O início da história foi dado, escrevi o que vem após o itálico.
Mister Fantástico & o Gelo
Mister Fantástico era o mais espetacular mágico do mundo. Ele tirava coelhos da cartola, fazia sumir objetos, transformava bolinhas de pingue-pongue em pombas brancas, dava o maior show. Até que um dia ele fez a maior mágica jamais vista: chupou uma pedra de gelo velha do tamanho de um morango por nove dias inteiros consecutivos, sem deixar com que ela virasse água. Assim que pôs o gelo na boca, numa terça-feira quente de férias, fechou os lábios inchados e suas sobrancelhas caíram numa expressão séria que o deixou parecido com algum velho latino, que em uma tarde de domingo abre uma cadeira na calçada de sua garagem e fica só olhando - e a partir de então viveu sob uma espécie de voto de silêncio, de modo que o único som que se ouvia quando ele estava por perto era o chuque chuque chuque do gelo chupado.
Nesses nove dias de truque, Mister Fantástico entrou e saiu de oito pequenas cidades da região para chupar o gelo; semeou sua mensagem às mulheres e crianças que sorriam na rua ao ver o curioso mágico, olhando sério e não mastigando, não engolindo, mas chupando, chuchuchupando uma pedra de gelo do tamanho de um morango que não sumia nunca! Era o maior mágico do mundo deste Gastão Vellares, não havia a menor dúvida. As pessoas se impressionavam, formulavam teorias: “Mister Fantástico vendeu a alma para o diabo quando tinha seis anos; Mister Fantástico tinha duas gotas de saliva na boca mas as engoliu e desde então não tem mais nada; Mister Fantástico tem a língua feita de pudim de pão; Mister Fantástico vai chupar o gelo até perder os sentidos; Mister Fantástico já caminhou sobre as águas e agora vai salvar os homens na terra; Mister Fantástico é genro do presidente”.
Então uma intensa comoção dominou aos poucos as oito cidadezinhas. Muitos seguiam o mágico em sua peregrinação, seja para tentar descobrir qualquer coisa ou apenas para ouvir o misterioso chuque chuque chuque que nunca cessava de insinuar sua muda sabedoria. Tendo se tornado tamanho ícone, Mister Fantástico agora vivia 100% do tempo em uma apresentação de mágica: todos os bancos eram palcos, todas as luzes, refletores. Todo o mundo era platéia e todos os olhos eram seus – algo interessante a se dizer.
Quando todo o barulho estava no auge, nove dias depois, na praça central da cidadezinha onde tudo começou, Mister Fantástico suspirou fundo três vezes, olhou para o céu e depois para as pessoas, que gritavam à sua volta com os olhos arregalados e os sorrisos entortados pelas palavras que diziam. Esticou os joelhos, se lançando para cima, e ergueu o braço direito pedindo silêncio e atenção. A gritaria cessou rapidamente e todos encararam, ansiosos, o pequeno sujeito. Nos olhos da imensa platéia brilhava algo de raivoso que dizia que aquele mágico era o maior dos cornos, e dos picaretas também, se pensava que podia fazer com que calassem e ouvissem. Mas foi o que aconteceu. Tudo pairou no ar por um instante. Então Mister Fantástico piscou duas vezes e disse, de uma só vez e com a voz estranha por causa do gelo:
- Traz açúcar, limão e pinga.