A Batalha de Mìr – Capítulo IV
Antagonismo
Por Elara e Dahak
Antagonismo
Por Elara e Dahak
Enquanto se despia para tomar seu banho, Aka olhou-se no espelho e, como de costume, seus olhos logo se prenderam àquela cicatriz que lhe custou boa parte de seu seio esquerdo. As lembranças trazidas detinham ódio sim, mas a dor que proporcionavam era muito mais intensa que qualquer outra sentida por algum toque na região.
Ela ainda podia ouvir o barulho do fogo consumindo seu lar, consumindo sua mãe...
As memórias traziam lágrimas que tinham de desviar daquele seio danificado; o sal provocava uma ardência que a trazia de volta a realidade, de volta a seu estado agressivo e amargo.
Com a testa franzida, dirigiu-se para sua banheira de leite, retirou o esguio punhal que segurava seus cabelos e começou seu banho.
Adnes, ainda nas proximidades dos aposentos, verificou as janelas, portas, estátuas e toda a segurança.
Quem melhor que um ladrão para conhecer as falhas de segurança de um local? Era assim que a alteza pensava, motivo o qual a levou a contratar uma ladra perita, ágil e extremamente furtiva – Adnes.
Após conferir cada via de acesso do palácio, deu seu parecer positivo e desceu até o porão. Lá se encontrava um seleto grupo de assassinos, todos segurando um pergaminho com o símbolo real de Zaría.
– Interceptaram a todos?
A resposta veio em coro:
– Sim senhora!
Um sorriso fez-se evidente...
Era uma tarde ensolarada quando um dos ministros de Zaría bateu a aldrava dos aposentos de Manfred.
– Fevicz, caro amigo, trouxe-me um parecer dos reinos aliados?
Houve um momento estático.
– O que esse silêncio quer dizer?
O ministro levou os dedos aos olhos, respirou fundo enquanto olhava para o chão e balbuciou:
– Temos problemas...
– Os aliados não cumpriram com nossa aliança?
– Em verdade, não obtivemos respostas. Nada nos foi enviado até agora.
– Os mensageiros podem ter se atrasado...
– Não senhor. Encontramos pertences deles jogados nas estradas próximas. As Rapinas fizeram o reconhecimento prévio. Creio que estejamos sós, pelo menos por enquanto.
Foi a vez de Manfred se calar e assim permanecer por alguns minutos até que pediu que buscasse os mapas da região, além de que ordenasse ao Grupo das Rapinas que fizessem novo reconhecimento para então encontrá-lo na sala de reuniões.
Seu leal amigo prontamente atendeu aos pedidos de e também se dirigiu para o recinto. Ao chegar, deparou-se com seu rei rodeado de papéis, livros e pergaminhos.
– O que está fazendo, amigo?
– Procurando uma saída...
– O que tem em mente?
– Para ser sincero, não sei. Imagino que a aliança também esteja ameaçada por Aka. Ou talvez nossos mensageiros tenham sido assassinados.
– É possível. As amostras que vieram do norte continham brasas e chamuscados nos pertences. As amostras do sul continham sangue.
Manfred colocou-se a pensar e disparou:
– Ela quer nos isolar. Seus planos de conquista devem ser muito maiores do que imaginávamos...
– Temos de cogitar a iminência do ataque e pensar em...
Fevicz hesitou em completar seus pensamentos.
– O que foi, amigo? Por que se calou?
– Meu rei, meu amigo, sinto-me constrangido em dizer, mas creio que seria sábio ponderar maneiras de resistir as investidas de Eleadna.
– Você se refere a guerrear?
– Não. Sabemos das nossas condições e das vantagens alheia.
– Então, o que sugere?
– Que busquemos formas de conter, de barrar a situação.
– Como?
– Não sei. Mas não creio que a diplomacia resolva, nem invocando a aliança... E devo acrescentar que os sinais de brasa vindos do norte sugerem que já houve combate.
Manfred sabia que seu amigo estava certo. Aka parecia determinada em expandir seus domínios e o problema precisava ser encarado tal qual ele é.
– Por favor, reúna quatro homens de bom porte físico e treino-os por três dias. Faça o mesmo com outras quatro mulheres. Além disso, preciso de um caçador e uma caçadora. Preciso enviar mensagens que devem atingir seu destino, impreterivelmente devem atingir seu destino.
– Três dias?
– Sim. Passados esses três dias retorne.
– Compreendo. Voltarei em três dias.
Fevicz deu dois passos para trás, cerrou seu punho direito e o ergueu até a altura de seu coração. Manfred fez o mesmo e tomaram caminhos opostos.