João tinha sardas e um fardo, que era seu nome a lhe assombrar o destino, do papel colorido de sua identidade, indicando o caminho pré-fabricado por seus pais – João é apóstolo e santo! Mas suas sardas vinham dos países nórdicos, onde os passarinhos cantam outras sinfonias, menos belas porque nórdicas. As notas que alcançam não combinam para compor a melodia “João” adequadamente, são dissonantes demais, o que faz o nome sair estranho, carregado de um sotaque que não lhe cabe.
Isso tudo assola a mente de João num lampejo maldoso enquanto este apenas tenta acordar, enfiando a cara inchada na água fria que a torneira despeja aos borbotões como se esbanjasse algo que faltava em João; algo fluido, porque de gelado já havia o bastante.
Atravessou a porta do banheiro com o rosto ainda molhado de pensamentos insatisfeitos, como se fosse decente acordar o mundo para o mundo com uma dor daquelas. João gostava de lembrar que quando era pequeno, para se livrar das dores, bastava arriar as calças e despejar tudo de ruim vaso abaixo, ouvindo o som catártico da descarga que o separava, inegavelmente, da merda que ia embora.
Ao recordar isso, pela sétima vez na semana, arriou as calças, mas desta vez para tocar uma punheta – e que afinal se fodesse a porra do João.