O Pião
Enviado: 19 Mai 2011, 04:06
Preparou cuidadosamente o barbante. Ganhara três piões de presente de aniversário, e ainda estava aprendendo a soltá-los.
- O segredo está em como voce prepara a corda, Tuco - disse seu tio, enrolando a fieira.
- Depois disso, basta jogá-lo enquanto puxa a corda - falou enquanto lançava o objeto no chão.
Aquilo rodou, rodou e rodou. Pedras deslocou, e por buracos passou, sem cair, determinado. Até encontrar uma fenda no chão que impedira o seu caminho e rodopio.
- Quanto menos obstáculos tiver pelo caminho, por mais tempo ele girará. Mas o divertido é vê-lo transpor os obstáculos, e isso depende de como você o preparou e o soltou.
Nisso, Tuco ficou encabulado por ter ganho três deles. Um já bastava, pensava.
- É para você brincar com os seus amigos, Tuco. Basta você e seus amigos soltá-los ao mesmo tempo, fazendo eles se baterem para ver qual gira por mais tempo. Ganha aquele que ficar de pé por mais tempo, ou aquele que fazer o percurso com mais dificuldades pelo caminho.
Com os amigos, foram raras as ocasiões em que os piões dançaram em sincronia, sem um interferir na trajetória do outro, simultaneamente. Os impecilhos sempre interferiam nas suas trajetórias. Os atritos afastavam-nos uns dos outros.
Tuco continuou a brincar com os piões mesmo depois de adulto. A brincadeira? Tornara-se uma filosofia de vida. Rodando até perder a força concedida no início, tudo de acordo com os preparos e desafios, numa dança caótica.
Você pode modificar o terreno, limpá-lo, torná-lo plano... mas isso não deixará a brincadeira mais divertida. Prever a sua trajetória torna-se uma perda de tempo. Apreciá-la basta. Contar para os amigos em como ela foi única. Por causa disso e daquilo que ele fez, e mesmo assim continuou a rodar.
Tuco não sabe até quando o seu pião irá rodar, mas diverte-se com cada dificuldade que ele enfrenta - sem parar. Afinal de contas, não da para saber quando uma fenda surgirá e o parará.
