Numa noite insone, com festa em quatro dos quatro prédios vizinhos:
O Samba
O samba ainda há de nos salvar!
Erguendo-se dos morros e veredas,
Como um imponente e único hino!
Com a pureza e inocência de menino...
Esse mais belo filho do sofrimento,
Da dor e tristeza dos escravos,
Negros, vermelhos e brancos,
E todos os tons do mulato...
Pois donde vem teu nome, Brasil,
Se não de uma palavra que pressagia,
Em vista do amargo viver de cada dia,
Algo real, nem anil nem gentil.
Ele que já se ergueu como denúncia,
Um soluçar triste que traduza,
Como canto de amor e de exaltação,
Os heróis de cada dia, a Maria e o João.
O segredo da sua longevidade,
É o poder de falar a toda as idades,
De se levantar dos morros e mares,
Alcançando todos os lugares.
Tua tarefa maior, meu menino, se avizinha,
Quanto tua fonte morre de cacofônica aridez,
Mas nem que água em pó seja a tua linfa,
Sei que, ao fim, a bossa terá, novamente, sua vez...
A felicidade, como todas, terá um fim,
Mas ao menos dará um samba com beleza,
Com qualquer coisa de saudade e tristeza,
A única dor que serve pra mim...
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Seth