[Sociedade] O RPG a 15 anos atrás

Discussão sobre aspectos culturais, religiosos, comportamentais e educacionais do RPG, a popularização do jogo e o combate ao preconceito.

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Mensagempor _Virtual_Adept_ em 04 Dez 2008, 00:09

O Brasil produziu coisas interessantes?
Sem dúvidas que sim. Temos o sistema Opera, um sistema com muito potencial de concorrência com sistemas fortes (faltou investimento) e RPGQuest, que foi uma das melhores idéias nacionais nos últimos tempos. E temos, sim, capacidade de criar cenários interessantes, como Tagmar ou 1884.

O problema é: só investimos em lixo. Não queremos saber de material original, material novo. Queremos uma reciclagem de um vômito produzido por outras culturas. Pegamos o que elas têm de mais clichê (Shonen Jump, cenários-medievais-padrão, cenários-de-horror-padrão) e construímos nossa "identidade" com base nisso.

Por quê?
O Brasil não tem identidade cultural. Não temos uma filosofia própria. Não temos um sistema sociológico próprio. Tudo o que temos é pegado e adaptado de outros países. Somos, por mais que não gostemos disso, colonizados culturalmente.

Como resolver isso? Só se pudéssemos mudar a mentalidade de vários jogadores, que ainda têm a impressão de que "jogadores de Vampiro usam preto", "monge eh apelaum", "personagem tem que ser poderoso", etc.
Os RPGistas brasileiros GOSTAM do clichê. Estão acomodados. Gostam da repetição, da reciclagem, de ver o que já foi visto antes, e isso implica em cenários copiados dos cenários estrangeiros. Mudar essa mentalidade não seria fácil.
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Mensagempor juma em 04 Dez 2008, 08:44

Considerando que o único contato com RPGistas que eu tenho são:

- As pessoas do meu grupo ou que já jogaram comigo
- Esse fórum

o que eu tenho a dizer é: Sim, essa é a impressão que eu tenho, mas na verdade nunca vi um. Será que esses jogadores de anime não são como ninjas? Todo mundo sabe que existe e ninguém nunca viu? :b
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Mensagempor Allefcapt em 04 Dez 2008, 08:49

Olá a todos,

VIRTUAL,
Você acha que se fosse criado um conjunto de regras diferentes, emoldurados por cenários nacionais e criaturas locais daria certo?

UM RPG com REGRAS NOVAS + AMAZôNIA + CRIATURAS LOCAIS (Curupira, Risadeira, Boto, Alamoa, Papa-figo) = sucesso?

Um abraço,
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Mensagempor kimble em 04 Dez 2008, 09:41

Eu acho que o ponto não é nem "Amazônia + criaturas locais", porque isso já teve (Desafio dos Bandeirantes, aquele mini-gurps, etc.). É mais ou menos como acontece no cinema nacional. Ou você tem filmes sobre o nordeste e o sertão ou você tem filmes sobre Rio/São Paulo invariavelmente envolvendo as favelas ou criminosos. Não tem muito espaço para outras coisas. Então se vai repetindo a mesma fórmula a exaustão.
Seria tentar criar mais coisas, variar um pouco mais.
E concordo com o que o VA falou. Brasil sofre de uma falta de material próprio. O pensamento de colônia ainda é forte. Não só a questão de acreditar que tudo que veio de fora é melhor, mas quando se tenta criar alguma coisa se copia algo de fora (exemplos sobram no rpg nacional).
Material que disponibilizei no 4shared (tudo criação minha e/ou gratuito) pros jogadores das minhas campanhas. Inclui house rules e erratas do Exalted:
[Link]http://www.4shared.com/dir/10183502/4d808442/sharing.html[/Link]
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Mensagempor _Virtual_Adept_ em 04 Dez 2008, 10:42

Não é questão de usarmos temáticas amazônicas ou indígenas. É termos identidade.
Seriados americanos, por exemplo, se focam em relacionamentos humanos. Quase sempre.
Mesmo em séries sobre super-heróis, como Heroes ou Smallville, ou comédias, como Friends.

Mangás japoneses se focam nos super-poderes dos personagens e em mensagens filosóficas toscas. No caso da Shonen Jump, se focam no "poder da amizade".

O que nós temos? Não temos foco nenhum. O mais próximo que temos disso são peitões e bundas, o que não nos ajuda a criar cenários de qualidade.

Falta-nos foco e identidade.
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Mensagempor Madrüga em 04 Dez 2008, 11:13

Mas, nesse caso, qual a solução, VA? É difícil "criarmos" do nada um senso, um padrão. Isso é uma dificuldade do cenário que estou desenvolvendo aqui na Spell, por exemplo; até pela falta de feedback, às vezes temo cair em muitos lugares-comuns.
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Mensagempor Lanzi em 04 Dez 2008, 14:02

Acho que é porque a origem do RPG e suas temáticas originais estão ainda muito distantes da cultura brasileira. Claro que depois de tanto tempo seria natural que tivéssemos uma aproximação, uma adaptação dos padrões de cenários de RPG internacional aos padrões culturais brasileiros. Mas isso é impossível enquanto o brasileiro renega sua cultura e acha ela "tosca" se comparada com culturas nórdicas, gregas e o escambal a quatro.
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Mensagempor Youkai X em 04 Dez 2008, 14:44

Madrüga, tás falando do Terras Sagradas? Pensei que ele fosse focado na religiosidade dos povos desse cenário e em suas diferenças culturais (seria legal ter a questão de tabus e choque cultural mais forte.

Quanto a RPGs nacionais o que incomoda, na minha opinião, é o ar genérico, seja em suas ambientações ou regras. O ambiente (mesmo pegando um tema não muito usado, como piratas, vikings ou samurais), sempre soa algo genérico e meio sem sal, que apela ou a ilustrações animescas deformadas pela bomba que usam em comics ou em traços old school demais e sisudos, ultrapassados, além de algo muito genérico como um todo em termos de grupos/classes/raças/clãs/tribos/reinos/territorios. E as regras geralmente soam ou simples demais a ponto de serem simplórias, mal exploradas e más interpretações e usos de regras de outros sistemas (cenários feitos para D&D tinham umas regras bem toscas, desequilibradas ou sem o sal e o algo a mais que as empresas boas do ramo sabem fazer) o entào apenas genéricas (não sei precisar o caso do Opera, que me parece um módulo básico em que voc6e tem só a base e o resto, o específico, tem que ser tudo por conta do mestre (não sei como é o caso dos cenários próprios, como aquele de Western ou de Segunda Guerra Mundial)

Qual seria um exemplo de ambientação a ser explorada e criada que definisse uma identidade própria aos RPGs brasileiros? Aliás, ficar encucando em padronizar uma identidade não é lá uma boa idéia. isso virá naturalmente com o tempo, o importante é aproveitar o vazio e semear novas possibilidades de cenários e ambientações (sejam cenários para Opera, D&D, criar novos sistemas [de preferência sistemas simples e indies, bem mais temáticos])

VA, ainda vais narrar RPG Quest algum dia?
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Mensagempor GarotoVaca em 04 Dez 2008, 16:17

Aluriel de Laurants escreveu:Culpa do trio acredito eu, que porque o grande exmplo que tinhamos de rpg nacional fosse Tormenta que é uma corrupção de animês.


Eu acredito que isso não seja tão verdade assim. Pra mim, o que o trio fez, foi se aproveitar da ascensão do anime/mangá no Brasil e produzir material em cima disso. Na região onde eu moro, Tormenta não é nem de longe o cenário mais jogado. Vampiro e D&D sempre vencem nesse ponto. Mas é nas mesas que você sente a influência desses produtos para massas japoneses nos personagens dos jogadores e nas aventuras dos mestres. A referência principal dos jogadores vem dai e fica impossível pra um mestre dar outro foco sem essa "corrupção". Não sou nenhum purista, mas acho muito chato jogar D&d com personagens querendo disparar bolas de fogo pelo traseiro, atacar majestosamente com duas espadas largas e ter um poder oculto/descendência dracônica-saya-jin/whatever.

Acho que a influência maior do trio foi com a visão de jogo que eles passaram na DB, com suas concepções de jogos, principalmente sobre conduta do mestre. A anime já tava ai faz tempo.
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Mensagempor Smaug em 04 Dez 2008, 16:39

O que eu reparei eh que os rpgs estrangeiros usam exemplos da literatura e cinema como meio de definir sua "personalidade", assim vc tem rpgs de horror-gótico para os fãs de anne-rice e cia, tem os rpgs de fantasia para so que gostam de historias de cavaleiros, dragõese muitos, muitos rpgs baseados em séries e filmes (vide, star wars, battlestar galactica, senhor dos anéis, babilon 5).
OU seja, eles pegam os livros e filmes que rodam por lah, que o publico gosta e usam eles para definir as ambientações. Fazer o mesmo no Brasil seria pegar livros da literatura (Macunaima talvez?) e seriados (guerra e paz, sai de baixo, trapalhões) e criar um cenário com esse clima. O que mostraria a forte tendencia a rpgs de comédia.
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Mensagempor _Virtual_Adept_ em 04 Dez 2008, 16:49

Mas, nesse caso, qual a solução, VA? É difícil "criarmos" do nada um senso, um padrão. Isso é uma dificuldade do cenário que estou desenvolvendo aqui na Spell, por exemplo; até pela falta de feedback, às vezes temo cair em muitos lugares-comuns.

Os dois únicos "temas" que eu vejo na cultura brasileira são na literatura e nas novelas.
Na literatura nossos melhores escritores são do período realista. Mesmo os que não são desse período adotam uma narrativa realista.

Nas novelas vemos... romancismo. Para mim é algo muito ultrapassado para continuar existindo, mas fazer o quê?

Não saberia apontar uma solução para nosso problema. É um problema muito maior que o RPG, invade até mesmo o caráter filosófico e sociológico.
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Mensagempor Smaug em 04 Dez 2008, 16:57

Fala sério, um rpg sobre o seriado Guerra e Paz ia ficar legal vai...ou na novela Olho por Olhop da Globo? Alguem lembra? Aquela que tinha os caras com poderes psiquicos!!
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Mensagempor Madrüga em 04 Dez 2008, 21:03

_Virtual_Adept_ escreveu:
Mas, nesse caso, qual a solução, VA? É difícil "criarmos" do nada um senso, um padrão. Isso é uma dificuldade do cenário que estou desenvolvendo aqui na Spell, por exemplo; até pela falta de feedback, às vezes temo cair em muitos lugares-comuns.

Os dois únicos "temas" que eu vejo na cultura brasileira são na literatura e nas novelas.
Na literatura nossos melhores escritores são do período realista. Mesmo os que não são desse período adotam uma narrativa realista.


Já adianto que um RPG baseado no Rio de Janeiro da época de Machado de Assis seria chatíssimo. E não é porque seja brasileiro; um RPG com uma temática de naturalismo francês também seria chato. Jogamos com uma certa licença da realidade, e nosso melhor produto é esse.

Aliás, pena que ninguém mais lê Monteiro Lobato. Dava para produzir, rindo, um RPG basicão com temática do sítio do Pica-Pau Amarelo e o sistema S³.
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Mensagempor Youkai X em 04 Dez 2008, 21:07

Boa, Madrüga XD . Seria um RPG voltado a um público mais infantil? Como funcionaria para que fosse mais simples e fácil de ser entendido por esse público alvo e que nào se entediassem? Será que ele deveria ter um quê de jogos como Imagem & Ação ou banco Imobiliário? Etc e etc
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Mensagempor _Virtual_Adept_ em 04 Dez 2008, 21:11

Já adianto que um RPG baseado no Rio de Janeiro da época de Machado de Assis seria chatíssimo. E não é porque seja brasileiro; um RPG com uma temática de naturalismo francês também seria chato. Jogamos com uma certa licença da realidade, e nosso melhor produto é esse.

Foram apenas exemplos da identidade brasileira, e como não temos nenhum tipo de identidade quando se trata de RPG.

Na minha opinião, o que mais se encaixa na proposta brasileira são cenários de comédia, como Toon ou Paranóia.
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