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Mariposas

MensagemEnviado: 21 Set 2010, 13:38
por Geleiras
"Mas as flores nascidas sobre o asfalto
Dessas ruas, no pó e entre o bulício,
Sem ar, sem luz, sem um sorrir do alto,

Quem têm elas, que assim nos endoidecem,
Têm o que mais as almas apetecem...
Têm o aroma irritante e acre do vício!"
Antero de Quental

Mariposas

Na adolescência urbana uma fulana qualquer nessa turba em efervescência que chamamos de tempos modernos (em um termo completamente retrógado), essa menina complementa a sua existência com a convivência de seus semelhantes. E enfim, a cada instante, mais dessas fulanas emanam das máquinas, de seus computadores pessoais e aparelhos paralelos.
Estar vivo é um anelo para a vida dissolvida desta geração comedora dos detritos d’outras eras e d’outras demandas... A sua existência tem o mesmo propósito irrisório de uma iluminura, fulgurar apenas, como um complemento, bonita e só, porem sozinha esta geração caminha sem contento para um registro arqueológico. Findando aérea e etérea como o nada que complementa a rotina esquecida.
Meninas de petróleo, presas em seus tempos, o óleo que emana de seus corpos tem o sabor da Ferrugem. Tão longe e tão divergente de suas mães, como um filhote convertido em chupim. Suas frontes são diferentes nas dimensões, como uma transviada rota da evolução. São meninas crescidas sob o asfalto, no alto de prédios imensuráveis que as tornam fora da realidade como as infantas débeis presas em seus castelos. Estar vivo é um anelo para esta geração represada.
São fadas que como as mariposas esposam as luzes dos postes, definhando na infecunda sina de sua ilusão. Criando um tapete de estrelas apagadas, respingando a maquilagem de suas asas, numa singela hecatombe. Meninas de asfalto que do alto fulguram um brilho escuro de vinil. Mas elas vivem num anelo de viver, sem diretrizes e mitos para guiá-las dentre todas estas marés de loucura. Mas na adolescência uma fulana qualquer nessa história merencória que chamamos de tempos modernos, ela complementa a sua existência com a absorvência de seus semelhantes. E a cada instante mais dessas fulanas emanam das máquinas... Na trágica e hemorrágica vida de um ciclo vicioso...

As mariposas morrem
nas maquilagens vagas
e nos luares chovem,
e as mariposas morrem
nas solidões, comovem
pela ilusão que apaga
as mariposas, morrem
nas maquilagens vagas.