Irei amar mais uma vez, irei tentar proteger mais uma vez. Falharei mais uma vez.

Então pra que perder tempo? Pra que levar essa carcaça, que hoje está mais morta do que viva, a um outro mundo? Pra que encher de falsas esperanças corações inocentes?

Não há em mim um prazer sádico, em destruir virtudes. Eu tento ser melhor, tento dar tudo de mim, mas o fracasso é quem está com o braço sobre meu ombro, olhando para minha face e rindo de mim. Zombando de mim e mostrando que realmente manda.

Acredito que, a maior dádiva que eu possa dar a esse mundo, é o confinamento, nesse lugar que eu falhei em proteger.


Lair José Mazzarioli do Nascimento
Aquele abraço!
Avatar do usuário
Bahamute
Coordenador do Cenário Futurista da Spell
 
Mensagens: 2848
Registrado em: 26 Ago 2007, 00:25
Localização: São Paulo - SP -

Voltar para Concurso de Contos - 2009

Quem está online

Usuários navegando neste fórum: Nenhum usuário registrado e 1 visitante

cron