O sol mergulha no horizonte e, como um afogado, se contorce em últimos suspiros de sombras escarlates antes que a noite cubra seu rosto com o véu da morte. Hoje, entretanto, as estrelas reluzem acompanhadas de bruxuleantes brilhos de tochas revoltas, escondidas nas matas e bosques das minhas terras.
Tão alto sentei-me na minha torre de marfim! Surdo pelo clamor da conquista, não pude ouvir as conspirações sibiladas através das paredes. Mesmerizado pelo fulgor de infinitas constelações, ignorei expressões de sofrimento e tristeza. Bastou, porém, a gélida e gentil brisa do crepúsculo para quebrar o encanto, cantando ao meu ouvido que havia chegado a minha hora. Agora, tudo que vejo são fogueiras, ao redor das quais diabólicas tramas misturam-se ao crepitar do fogo, temperando o ferro do meu assassínio.
Noite a noite, fecham-se sobre mim chamas cobertas em escuridão. Escórpio, tornastes um monstro, acossado em teus sonhos? O que farão eles, quando velozes galgarem todos os degraus das escadas espirais e eu não mais for capaz de impedi-los de entender... será o fim. Guardas, queimem a torre!