Visita inesperada

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Visita inesperada

Mensagempor Magyar em 16 Abr 2011, 04:39

Talvez seria a sua pureza. Ou algo no sangue. Estava a cortar os galhos excessivos da moita, que tomara conta de seu jardim. Inicialmente, assustou-se com o movimento existente entre os galhos. Um gato? um rato? Talvez um pássaro? Abaixou-se e tentou identificar o vulto que o fizera parar com a sua tarefa.

Lentamente, um pássaro branco, com pulos tímidos, surgiu em seu caminho. Com um pequeno bico cinzento e penas laranjas e amarelas no topo da cabeça, a calopsita veio em sua direção. Ficou surpreso e um tanto perplexado pela aparição. Quando percebeu, ela já estava em sua mão. Estendeu o dedo e logo ela subiu. Perguntou-se que caminhos ela fizera para ali chegar. Pensou em informar alguém sobre o achado, mas estava admirado demais.

Colocou-a em seu ombro, e logo se pôs a caminho da cozinha em busca de água ou algo para ela comer. Fora algumas gotas de água que bebeu de seu dedo, recusou as migalhas de pão. Só queria a sua companhia. Ela se distraia com a sua orelha e seu cabelo. Ele ria da sensação de ter penas em seu pescoço e das leves bicadas em sua orelha - como se ela tentasse contar a sua história.

Divertiu-se por alguns minutos, até que lembrou que ela deveria estar perdida. Logo divulgou aos amigos o ocorrido, em busca de seu verdadeiro dono. Não poderia mantê-la com ele, sabendo que alguém poderia estar preocupado, a sua procura.

No dia seguinte, sem ter nenhuma notificação sobre a calopsita perdida, não soube o que fazer. Deixaria ela sozinha na casa? Levaria ela para a aula? Deixaria de ir na aula? Estava confuso. Resolveu levá-la na esperança de que o seu dono a visse.

Ao chegar na aula, foi o centro das atenções. Apesar dela preferir o seu ombro, aceitava carinho e interagia com as demais pessoas. Até a professora cedeu alguns minutos para aquele pássaro intrigante. Apesar de tudo, ele sabia que isso só pioraria a hora da partida.

Na hora do almoço, nenhuma notificação ainda. Dessa vez, não permitiram a sua entrada com o pássaro no restaurante, deixando-o novamente num dilema. Como solução, resolveu deixá-la com algumas amigas enquanto almoçaria. No momento em que foi passá-la para as amigas, a calopsita abriu as asas e saiu voando.

Por alguns instantes pensou se não fora um erro tê-la levado para lá. Deveria ter providenciado uma gaiola. Ficaria bem? Depois de refletir, percebeu que tomara a melhor decisão. Ela não tinha dono. Estava lá porque queria, e algum instinto a mandou para outro lugar. Talvez conhecer outras pessoas, contar as suas histórias do jeito dela. Dar cor e brilho para o dia de mais algum estranho que parasse em seu caminho.

Chegando em casa, ele terminou de aparar a moita, para quem sabe mais pássaros lá pousarem.
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Re: Visita inesperada

Mensagempor Heliot em 16 Abr 2011, 14:58

Ficou bem singelo. Parece inspirado em alguma experiência pessoal.

Fiquei confuso por um momento: achei que o protagonista fosse um garotinho por causa do ambiente de escola, mas aí lembrei que ele estava aparando uma moita (criança + tesourão = não rola). Só depois me toquei que podia ser um universitário ou algo assim.

Daria pra falar muita coisa dessa calopsita: talvez uma namorada, uma oportunidade, uma pessoa que morreu. A relação do cara com o passarinho parecia quase amorosa (no sentido de amor entre homem e mulher), mas também me passou pela cabeça, sei lá por que motivo, um pai chorando a morte da filha e tentando se resignar.

Tem um recursozinho interessante logo de cara: "Talvez seria a sua pureza. Ou algo no sangue.". É um discurso indireto livre (que por si só já me agrada. Mas isso sou eu) que, apesar de aparecer no início do conto, funciona como uma tentativa do protagonista explicar o ocorrido (o que só poderia ser feito depois que tudo aconteceu). Você brincou com o tempo. Bacana.

Eu só reclamaria do estilo mesmo. As frases não me parecem legais de se ler. Tem algumas que até rimam:

"Com um pequeno bico cinzento e penas laranjas e amarelas no topo da cabeça, a calopsita veio em sua direção. Ficou surpreso e um tanto perplexado pela aparição. Quando percebeu, ela já estava em sua mão."

Além disso, acho que daria pra enxugar algumas coisas e deixar o estilo mais seco.(O mesmo se aplica a esse comentário XD Odeio quando eu escrevo demais!)

Enfim, antes que meu post fique maior que seu conto, eu paro aqui.

Parabéns!
"Os homens não vivem apenas pela cultura; a grande maioria deles, em toda a história, sempre foi privada da oportunidade de conhecê-la, e os poucos afortunados que puderam vivê-la o podem fazer hoje graças ao trabalho dos outros. Penso que qualquer teoria cultural ou crítica que não se inicie por esse fato isolado de extrema importância, e o tenha sempre presente em suas atividades, provavelmente não terá muito valor"

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Re: Visita inesperada

Mensagempor Magyar em 25 Mai 2011, 06:26

Na verdade, o conto é uma experiência pessoal. Aconteceu com o meu irmão, e acabei escrevendo-o no mesmo dia que ele me contou. Achei algo interessante para escrever sobre.

De fato era apenas uma calopsita, mas achei legal a possibilidade de analogia com outros seres.
Essas rimas acabaram acontecendo sem querer. Talvez algum tipo de mania do meu inconsciente, acredito eu. rsrs

Relendo, realmente seria bom uma enugada no texto. Deixá-lo mais fluído seria o ideal, transformar alguns pontos em vírgulas e coisas do tipo. Fui reler e percebi que ele é meio travado, como um americano tentando driblar um zagueiro. Faltou certa ginga.

Veremos se não reescrevo ele daqui a um tempo. Preciso reparar mais nessas coisas.

Que bom que gostou! Vira e mexe acabo postando mais textos, não deixe de conferí-los!
Inté!
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