Triste Contos de Fadas - Sete Dias

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Triste Contos de Fadas - Sete Dias

Mensagempor Lady Draconnasti em 24 Set 2007, 15:30

Sete Dias



A brisa fresca acaricia suavemente as pétalas das flores. A grama verde se estende em um vasto e aveludado tapete. Os pássaros cantam doces músicas dos tempos antigos, quebrando o silêncio morno da tarde. Canções que ele não hesita em acompanhar para passar o tempo enquanto aguarda por ela.

Os olhos de safira do belo jovem se perdem no horizonte de esmeralda e dourado. Seus longos cabelos dançam ao vento, desenhando sinuosas curvas de ouro. Não muito longe, o magnífico corcel prateado pasta calmo, alheio à ânsia de seu senhor. Estão sozinhos como daquela vez.

Podia sentir o frescor que pairava na orla da floresta e o perfume ser carregado no ar como o delicado perfume de uma rosa. Seus lábios deixam o nome daquela a quem ele espera tão veemente ao longo das estações, seja o mais infernal dos verões, seja o mais mortal dos invernos.

Aquela bela que se apoderou de seus pensamentos.

“Shayla”.

Deita-se no chão, apoiando a cabeça sobre os braços.


Estava cavalgando com seu séqüito, distraído, divagando sobre muitos assuntos ao mesmo tempo, quando se deu conta de que estava sozinho. Olhou ao seu redor, a procura de seus companheiros, mas não os encontrou. Pensou tratar-se de uma brincadeira. Decidiu então ir atrás deles.

Puxou as rédeas de ouro e pedras preciosas de sua montaria prateada e cavalgou por sua própria conta, até se cansar. Todos pareciam ter se escondido dele, em uma brincadeira para aquela tarde. Suspirou e olhou para o chão, foi então que percebeu a grama não tão vistosa quanto estava outrora. Ele tinha cruzado a estrada que separava os dois Reinos.

Andou curioso sob suas próprias pernas, conduzindo gentilmente o animal. Nunca tinha ido além dos domínios da Rainha-Fada, os Guardiões do Portão nunca permitiram. Era perigoso, sabia.

O outro Reino era habitado pelos odiados Homens, que há muito se esqueceram que não são os únicos. Era o lar dos Predadores, banidos pela Rainha Metamorfa, e dos Druidas, que tentam manter as tradições antigas vivas entre os mortais. Mesmo sabendo disso, não se preocupou. Tinha a benção de seu pai, e seu Sabre da Lua. Foi quando a encontrou pela primeira vez, usando a saia como cesta para as flores que colhia.

Não imaginou que encontraria ser mais belo fora das Cortes, muito menos que tal beleza se encontrasse na raça a qual ele mais repugnava. Tamanho foi seu assombro, que a contemplou pelo breve momento em que sua presença não foi notada por ela, jovem bela e vistosa. Longos cabelos, dourados como raios de sol. Pele clara e rosada, sedosa como as pétalas das flores dos Jardins da Rainha. Amendoados olhos azuis como as safiras de seu reino. Usava um vestido humilde, cor da terra fértil.

Ele, um jovem de feições finas e modos suaves, vindo das Cortes Antigas. Um dos últimos Elfos Antigos. Longos cabelos na metade das costas com uma cor que lembravam fios de ouro e prata fundidos. Olhos amendoados de mesma cor dos da donzela, porém com um brilho especial, cujo significado nenhum mortal poderia compreender.

Sempre ouvira em suas terras do tratamento que os Homens davam aos que pertenciam aos povos Antigos. Elfos, anões, fadas e até mesmo os deuses que imperaram outrora, todos eles eram tidos como criaturas de pura maldade. Antes mesmo que ela o tomasse por demônio, uma terrível falácia para o jovem, ele levou as mãos a arma que trazia na cintura. Bastaria uma ameaça... Uma ameaça que não veio...

Ela lhe dirigiu algumas palavras e um sorriso, foi o suficiente para que seu corcel ousasse se aproximar dela com seus passos firmes na grama esmeralda. O animal deixou-se tocar pela donzela, trazendo ao cavaleiro a surpresa. Nunca sua montaria permitira que outros que não fossem de sua Casa acariciassem-lhe o pêlo. Só então ele baixou a guarda e se permitiu chegar junto dela, devolvendo-lhe o sorriso sutil, porém mais cativante que o nascer do sol na primavera.

Apresentou-se como manda as Antigas Tradições de seu povo, mas ela não entendia a língua dos Elfos, assim como ele não entendia a língua dos Mortais. Mesmo assim, sentiu grande simpatia por aquela figura tão ausente da nobreza arrogante de seus iguais. Quando o pôr-do-sol se anunciou ao céu, ele tomou a mão dela e tocou-a com os lábios, para depois partir com um sorriso, em busca dos portões da terra de seu povo.

Não ousou contar sua aventura a ninguém, muito menos ao seu pai, que com certeza o censuraria. A imagem da mortal não lhe saia da mente, mesmo durante o sono. Príncipe caprichoso decidiu procurá-la novamente ao início da tarde seguinte. Assim planejou sua ida até ela.

Encontrou-a no mesmo lugar, chorando. Lágrimas de tristeza que se transformaram em alegria radiante ao ver o jovem. Percebeu-a com traços do tempo em seu rosto e recordou dos ensinamentos que tivera sobre os Homens. O tempo fora dos Portões da Rainha-Fada corria de modo diferente do seu tempo. Um dia para ele seriam um ano para ela, fazendo com que a existência de tal criatura mortal não passasse de uma faísca na escuridão.

Precisaria levá-la à Corte Antiga.

Queria levá-la...

Mas precisaria convencer seu pai e os Guardiões do Portão a deixarem-na ficar. Seria difícil, no entanto estava certo de que conseguiria. Assim passaram sete dias para ele, e sete anos para ela. A cada visita, um presente. A cada tarde, um sorriso. A cada crepúsculo, uma lágrima de saudade. Seu pai não foi cego de não perceber os suspiros de seu filho mais jovem. E o jovem sabia que não seria prudente mentir para seu sábio pai.

Contou-lhe tudo e presenciou com tristeza esperada a desagradável surpresa com que a notícia fora recebida. Tentou convencê-lo, provando o que sentia pela mulher humana e revelando-lhe que a amou profundamente. Tomado pelo choque, o pai se retirou de sua presença, desolado. Então o ele gritou para seu pai, enquanto o via se afastar, que se ela não poderia viver entre os Antigos, então ele viveria entre os Mortais.

Correu de volta para o estábulo e tomou novamente sua montaria, partindo rumo às Terras Mundanas, para reavê-la. Mas o jovem elfo nunca mais conseguiu cruzar os Portões.

O caminho estava tranqüilo demais e mesmo os pássaros estavam calados. Um odor acre e enjoativo pairava como se as árvores ao seu redor estivessem perfumadas de veneno. Ele só entendeu quando seus olhos azuis encontraram a imensidão escamosa com as asas entreabertas a recepcioná-lo.

O Grande Verde estava diante da passagem, impedindo seu progresso. Nenhum Guardião do Portão por perto. Amaldiçoou-se pelo descuido, mas ousou pedir permissão para cruzar as fronteiras. A fera riu de seu pedido e negou com a ferocidade dos grandes dragões das antigas eras.

Tolo, desafiou a criatura que outrora fora conhecida como Garra Voadora para um duelo. Se vencesse, passaria para o outro lado. Se perdesse, aceitaria retornar para o castelo para todo o sempre.

Apenas esqueceu que a besta não poupava a vida daqueles que derrota.

Investiu, porém de nada adiantou. As negras garras do dragão atravessaram o seu corpo e o de seu corcel, fazendo-os tombarem agonizantes. Recusou-se a acreditar. Todos os seres sabiam quem ele era, todos sabiam que o jovem elfo era filho do Rei da Floresta Esmeralda, neto do Dragão de Prata e da Jóia de Fogo. Todos sabiam quem ele era e por isso nunca tiveram o atrevimento de feri-lo. Plebeus, fadas, monstros, Antigos...

Seus olhos perguntaram “por que?” à fera, que lhe respondeu dirigindo-lhe o mais frio olhar de desprezo. Mesmo em seu último suspiro, o jovem não foi capaz de entender o rancor por trás dos olhos cor de âmbar do Grande Antigo.

Agonizou diante da criatura, pedindo perdão à sua amada, pois não poderia mais vê-la. Pediu também perdão ao ser mágico que sempre o acompanhou em suas viagens, por ter deixado que ele se ferisse de tal forma. Seus olhos se fecharam pesadamente...


O som de pés delicados andando sobre a grama verdejante chegam aos seus ouvidos aguçados, fazendo-o se levantar com ânsia. Olha para os lados, rápido, desejando pelo fim de sua espera. A vê, ainda longe, caminhando em sua direção sem parecer percebê-lo. Um sorriso saudoso ilumina sua alva face e ele aguarda.

O corcel levanta sua cabeça, percebendo a chegada daquela a quem seu senhor deu seu coração. Sente a alegria do jovem príncipe e se coloca mais próximo dele, da mesma forma como estava naquele dia em que suas estrelas se cruzaram pela primeira vez. Os amantes se abraçaram saudosos, para depois subirem na sela e partirem para longe. Para juntos alcançarem o Reino dos Imortais...

O local ao qual todos chamam de Paraíso...
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Triste Contos de Fadas - Sete Dias

Mensagempor Ermel em 24 Set 2007, 17:55

Hoho!

Que belo Draconnasti! Um texto e tanto, flui de forma poetica e lenta, não que isso seja algo ruim, a lentidão com que se propaga cada imagem, cada pequeno ou longo trecho é algo maravilhoso. A ausencia de falas tambem ajudaram muito, ficando preso, se assim posso dizer, como um pensamento que se passa na cabeça, onde você apenas ve as imagens. O unico contra que tive, foi a 'esmeralda', seja grama, castelo ou linhagem. Sei lá, achei que ficou um pouco repetitivo, invez de 'verde' em certas partes, mas gosto não se discute.

Enfim, meus sinceros parabens por mais um otimo trabalho!
Até!
"And the question is
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Triste Contos de Fadas - Sete Dias

Mensagempor Lady Draconnasti em 24 Set 2007, 22:04

Nem, teve coisa qe ficou repetitivo mesmo... Mas postar durante uma fuga rápida do estudo as vezes faz isso, principalmente quando você pensa em três coisas ao mesmo tempo ^^'

E eu fico feliz que você tenha gostado ^^
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Triste Contos de Fadas - Sete Dias

Mensagempor Dahak em 05 Out 2007, 00:29

Adoro o teor desse conto.
Acho que a forma como você o talhou o faz assim. Tem um algo de elevado, de grande nele, mas não sei explicar bem.

Não é lá um conto com uma face comerical, digo, que atraia leitura de massas, uma vez que o prazer dele está em seu requinte e tal.

É uma de suas obras que acho mais harmônica.

Investiu, porém de nada adiantou. As negras garras do dragão atravessaram o seu corpo e o de seu corcel, fazendo-os tombarem agonizantes. Recusou-se a acreditar. Todos os seres sabiam quem ele era, todos sabiam que o jovem elfo era filho do Rei da Floresta Esmeralda, neto do Dragão de Prata e da Jóia de Fogo. Todos sabiam quem ele era e por isso nunca tiveram o atrevimento de feri-lo. Plebeus, fadas, monstros, Antigos...

Meu trecho favorito!

Ah, eu tou meio enferrujado em gramática, mas no trecho imediatamente abaixo o "por que?" não deveria ser acentuado?

Beijão!


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Mensagempor Lady Draconnasti em 05 Out 2007, 00:33

Sei lá.

"Porques" sempre foram um calo pra mim. Reconheço que até hoje não sei em que ocasião usá-los.
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Mensagempor Dahak em 05 Out 2007, 00:39

Por que - começo e meio de pergunta, também é aquele que estudamos no estudo de orações ^^"

Por quê - final da pergunta :P

Porque - resposta

Porquê - "o porquê daquilo"


Tá, é uma síntese podre, enxuta e não muito credenciada, mas serve de memorando para ocasiões em que queremos pensar rápido :P


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Mensagempor Lady Draconnasti em 05 Out 2007, 00:42

Ok, tentarei lembrar disso nos próximos contos ^^
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Mensagempor Dahak em 05 Out 2007, 00:45

HAUoiahohaUOIAHOHUOIHAI

Aí de vez em quando, como agora, dá crepe e não tenho certeza, mas sempre acho que um simples "Por quê?" leva acento, lol.

Vou procurar meus livros de gramática para ter mais certeza =P

Beijão.


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Mensagempor Lady Draconnasti em 05 Out 2007, 01:00

Que tal criar um tópico com isso depois? =P
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Mensagempor Dahak em 05 Out 2007, 01:21

Sabe que me ocorreu isso?
XD

Vamos pensar bem direitinho isso^^"

Beijão.


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Mensagempor Lady Draconnasti em 05 Out 2007, 10:31

Precisa pensar ainda? =P
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Mensagempor Dahak em 15 Out 2007, 18:34

Orra...já pensou se solto AQUELA gafe em pleno tópico que serviria de orientação?!
HAUiahuoihaUoiahuoihaIuoaHoa

Mas logo sairá, loguinho!

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Mensagempor Lady Draconnasti em 15 Out 2007, 19:27

Herrar é umano. XD
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