Um esboço em Preto e Branco

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Um esboço em Preto e Branco

Mensagempor Raposa em 21 Mai 2009, 09:25

O sub-titulo do post seria "vontade de postar".

Eis um conto intencionamente começado e terminado no nada... talves seja bom justamente fora do contexto de anos de jogo >.o Segue:


"Para tudo da-se um jeito" mas "Nenhuma boa ação passa impune"

Olhava tristemente seu reflexo na agua do lago… não havia mudado nada nas ultimas decadas, nao havia mudado um unico traço, mas ainda assim nao se reconhecia... Em algum lugar, de alguma forma, tinha certeza que a pessoa que ela verdadeiramente era havia morrido, completamente, que nada havia sobrado. Era agora uma cousa totalmente nova, uma alma dilacerada e corrompida com lembrancas sem cores do que fora e do que sentira um dia... nada havia sobrado.

A floresta ao seu redor era frondosa e imponente, tinha a atmosfera pacifica mas ainda assim o ar misterioso de lugar inexplorado, por onde poucos se aventuravam. Ela conhecia tudo ali, podia correr sem deixar o minimo vestigio da sua presença.

Alguns arroios apressavam-se erraticos ate o lago. A cada estação eles mudavam de percurso, renovados, sinuosos entre as muitas arvores e as poucas pedras daquele terreno incerto. Ela conhecia-os bem, podia prever com exatidão quando se ocultariam pela falta de chuvas e exatamente onde ressurgiriam no proximo verão.
Mas ainda assim, não se sentia mais parte daquele lugar... não se sentia mais parte de lugar nenhum, sua existencia se havia tornado num motejo de algo que fora um dia realmente precioso e importante.

Primeiro desejava ter morrido de alguma forma gloriosa, que servisse aos outros de inspiração, agora desejava apenas inexistir, nada de bom havia sobrado, nada que valhe-se a pena ser lembrado. Mas, ainda assim, ninguem quer ser esquecido, não é? Lembrava-se de ouvir por ai que ser esquecido é pior que ser morto... convencia-se de que era verdade apos tantos abandonos, apos as tantas vezes que as pessoas que lhe eram importantes a deixaram a propria sorte, de novo, e de novo...e de novo...

Esses pensamentos lhe traziam lagrimas aos olhos, não queria morrer, queria simplesmente inexistir, de forma que essas lembranças não pudessem machucar mais, afinal, se lembrava dos outros, de todos eles... Então ja não podia identificar, se era culpa ou orgulho, ou se era a coisa nova chamada crueldade, que a fazia ficar. Ficava por que não podia fazer o mesmo que fizeram com ela, não podia simplesmente deixa-los. Mas no fundo sabia que nada havia de bom nessa atitude. Agia assim por saber da dor, não necessariamente pela vontade de poupa-los dela... Agia assim, talvez, por querer culpa-los, não iria embora, e ali definharia tristemente, os outros seculos imutaveis de sua vida. Desejando... desejando um afago e um cuidado que eram, ela sabia, eram dentre todas as coisas desse mundo, certamente, a mais impossivel.

É o que acontece quando se anda pelo inferno, à porta desse mundo se deixa toda a esperança. E ela havia andado pelo inferno muitas vezes. Vezes de mais pra lhe ter sobrado qualquer confiança nas proprias palavras...algumas coisas não tem jeito... mas não se lembrava quando havia comecado a mentir sobre isso...

"Nunca esta tudo bem..."
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Mensagempor Katherine Verdefolha em 26 Mai 2009, 22:02

Wow. Profundo e conciso... me fez lembrar de muitas coisas tristes...
E sua protagonista tem razão, o desprezo, esquecimento e abandono são mil vezes piores do que a morte ou mesmo do que o ódio.
Meus parabéns!
Bjos.
=^.^=
Não há dia melhor do que hoje para deixar para amanhã o que você não vai fazer nunca!
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Katherine Verdefolha
 
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