Sagrada Colina

[Seth]

Sim, pela Bahia que não me sai do pensamento.

Sagrada Colina

Vou, agora, falar, sem dissimular, ou calar,
Sobre a cidade da - pagã! - procissão do mar,
Que viu nascer cidadãos com lendário brio,
Mas onde o céu brigadeiro se torna sombrio,

Aos pés de sua sagrada, majestosa, colina,
Um dantesco teatro a todos domina,
Ao som dos bregas, arrochas e axés da vez,
E, pasmem, Goma de Mascar é Rei!

Oh, mas como decaiu a minha terra natal,
Onde havia uma festa popular, chamada carnaval,
Pois que nela ainda ontem se alegremente cantava
Toda cultura brasileira, da Bossa Nova a Tropicália!

É Mais uma cidade que deixa o povo implorando por pão!
Nas ruas, faróis, avenidas, praças, largos, esquinas,
Que tem por nome o dos grandes homens-anões,
E de Jorge Amado, só as eternas violentadas meninas...

Cidade augusta, nobre senhora, altiva,
Não és, senão agora, Roma Negra,
Paço onde seus filhos se antagonizam,
E, sem passado, se canibalizam,

E ver isso na terra dos – ainda! - doces bárbaros,
Onde o poeta segura com sua férrea mão,
A própria lua, etérea e de rosto velado,
A todos nega qualquer consolo, ou inspiração...

Agora nos resta lamentar pelo que nos espera,
E reinterpretar os versos pungentes de Dorival,
Pois apenas a dor do látego o futuro encerra
Nos pecados desse terrível paraíso estival,


Alguns, desesperados ou esperençados, rezam,
E seus falares, as esferas do céu, atravessam!
Há que ver o poderoso Jesus, ou o alto Oxalá,
Mas haverá quem escute seus lamentos por lá?

Esse “nosso senhor” já morreu, penso que sim,
Pregado na cruz, num delírio temporão,
E por nós, um dia – todos! - pediu perdão,
Pela farsa que existe, anual, no Bonfim...

É a praga final do poeta condoreiro,
Rogada contra nós, seus herdeiros,
Ele que guarda o poderio do tufão
E o liberta, condenando a minha geração...

Esse é o meu verdadeiro e refletido sentimento,
São Salvador, dos meus tempos de tormento,
Em ti vejo espírito caduco, e, no mais, és ingrata...
Que te recusas a enxergar, e repensar, ó cidade-matriarca!

Diante de tudo o que ouvi e disse nesse dia,
Só posso dar uma singela e breve opinião,
De que tu és a Bahia mais Bahia,
Apenas no meu alquebrado coração!


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Seth

[Elara]

Seth,

Fico boba como algumas pessoas são capazes de abstrair tão múltiplos significados em uma obra de complexa densidade e significados. Sem dúvidas, um misto de admiração e desgosto, por uma terra ora berço cultural ora mãe de pobrezas.

Me lembrou uma série de reportagens que estão sendo veiculadas pela Band, sobre os milhões pagos em royalties do petróleo a alguns municípios baianos, que permanecem pobres, inexplicavelmente...

Chero!

[Seth]

Elara, só se for assim. Se não, logo logo eu endoideço.