Simples, mas feliz

Confira os contos enviados para nosso concurso.

Moderadores: Elara, Lady Draconnasti, Dahak, Moderadores

Simples, mas feliz

Mensagempor douglasbaiense em 19 Abr 2009, 11:07

Simples, mas feliz

Era uma bela noite de lua cheia.

Tom era um homem de pele bronzeada por sua constante exposição ao sol, tinha um corpo forte para um homem de tantos outonos. Ele trabalhou duro na fazenda este dia, o que o havia deixado com os músculos doloridos. Já em seus trajes apropriados, o homem de meia-idade iniciava suas orações noturnas para finalmente obter o tão merecido repouso.

Ao se deitar, Tom pensou ter ouvido algum barulho, estava em dúvida se sua mente lhe pregava peças e, por isso, interrompeu as preces por alguns momentos. Concentrou-se no silêncio da noite e no escuro que o rodeava. Por um tempo que não soube determinar, tudo que ouviu foram as batidas graves do próprio coração.

Um rangido alto de madeira vindo de algum lugar de sua casa fez uma descarga de adrenalina percorrer seu corpo. “Tem alguém aqui”, sussurrou ofegante. Tentava controlar seu medo e se lançava ao escuro buscando sua velha arma, uma besta enferrujada. Ao pega-la, tentou silenciosamente deslizar o virote empoeirado em seu canalete e percebeu que tremia.

Amaldiçoando as próprias mãos, carregou o canalete, logo após tencionou a corda que lançaria o projétil e a encaixou em seu gancho na parte posterior da arma, onde aguardaria até a pressão do gatilho.

Empunhando sua besta, ele deixou o quarto sorrateiramente. A luz pálida da lua adentrava a casa por suas janelas e entre as frestas das tábuas, criando uma penumbra sinistra.

Tom se esgueirava pelos corredores de forma silenciosa. O suor lhe escorria pelo rosto atrapalhando sua concentração e aumentando seu nervosismo. Tinha certeza de que havia algo em sua cozinha. O barulho de coisas sendo reviradas era tão palpável agora quanto o medo que sentia.

Parando em frente à porta da cozinha, Tom respirou fundo tentando manter algum controle sobre sua mira. Em sua mente pediu aos deuses que o protegessem e, criando coragem, adentrou o recinto em busca do invasor. Imediatamente ao entrar deparou-se com a criatura. A sombra de um corpo enorme vinha em sua direção, devia ter cerca de dois metros de altura e suas formas exibiam braços protuberantes que carregavam um grande saco.

Tom se assustou com o tamanho do vulto, o que o fez sentir como se seu corpo vacilasse por uma eternidade. Um movimento brusco do invasor acordou o fazendeiro de seu torpor momentâneo, fazendo-o puxar o gatilho.

A armação de madeira da besta estalou e sua corda tencionada produziu uma nota grave enquanto arremessava o virote a uma velocidade incalculável contra o peito do saqueador.

Tom acertou em cheio! O projétil penetrou na carne de seu alvo com o barulho de uma cutilada, fazendo com que a grande sombra cambaleasse dois passos para trás e se ajoelhasse.

O fazendeiro mal podia acreditar em seus olhos. Nada poderia segurar a pressão de um virote de besta no peito a tão pouca distância sem ser arremessado ao chão. “É impossível!”, gritou ele à criatura enquanto ela se erguia novamente do chão.

Ao tentar dar um passo a criatura cambaleou, aparentemente com dores horríveis, mas foi então que algo aconteceu. Algo mudou dentro dela. A dor que o invasor sentia o fez liberar um sentimento de fúria primitivo quase incontrolável, um urro monstruoso foi libertado, um urro tão forte que fez o corpo de Tom estremecer e involuntariamente soltar a arma.

A criatura não parecia sentir mais dores. Ergueu o pesado saco até o ombro esquerdo e, com um movimento rápido, tomou um grande impulso com suas pernas longas projetando o ombro direito na direção de Tom. Este recebeu a carga como um coice de uma mula zangada. O movimento do corpo de Tom no ar só parou quando suas costas chocaram-se pesadamente contra a parede, fazendo-o cair inconsciente.

O ladrão nem mesmo olhou para trás, prosseguiu em sua corrida frenética pulando através da primeira janela que encontrou, caiu aos trambolhões na relva macia e, levantando-se, voltou a correr.

Após algum tempo, a fúria de Jaú Terremoto desapareceu. Ele estava cansado e com dor, mas estava feliz. Feliz porque não precisaria se preocupar com comida por bastante tempo. Feliz porque finalmente poderia se dedicar ao manejo de Tinhosa, sua espada larga. Era aquilo o que mais gostava na vida.
Avatar do usuário
douglasbaiense
 
Mensagens: 13
Registrado em: 13 Jun 2008, 13:05

Voltar para Concurso de Contos - 2009

Quem está online

Usuários navegando neste fórum: Nenhum usuário registrado e 2 visitantes

cron