A moça do platô

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A moça do platô

Mensagempor Aenis em 29 Set 2008, 19:50

"Era um platô rochoso que a deixava quase flutuando no ar. À frente uma vastidão de verde, azul e intermitentes manchas vermelhas como feridas abertas na terra.

Seus cabelos esvoaçavam, trançando e amarrando os fios uns nos outros e deixando sua face menos rubra vez por outra. O sol incidia naquele rosto choroso com seus raios furtivos das manhãs de inverno, arrancavam caretas da face delicada da moça triste. E a faziam sorrir também. Um sorriso dolorido e cheio de saudade. Era bonita a moça.

Sua mochila de couro rústico caíra ao chão deixando à mostra o maço de cigarros amarrotado e um trevo de quatro folhas plastificado.

Ela amava aquele lugar, por isso sentia-se tão reconfortada em sua dor. Sentia-se acariciada pelo dia que acordava e balançava-se para frente e para trás enquanto fechava os olhos e sentia o vento tentar lhe conduzir.

Seus braços estavam abertos fazendo a sombra de uma cruz projetar-se sobre o solo rochoso.

Logo atrás, do seu carro, uma romântica melodia country ecoava pelo ar e se perdia na grandiosidade do lugar. Mas ela ouvia os acordes ritmados e melancólicos e sentia seu próprio coração pulsar daquela forma.

Ela se sentia tão só. Queria gritar ao mundo mas também não queria que ninguém a ouvisse, porque sabia que não a compreenderiam. Não entenderiam sua dor. A dor era só dela.

E um frio, uma agonia, um medo profundo tomou seu estômago e se espalhou pelo seu corpo enquanto sentiu que o vento, o tempo e o mundo passavam pelo seu corpo. Sentiu a dor aumentar até tornar-se insuportável, mas foi muito rápido.

Ao final do dia, no platô rochoso, o sol envolveu o carro sem baterias com seus raios sangrentos. O vento continuou balançando as copas das árvores ao longe avistadas. Um bilhete escrito em papel de agenda que tremelicava sob a roda do automóvel logo soltou-se e voou com as aves graciosas e barulhentas da região até perder-se no alaranjado céu que se despedia da moça triste..."
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A moça do platô

Mensagempor Sr.Personna em 30 Set 2008, 08:27

Reli para melhor degustá-lo!
Os elementos modernos casaram perfeitamente bem com o clima natural, a tristeza dela estava se realçou com os verdes, com o maço de cigarro, o trevo plastificado...
O não se importar com a bateria se acabando. Um dia longo e intenso. D'uma frialdade cálida que poucas vezes vi por aqui. Evitou o clichê do salto, mas deixou a dúvida.... Perfeito!
Apenas o narrador me pareceu meio inseguro quanto a sua linguagem, alternando entre um formal esmerado e um coloquial arcaico. Poderia ter sido melhor trabalhada a linguagem, caracterizando também o a voz da cena.
"Muito brincaram comigo,
até que aprendi a brincar...
Na vida se chicoteia
ou se deixa chicotear!"
(Lições, Lucas C. Lisboa)

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A moça do platô

Mensagempor Aenis em 03 Out 2008, 17:29

Obrigada pelo comentário Sr. Persona, acredito que esteja certo quanto à insegurança da narradora e isso é algo que me escapa muitas vezes quando escrevo. Em que voz narrar, como manter-me fiel ao estilo escolhido? Não é algo tão facil pra mim. Mas, relerei também o texto, agora buscando as falhas da narrativa, mas como me falta a técnica que acredito que tenha, talvez ainda assim o texto continue como está... E se quiser ajudar um pouquinho mais, talvez possa me indicar duas passagens em que a narrativa se alterne, para que eu possa melhor visualizar.
Acredito que o objetivo de se postar um conto aqui seja o aprimoramente, por isso já sou grata.
Abraço

Aenis
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A moça do platô

Mensagempor Lady Draconnasti em 03 Out 2008, 19:06

Acredito que o objetivo de se postar um conto aqui seja o aprimoramente, por isso já sou grata.


Como seria bom se todos pensassem assim...

E seja bem vinda ^^
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A moça do platô

Mensagempor Sr.Personna em 29 Out 2008, 11:58

"Era bonita a moça" pareceu destoante do resto do parágrafo. Mas na minha leitura anterior achava tal uma imperfeição. Agora relendo com uma mente mais fresca não creio que seja um problema. É um contraste interessante!
Acontece outras frases tão diretas e simples quanto esta. Mas não creio que possa ser motivo para se alterar. Percebo que, na verdade, elas dão uma força extra para as demais frases de maior carga lírica.
Creio que minha visão foi estreita demais em minha primeira avaliação. Espero ver mais do que escreve por aqui... Ou quem sabe noutras bandas. Tem site/blog ou algo assim?
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