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Um Banho...

MensagemEnviado: 14 Abr 2011, 23:43
por Arnok
Atravessou a porta de casa. Colocou as coisas sobre a mesa e seguiu rumo ao quarto. Mudou de idéia, parou no meio do caminho e atirou-se sobre o sofá, deixando a escuridão tomar conta do lugar por alguns segundos. Queria relaxar um pouco, mas alguma coisa impedia, alguma coisa incomodava e não tinha a menor idéia do que era...

Consciência como me disseram? Pensou, mas logo descartou a idéia absurda e decidiu, instantes depois de sentar, que era melhor relaxar em um belo e longo banho quente.

Seguiu lentamente até o banheiro. Retirou com bastante calma a roupa, olhando seu corpo despido aos poucos no espelho até que não restou peça alguma. Fez algumas poses, cansou-se rápido da brincadeira e foi para o chuveiro, deixando algumas peças no chão e outras no cesto.

Abriu o chuveiro e esperou a água relaxante atingir seu rosto, mas não veio nada. O desespero e a indignação começaram a crescer. Iria acabar com o responsável, fosse ele quem fosse! Olhou para o chuveiro e desferiu dois golpes fortes, pensando que poderia ser algum problema do equipamento e não falta de água.

Não teve resultado algum, mas ouviu um ruído. Sabendo que aquilo poderia ser indício de que logo funcionaria, bateu com mais força e a parte inferior do chuveiro soltou-se, deixando cair algumas pequenas cobras coral.

Demorou um pouco para entender que aquilo no chão, quase aos seus pés, era realmente cobras saídas do seu chuveiro. Demorou para entender que por mero acaso não havia recebido o bote fatal quando uma deles tocou o seu corpo na queda. Demorou para entender como havia se afastado o máximo possível do chuveiro e tinha seu corpo pregado a parede de azulejo frio. Demorou para perceber que a cesta de roupas estava se movendo, e outras cobras, maiores que as que saíram do chuveiro, começavam a sair.

Se tivesse prestado atenção quando chegou, teria visto e agora não estaria nessa situação, mas tinha muita coisa na cabeça para se preocupar com detalhes...

Caminhou até a porta e atravessou antes que o cesto de roupas tombasse, espalhando completamente cobras por todo o banheiro. Tentou seguir até a sala, mas viu cobras deixando o vaso de flores sobre a mesa, deslizando na tela da televisão e sobre o sofá no qual quase ficou e passou a entender a sensação de que precisava deixá-lo o mais rápido possível. Sentiu um pouco de frio e percebeu que tinha o corpo completamente nu e que não seria capaz de atravessar a sala e fugir do banheiro... Fugir do seu lar...

Como última alternativa, virou-se e passou novamente pela porta fechada do banheiro, andando sobre a ponta dos pés com nojo de tocar o chão com os pés descalços, e chegou ao quarto. De lá poderia fazer algumas ligações e alguém iria limpar aquela merda para depois poder se vingar do responsável...

Entrou no quarto e trancou a porta antes de acender a luz e quando acendeu acreditou que o quarto estava limpo. No principio não viu cobra alguma no chão, mas o alivio durou apenas alguns instantes até perceber movimento sob os lençóis e constatar que aqueles monstros arrastavam-se para fora dela. Outros saiam debaixo da cama, do guarda-roupa e do criado mudo. Todo seu quarto estava infestado, como a sua casa inteira e por alguns instantes tentou pensar no porquê daquilo, mas antes de chegar a uma resposta viu que aquelas coisas estavam chegando perto.

Tentou pegar algo para proteger o corpo, apenas uma toalha verde estava ao seu alcance, mas percebeu que ao levantá-la tocou uma serpente, sentiu a pele viscosa e pegajosa e atirou-a o mais longe que pode. Ela caiu junto de outras que aglomeravam-se na sua direção, surgidas não sabia de onde.

Tentou gritar.

Re: Um Banho...

MensagemEnviado: 15 Abr 2011, 09:00
por Lady Draconnasti
Tenso.

É nisso que dá não fazer revisão do encanamento XD

Re: Um Banho...

MensagemEnviado: 16 Abr 2011, 04:48
por Magyar
Que pesadelo! :blink:

Muito bom o conto. Da para acompanhar o nervosismo e indecisão do indivíduo.

Re: Um Banho...

MensagemEnviado: 16 Abr 2011, 13:47
por Heliot
Numa primeira leitura eu confesso que não gostei muito não... Mas da segunda vez que li, percebi o modo como as cobras (animal que com certeza não foi escolhido por acaso) podiam ser uma alegoria dos "crimes" que o protagonista cometeu.

Interessante como o apartamento parece um tipo de equivalente da mente do cara (ele não consegue fugir de lá, por mais que queira). O primeiro momento em que as cobras são notadas por ele é justamente quando estava deitado no sofá. Nada impede que ele tenha caído no sono naquele momento mesmo, pensando nas coisas ruins que pesavam em sua consciência. O conto inteiro pode ser de fato um pesadelo resultante de ações não muito exemplares.

Além do mais, as cobras só aparecem mesmo quando o cara vai tomar banho e tira a roupa para se olhar no espelho. Ou seja: só quando ele se encara pra valer, despido de todas as defesas que poderia levantar ao seu redor, é que a consciência ataca com força.

Agora, o que eu não gostei:

1 - Eu passei voado pelo pensamento dele (Consciência como me disseram?). Acho que estava muito desatento enquanto lia, mas talvez fosse interessante colocar essa frase entre aspas pra ajudar o leitor. Sei lá.

2 - Achei muito abrupta a forma como você mostrou que eram cobras no encanamento. Acho que teria sido melhor conduzir o leitor aos poucos a essa conclusão. Se nem o protagonista notou o que era logo de cara, nada mais justo que nós também levássemos algum tempo pra perceber. A frase "a parte inferior do chuveiro soltou-se, deixando cair algumas pequenas cobras coral" me pareceu meio "meh"...

Enfim, nada que tire o mérito da obra.
Parabéns.

P.S.: Legal também que não dá pra saber quase nada sobre o protagonista (no final das contas, nem se é homem ou mulher). Gosto desse tipo de personagem "generalizado".

Re: Um Banho...

MensagemEnviado: 16 Abr 2011, 14:03
por Eltor Macnol
Senti que o conto demorou um pouquinho pra ganhar fôlego e prender a minha atenção, mas isso melhorou após um par de parágrafos. O final usa um artifício que eu gosto, aquela frase curta e que termina com a cena em aberto.

Gostei da ambiguidade ao evitar definir o gênero do protagonista. Mas acho que a frase "desferiu dois golpes fortes" remete muito a algo que um homem faria, eu trocaria por outros termos. Ou talvez seja um problema na minha percepção.

Recomendaria trabalhar um pouco na estrutura das frases, alguns pontos do texto ficam pesados e um pouquinho desajeitados de ler devido às frases muito longas e não muito bem ligadas.

Enfim, só umas opiniões de alguém que está longe de ser escritor mas não perde a chance de dar um pitaco. ^_^

Re: Um Banho...

MensagemEnviado: 16 Abr 2011, 15:15
por Arnok
obrigado a todos os que leram, vão ler...

e agradeço aos que comentaram, podem ter certeza que estou refletindo sobre o que disseram e isso sempre acrescenta... não é meu costume ficar me justificando, mas...


Heliot escreveu:Agora, o que eu não gostei:

1 - Eu passei voado pelo pensamento dele (Consciência como me disseram?). Acho que estava muito desatento enquanto lia, mas talvez fosse interessante colocar essa frase entre aspas pra ajudar o leitor. Sei lá.

2 - Achei muito abrupta a forma como você mostrou que eram cobras no encanamento. Acho que teria sido melhor conduzir o leitor aos poucos a essa conclusão. Se nem o protagonista notou o que era logo de cara, nada mais justo que nós também levássemos algum tempo pra perceber. A frase "a parte inferior do chuveiro soltou-se, deixando cair algumas pequenas cobras coral" me pareceu meio "meh"...


1 - Concordo com você, falha minha. Ao colocar o pensamento poderia ter destacado usando algum tipo de marcação ou uma estrutura diferente.

2 - Novamente concordo, realmente poderia e deveria ter sido feito com mais sutileza... Só que não gostei das outras formas que tentei escrever o aparecimento delas e em nenhum momento tinha pensado que eram cobras vindas do encanamento, isso realmente não passou pela minha cabeça, só percebi depois do comentário da Lady, ai já era tarde pra mais uma revisão XD

Eltor Macnol escreveu:Gostei da ambiguidade ao evitar definir o gênero do protagonista. Mas acho que a frase "desferiu dois golpes fortes" remete muito a algo que um homem faria, eu trocaria por outros termos. Ou talvez seja um problema na minha percepção.

Recomendaria trabalhar um pouco na estrutura das frases, alguns pontos do texto ficam pesados e um pouquinho desajeitados de ler devido às frases muito longas e não muito bem ligadas.


quanto a "dois golpes fortes", eram tapas na primeira versão... mas achei muito feminino... de todo modo, preciso ficar mais atento aos detalhes ^^

a estrutura das frases, é um poquinho mais complicado... (acostumei com paragrafos complexos e densos e preciso mudar isso...) só percebo se revisar o texto com um espaço entre a escrita e segunda leitura... mas vou continuar trabalhando nisso...

Re: Um Banho...

MensagemEnviado: 16 Abr 2011, 16:35
por Eltor Macnol
Tapas é um termo perfeitamente corriqueiro de associar a um homem... que o diga a Maria da Penha. :b

Ah, só um detalhe:

"Demorou para entender que provavelmente, por mero acaso, não recebeu o bote fatal quando uma deles tocou o seu corpo na queda."

Esse uso de vírgulas está incorreto, a primeira deveria vir antes do "provavelmente".

Re: Um Banho...

MensagemEnviado: 16 Abr 2011, 17:03
por Heliot
Novamente concordo, realmente poderia e deveria ter sido feito com mais sutileza... Só que não gostei das outras formas que tentei escrever o aparecimento delas e em nenhum momento tinha pensado que eram cobras vindas do encanamento, isso realmente não passou pela minha cabeça, só percebi depois do comentário da Lady, ai já era tarde pra mais uma revisão XD


Nessas horas eu gosto de pensar em RPG. Como você descreveria o monstro para os jogadores? Não fica legal só dizer "aí vocês encontram um zumbi esperando na porta". Fala do cheiro podre que eles podiam sentir antes de fazer contato visual, do modo trôpego como ele andava, etc. Depois dessas dicas, chega a ser redundante falar que era um zumbi...

... o que abre espaço para deduções erradas dos jogadores :twisted:

Re: Um Banho...

MensagemEnviado: 16 Abr 2011, 17:19
por Eltor Macnol
Especialmente porque, se tratando de terror, pouca coisa que você possa descrever em detalhes vai conseguir ser mais impactante que aquilo que é apenas sugerido e então completado pela imaginação do leitor.