Grande Ironia

[Geleiras]

Grande Ironia
Ele perdeu sua voz nos golpes secos dos guardas. Arrancaram a garganta, rasgaram a bata e apagaram a sua alma no escuro expurgo de uma cela.
E guando o gelo derreteu na revolução, e o segredo reverteu-se em fato, sendo o esquecido libertado, ele pode voltar ao lugar que lhe pertencia. Foram duzentos anos trancados, todos entalhados em pedra, pela umidade e seus vermes. Estes que fizeram cidade em sua epiderme, túneis inúteis de um progresso inverso. E com esta marca o cárcere voltara mudado á sua cidade natal. Naufragado de sua Era, era um vago vulto de velhas verdades. Vagava ele dentre as vagas das noites vazias de sua cidade.
Enxergava os nomes de seus amigos e inimigos nas placas que agora carregavam os nomes das ruas onde crescera. Perdera-se dentre os nomes até retornar á sua rua de infância, esta olhando a sua ausência como a filha á muito esquecida de seus pais. Ela já não era mais a menina que conhecera, pois continha aquela presença das que cresceram d’entre os traumas dos becos. Tornou-se do inimigo, e ele, no desconsolo, já começava a se perguntar quem realmente vencera... Toda essa distancia o desconcertava, entendeu que a havia perdido, mas não sabia o porquê de se encontrar esquecido ali. Naquela sua terra terrivelmente ausente de sua Terra...
Ele perdeu sua voz nos golpes frios dos guardas, durante duzentos anos guardados e quando o gelo derreteu na revolução ele enxergou os nomes de seus amigos e inimigos nas placas das ruas onde vivera. Toda essa distancia o desconcertava, todas as lembranças que guardava de nada adiantava.
Humilhado, voltou ao passado que lhe encerrava, enterrou seus sonhos e seus anseios no seio de seu povo e enterrou-se feito um alienígena. Tornou-se um fantasma. Haviam eles, havia ele ganhado a guerra e se perdido na vitória...