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Bolor

MensagemEnviado: 12 Mai 2008, 15:46
por Lanzi
Um pequeno conto existencialista que escrevi em 10 minutos.

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Bolor

Eu estava a contemplar a monotonia daquele bolor, que escorria solenemente pela catarata formada na parede. A sangria ininterrupta remetera-me a um estado senil, de mais profunda concentração. Mas aquela admiração era plenamente natural, componente obrigatório na vida de qualquer indivíduo, assim eu pensava. Fato consumado e cotidiano, pleonástico e soberano, pois residia na admoestação divina; relação entre vida e ser vivo de consciente autonomia.

E nessa galeria de opiniões formadas, para além dos guichês do otimismo, desaguando no delta do mau-humor, eu construí meu império. Acostumei-me a ver, em todos os fins de tarde melancólicos, uma legião de troncos de mogno, decepados em vida natural, transbordarem-se pelos rios e irem morrer em cadeiras, mesas e banheiras de hidromassagem. Acostumei-me a passividade das horas.

Esse cenário bucólico de vida passava diante dos meus olhos, enquanto eu permanecia encaixotado e anestesiado. A velocidade com que a mortalha vestia minha existência crescia de maneira exponencial. No fim da história, eu não havia feito nenhum relato para informar às gerações futuras de que nesse mundo eu nasci e morri.

Bolor

MensagemEnviado: 12 Mai 2008, 22:35
por Wally
Q bizarro mano..

Eu diria que seriam ótimos pensamentos de alguém, vítima dakela clássica "lenda", ou fato bizarro, de estar imerso em uma banheira cheia de gelo, com 2 talhos nas costas e tubos pq roubaram seus rins... sabe.. bem lenda urbana e viajado msm..

divertido.

Bolor

MensagemEnviado: 13 Mai 2008, 13:36
por Elara
Lanzi,

Certamente bem Sartre. Gostei.

Afinal, ele estava mesmo dentro do caixão o tempo inteiro?

Chero!

Bolor

MensagemEnviado: 13 Mai 2008, 14:10
por Lanzi
Acho que vocês não entenderam o texto, auhauauhuhauhaa.

Bolor

MensagemEnviado: 13 Mai 2008, 14:12
por Elara
Ajudaria uma breve explicação, então.

Chero!

Bolor

MensagemEnviado: 13 Mai 2008, 14:23
por Wency
Interessante, li algumas vezes e cada vez tirei uma visao diferente do texto... Estou a espera do que o Lanzi vai dizer...

Bolor

MensagemEnviado: 13 Mai 2008, 14:32
por Lanzi
Peraí, vamos esperar mais gente ler. Entregar o ouro é chato.

Bolor

MensagemEnviado: 13 Mai 2008, 17:36
por Sr.Personna
Sade escreveu o Diálogo entre um padre e um moribundo...
Questionamentos Filosóficos à beira da cova me parece um enlace de Sartre com Sade... Hum..
Decerto que algo instigante sai disso!
Aquela parede de bolor quantas vezes já não vira um morbiundo? Aquele mesmo aposento, o mundo de objetos vindos e que são testemunhas mudas d'um passado inumano. Que fagulha é essa chamada homem? O indivíduo é algo além d'um Bolor?


PS completamente off:
Afora os questionamentos que se extrai disso, entrei por aqui chamado pela nostalgia do título... Joguei durante muito tempo com uma Pirata espacial albina e gananciosa chamada Bolor... Ah que saudade da Bolor, tudo por um crédito!

Bolor

MensagemEnviado: 15 Mai 2008, 12:29
por Sampaio
Ignorarei a influência do delicioso filme "I Love Huckabees" e vou direto ao texto em sí:

Muito bom.
Misto de descontinuidade de raciocínio com um espanto, um deslumbre de tudo, uma hipérbole de tudo.

O texto é existencialista, mas é acima de tudo um deboche ao existencialismo. Afinal o indivíduo que se observa, se denigre, compara e angustia através da visão do bolor, da madeira e outros, é um indivíduo a flor-da-pele, um existencialismo hipérbole, conforme já coloquei.

Pra mim o texto tem uma preocuação muito maior com a sonoridade do que com o conteúdo. parece muito inclusive com uma poesia, pelo ritmo, pela escolha de palavras. Esse trecho por exemplo:
E nessa galeria de opiniões formadas, para além dos guichês do otimismo, desaguando no delta do mau-humor, eu construí meu império

Não quer dizer muita coisa, mas é lindo.
A única coisa que ele trás de conteúdo o fundamental de alguem que está rancoroso/melancolico com a existência: a instabilidade de sí, e principalmente a não-preocupação em estabilizar-se.
E mesmo assim, estou indo muito além do que texto fornece.

No fim da história, eu não havia feito nenhum relato para informar às gerações futuras de que nesse mundo eu nasci e morri.


Muito bão.

Pra mim texto é tanto mais pessimista, nihilista, do que existencialista. É um existecialismo hipérbole sim, mas de uma escrita rancorosa e sem dúvida com um grande conteúdo de deboche da parte do autor - Lanzi.

Me lembrou muito a descrição da "logorréia de pensamentos" ou seja, descrevendo uma sequecia de pensamentos que vêm a cabeça e não necessariamente são coerentes ou significantes, mas coloca-se no papel.

Gostei.

Bolor

MensagemEnviado: 18 Mai 2008, 18:47
por Lanzi
Não tem mistério gente. É um texto vazio em conteúdo, mas com uma pretensão de beleza estética, falando sobre o vazio da vida desse sujeito, e com uma carga pessoal no final.

Obrigado pelos comentários.

Talvez vocês não tenham entendido devido o excesso de rebuscamento de imagens.

Bolor

MensagemEnviado: 24 Dez 2008, 17:28
por Dahak
Léo, minha leitura me fez pensar em alguns traços do naturalismo e do parnasianismo. Algumas poesias me vieram a mente, mas não consigo lembrar nomes "/

Vendo seus últimos trabalhos, você anda experimentando várias cosias diferentes, né?

Abração.

Dahak Out

Bolor

MensagemEnviado: 24 Dez 2008, 17:36
por Captain Beefheart
Será que eu vou virar bolor? Será que eu vou morrer de dor?