Hurazäm estava ainda tenso devido a cólera que fervia em seu sangue. Seu malho ensanguentado e as feridas em seu corpo denunciavam o intenso combate que ele, solitário, travou. Sua mente pairava enquanto a dor que as perfurações das lanças envenenadas o causaram se dissipava.
Dois kaamurs armados haviam conseguido passar despercebidos pela fronteira vigiada de Avkhass e seguiam em direção a um vilarejo maubuco das proximidades. Hurazäm os avistara ao longe, enquanto percorria aquela trilha em sua vigilia. O maubuco perseguiu silenciosamente aqueles invasores por um longo caminho, por meio às pequenas matas e charcos, até que tivesse certeza de que eles não iriam se virar e seguir de volta para sua maldita floresta.
A lua nova brilhava tímida, enquanto a silhueta do longo anel desenhava o céu pouco abaixo dela e algumas nuvens ocultavam as estrelas. A região sombria de árvores e mato altos permitia que Hurazäm os seguisse sem se denunciar, embora os setidos mais aguçados daquelas criaturas as fizessem parar por duas vezes, desconfiadas de sua presença. Odaranos são conhecidos pela sua grande furtividade, sendo difícil conseguir localizá-los numa noite escura enquanto trilham os arbustos de sua terra.
Hurazäm segurou seu malho com firmeza, os kaamurs não retornavam e as chamas das fogueiras do vilarejo já eram visíveis à distância. Ele sabia que confrontar sozinho duas daquelas criaturas era quase um suicídio, mas não havia como ele retornar para buscar reforços. Seu joelho se apoiava no chão, enquanto ele esfregava um pouco de terra nas mãos e no rosto, simbolizando seu pedido de força e resistência a sua estrela regente. A ira de confrontos passados se misturava a seu sangue e o dava maior certeza de que esta era a hora de atacar.
Num salto, e bradando em fúria, ele avançou contra os kaamurs, os tomando de surpresa. Com o malho acima de sua cabeça ele desferiu um golpe com toda a força que poderia contra o primeiro. Ele tinha que igualar aquela luta o mais rápido possível. A criatura atingida emitiu um rugido tão intenso, que o próprio som do impacto foi abafado. Ela desfaleceu em seguinda, não estando claro se havia desmaiado ou morrido.
Mesmo tomado pela surpresa do bárbaro, a agilidade dos kaamurs jamais deve ser menosprezada. A segunda criatura, visivelmente maior e mais forte, retrucou a investida e desferiu uma estocada com sua lança que atravessou a perna do odarano. O bárbaro contém sua investida e recua um passo a fim de se posicionar, tentando se proteger enquanto pretege a perna ferida. O kaamur tenta um novo golpe, mas Hurazam se esquiva para a posição que ele planejara desde o início. Com um brado de batalha ele entra em um estado frenético de combate, embora não fosse perceptível, o kaamur naquele momento pensou em evadir.
Os gritos e barulhos do combate despertou a atenção de outros aldeões não muito longe dali, que correram até o vilarejo para chamar por ajuda quando perceberam que haviam invasores em suas terras. Não demorou muito para que outros três odaranos montados partissem em direção ao confronto.
Diferente da maioria do bárbaros de seu clã, Hurazäm não concentrou seu treinamento baseando-se na força e resistência. Ele priorizou sua agilidade, visto que a união entre seu forte pai com uma nobre ciriana não o dotava da mesma estrutura física de um maubuco puro. Por outro lado ele se tornou conhecido por sua facilidade de se defender e atacar velozmente com todas as armas com a quais treinou. Naquele momento seu malho tornava-se uma extensão de seu próprio corpo.
Hurazäm começou a desferir sequências de golpes que obrigavam o kaamur mais a se defender do que atacar. Embora os golpes não fossem precisos, pois faltava-lhe melhor apoio da perna ferida, ele começou a dominar aquele combate e jamais havia pensado em conseguir realmente derrotar os kaamurs. Com técnica e força, finalmente Hurazäm mira e atinge o braço armado do invasor, que deixa sua lança cair no chão. No mesmo instante, brandindo seu malho para o golpe de misericórdia, Hurazäm sente uma intensa e latejante dor em seu abdomen.
O primeiro kaamur havia despertado e não vacilou ao atacar furtivamente seu agressor. Por um instante Hurazäm fica sem forças, o que o permite ser atingido novamente, em suas costas, por uma estocada que o trespassou. O sangue verteu com abundância de ambos os ferimentos e Hurazäm sentiu que o destino o alcançara, mas ele não iria sozinho. Com seu malho preparado ele se vira numa fúria titânica, aproveitando o balanço da arma, e desfere um golpe certeiro e avassalador na cabeça daquele, que fez afundar seu crânio. O segundo kaamur, ao avistar os cavaleiros, tenta fugir, mas é alvejado por flechas até que também tombou.
Hurazam estava ali sentado de joelhos, apoiado por seu malho. Um dos cavaleiros o chama, mas não obtém resposta. Ele desmonta e apenas constata que o espírito do maubuco havia partido de seu corpo para o lar de seus antepassados, para em um dia de necessidade atender ao pedido dos xamãs e retornar com sua fúria.
O dia seguinte apenas misturou o sentimento de perda e perseverança comum aos odaranos.
Estou preparando uma lista com alguns NPC's de Odarân.
Pretendo definir apenas os líderes de cada clã e alguns outras peças chave. No total deve chegar a uns seis.