por Ironsoul em 05 Set 2007, 17:23
Esta é a idéia:
Sobre o corpo de um deus morto e esquecido, Universo decidiu semear novas formas de vidas. Pediu a um de seus filhos, Tempo, que cuidasse com carinho deste lugar e deu a ele um punhado de sementes – em cada uma destas sementes existia uma das que chamaríamos de divindades ancestrais – cada uma dela responsável por um tipo de forma de vida. Eternamente atarefado, Tempo confiou a seus dois filhos – e rivais – Dia e Noite, a missão de semear e cuidar deste novo mundo, que ficava em um tão lugar desolado dos vastos domínios do Universo que não era possível ver as estrelas ou outros planetas ou satélites.
Dia e Noite dividiram as sementes e as plantaram no cadáver divino, dando origens aos deuses – na verdade deusas, que mais tarde seriam fecundadas por Dia e Noite e originariam os primeiros mortais. A divisão transcorreu com tranqüilidade, até que restou somente uma semente, que era a mais bela de todas. Por um longo período, os filhos do Tempo disputaram o direito de semear aquela semente. O conflito, que por pouco não causou a destruição do mundo, foi resolvido por Tempo. Ele dividiu a semente em duas metades iguais e deu cada uma a um de seus filhos. As metades plantadas deram origem a duas irmãs elfas gêmeas. Nelas residia uma diferença na cor da pele: a semente plantada por Dia deu origem a uma elfa com a pela tão branca como a neve; Já a plantada por Noite gerou uma deusa de pele negra como o ébano como a neve.
Dia e Noite cortejaram e copularam com muitas deusas – algumas deusas inclusive copularam com os dois irmãos – mas Branca e Negra se mantiveram castas e imunes às investidas dos filhos do Tempo. As irmãs eram muito unidas e compartilhavam seus segredos mais íntimos, mas mantinham-se ignorantes sobre as disputas de Dia e Noite. Dia almejava desposar Negra, mas era extremamente ciumento em relação à Branca. Por outro lado, Noite cortejava secretamente Branca, mas evitava a todo o custo que os olhos de Dia caíssem sobre Negra. Este impasse durou até que Branca e Negra se apaixonaram pelo mesmo Deus: Dia.
Dia, é necessário destacar, possuía uma luminosa própria, porém mais muito tenra e aconchegante do que possui hoje. Se hoje não podemos olhar diretamente para Dia é porque um plano motivado pelo ciúme e pelo veneno da paixão...
Quando Negra revelou que amava Dia, Branca quase não pode esconder sua decepção e desespero. Temia Noite, por conta das histórias terríveis que Dia lhe contava e dias antes da confidência da irmã, soube que Dia desejava sua irmã. Seus pensamentos se voltaram para a tristeza e a solidão que haveria de experimentar, caso Negra e Dia ficassem juntos. Seus pensamentos foram ouvidos por Noite, que propôs a ela um acordo: Ele afastaria Dia e Negra e faria com que Branca tornasse consorte de Dia. O preço a pagar pela felicidade seria apenas um: Branca teria que ser amante de Noite. A infidelidade era o tributo a ser pago por desejar a infelicidade da própria irmã.
Branca hesitou por um tempo, mas corroída pelo ciúme aceitou a proposta de Noite. O sombrio filho do Tempo foi até terras infinitamente distantes e capturou a estrela mais brilhante dos domínios do Universo, colocando uma maldição nela. Em seguida, Noite entrou em conflito por um motivo fútil e ambos se enfrentaram em um duelo, que foi vencido por Dia – mais uma estratégia de Noite. Dia reivindicou um tributo pela vitória e Noite o presenteou com a estrela, moldada de forma a ser uma resplandecente coroa. Dia ficou deslumbrado com o presente e colocou o adorno em sua própria cabeça, que aumentou em mais de mil vezes a sua luminosidade pessoal. Noite também permitiu que Dia desposasse Noite, se este fosse o desejo dela. Feliz com esta notícia, Dia procurou Negra para lhe contar as novidades. Ele não tinha dúvidas que Negra aceitaria seu pedido de casamento. Quando a encontrou, Dia pediu que Negra o olhasse nos olhos, pois tinha algo muito importante para lhe dizer. Porém quando Negra atendeu ao pedido da divindade, o brilho intenso da coroa estelar queimou irreversivelmente os seus olhos e gritou de dor. Dia, percebendo o sofrimento de sua amada, tentou remover a coroa, mas ela não saia de sua cabeça. Tentou cobrir a coroa com suas mãos e suas vestes para a luminosidade não cessava. Seu desespero ao ver Negra se contorcer de dor logo virou ódio pela perfídia de seu irmão Noite. Abandonou sua amada, cego pela ira contra o irmão.
Negra foi ajudada por Branca, que assistiu tudo a uma distância segura. Amparou a irmã, cuidou de seus ferimentos. Por fora demonstrava solidariedade, mas no fundo estava feliz pela desgraça sofrida pela irmã. E pela primeira vez, Branca mentiu para a sua irmã: ela disse que Dia a cegou de propósito, como castigo por ela ser imperfeita, um ser incompleto e dividido, tudo por culpa da teimosia de Noite, que não o deixara plantar a semente inteira. Negra tomou as palavras de Branca como a mais cristalina verdade – sua irmã nunca tinha mentido para ela – e confusa pela dor e decepção, as palavras de sua irmã pareceram um argumento irrefutável. E ter seu amor por Dia destruído desta forma, causou à Negra uma Dor muito mais profunda do que o ferimento incurável nos olhos.
Enquanto isso, Dia confrontou Noite novamente. Surrou severamente o irmão sombrio e exigiu que o mesmo retirasse a coroa. Noite disse que a maldição só poderia ser quebrada de uma forma: “somente as mãos de um amor verdadeiro, puro e recíproco, podem retirar o fardo resplandecente da traição”. Ao ouvir estas palavras, Dia foi ao encontro de Negra, pois o amor de ambos era puro e recíproco e somente ela poderia quebrar a maldição. Mas quando a encontrou, amor que existia entre eles se quebrou: só restara a mágoa e a dor da traição. E palavra alguma de Dia fez Negra mudar de idéia.
Tempos mais tarde, Branca – com a ajuda de Noite – conseguiu seduzir Dia e tornou-se sua esposa. Ao mesmo tempo, Negra aceitou Noite como seu consorte. Os filhos destas uniões resultaram nos primeiros elfos brancos e nos primeiros elfos negros mortais. Os filhos de Negra e Noite herdaram de sua mãe uma versão menos severa de sua cegueira à luz estelar que adorna a cabeça de dia. Como compensação Noite, concedeu a eles uma extraordinária visão na mais completa escuridão.
Negra e Branca mantiveram relações cordiais, mesmo sendo esposas de irmãos rivais. A cumplicidade já não era a mesma, pois as duas não se viam com a mesma freqüência, encontrando-se esporadicamente somente durante os períodos de vigília de Aurora e Crepúsculo – guardiões enviados por Tempo para garantir que Dia e Noite cumprissem o “Tratado da Metade” (que divide ao meio o período de domínio de cada um). Mas Negra ainda amava sua irmã e ensinava seus filhos a amá-la. Branca – que já obtivera a felicidade que queria – também permitia que seus filhos brincassem e amassem os filhos de Negra.
Tudo mudou quando Negra encontrou Branca copulando com seu marido, Noite. Possuir a esposa de Dia era especialmente saboroso para Noite, pois ao contrário do irmão, tinha o privilégio de saborear as duas metades da semente que disputou arduamente com o irmão. Branca não sentia prazer – apenas repulsa – em se entregar à Noite e tinha desprezo pelos filhos que nasciam de suas relações, mas sabia que não poderia quebrar o acordo que fizera para destruir o amor entre Branca e Dia.
Desde este acontecimento, Negra passou a odiar mortalmente sua irmã Branca e a desprezar o seu marido Noite. No entanto aprendeu a seduzi-lo e a satisfazê-lo para aumentar seus próprios poderes e para aprender seus segredos. Quando aprendeu tudo o que podia e se fortaleceu ao máximo abandonou Noite, que não teve forças para detê-la. Até hoje, os dois travam duras batalhas pelos domínios sombrios. Quanto à Branca, Negra ensinou a seus filhos que devem odiar seus irmãos brancos, pois os mesmos são rebentos de uma vil traidora. Os filhos de Negra, enfurecidos, começaram a caçar e matar todos os elfos brancos que encontraram. Branca procurou sua irmã e tentou convencê-la de que os assuntos pendentes entre elas deveriam ser resolvidos entre as duas, sem envolver seus filhos mortais. Negra se recusou a escutar a irmã e continuou com as ostensivas hostilidades contra os elfos brancos. Temendo a extinção de sua prole, Branca treinou e organizou os elfos brancos dando início à primeira guerra entre os mortais.
As hostilidades entre as duas raças irmãs prosseguiram mesmo após o Expurgo dos Deuses – quando as divindades foram obrigadas a fugir do mundo material e se refugiar em outro plano de existência – e continuam até hoje.
"Under the iron bridge we kissed
And although I ended up with sore lips
It just wasn't like the old days anymore
No, it wasn't like those days"