Parte XVII
Sleipnir estava sentado ao braço do trono de seu pai, observando suas irmãs comerem. Elas agiam como se nada estivesse ocorrendo, alheias ao estado de teu pai, ou mesmo aos motivos aos quais Sleipnir teve para castigar Brunnhild. Por vezes olhava a jovem, que vinha se recuperando da pancada mais rápido que ele próprio imaginara. A via caminhando pela casa, ralhando com todos, querendo ter suas vontades feitas. Sua pequena ira só não era direcionada a Sleipnir e a Skuld, que nos últimos dias encontrava-se com um gênio sem precedentes, e a jovem Brunnhild não gostaria de testar a paciência da mãe naquele estado.
Sleipnir mantinha-se naquela posição a maior parte do tempo, era a única posição que podia manter até o retorno de seu pai, ou até o sepultamento do mesmo. Teoricamente, com a morte de Hadagash, Sleipnir seria o próximo Konungr, só assim ele teria o direito de sentar-se no trono, até lá, podia apenas manter-se em um dos braços.
Ele viu Fangral adentrar a sala, com a face vermelha, ainda trocando as pernas. Sentou a mesa, comendo como um porco, sem cerimônias, apenas enchendo as grandes mãos e as levando a bocarra. Os olhos por vezes cainham sobre Sleipnir, implorando para que o irmão olhasse para ele também. Quando realizado teu intento, fez um grosseiro sinal para encontrar com ele fora da casa.
Sleipnir ainda manteve-se sentado, observando o irmão bêbado, tentando ser discreto. Bufou, erguendo-se, caminhando até a saída.
Observou o sol já se pondo no horizonte, tingindo o cenário de vermelho e laranja. A leve brisa fria que vinha do mar, enchia seus pulmões e acalmava seu espírito. Com passos curtos caminhou até a área atrás de sua casa, onde Hadagash cortava a lenha e onde lhe ensinou os primeiros movimentos com uma pesada espada de madeira.
O moreno esperou ali por alguns minutos, quando Fangral surgiu, estava com o torso nu, e os cabelos molhados, ignorando o frio que pudesse estar fazendo. Sua face ainda encontrava-se avermelhada, porém seus passos já tinham firmeza e rumo certo.
Passou por Sleipnir, sentado no toco que era usado como base para o corte da lenha. Sleipnir observou o percurso do irmão bastardo, acompanhando ele em seguida.
- Digas o que tu queres Fangral.
- Puto, diga-me uma cousa, de todos os nobres notificados, todos já partiram. Correto? - Fangral pigarreou antes de começar, assim como ao terminar, sua voz ainda estava pastosa e difícil de entender, por isso ele falava lentamente.
- Sim. - respondeu secamente o homem de cabelos negros.
- E os mensageiros partiram antes dos jarls, sendo que uns poucos retornaram com respostas. Ou seja, alguns dos exércitos já se preparam para a guerra vindoura.
- Sim Fangral, assim como uns se negaram a fazer parte de tal cousa. Porém, o que queres dizer? Com a breca, pares de rodear, como um porco procurando trufas.
Fangral riu do irmão, encarando o mesmo com olhos pequenos e alegres, tanto pelo efeito da bebida, como pela impaciência de Sleipnir. Torceu os longos cabelos, e pigarreou mais uma vez.
- Então, diga-me, Puto, o que estarias a fazer aqui um mensageiro a muito designado a partir?
- Sobre o que estas a falar Fangral? - indagou surpreso, Sleipnir.
- Hätte, o mensageiro de Sefnir, ainda se mantêm sobre as sombras da vila.
- Tens certeza Fangral? Juro-te que o vi partir no mesmo dia que Gjjurg me ofendeu. - disse Sleipnir, colocando a mão no queixo, pensativo.
- Bem, eu o vi na casa de moer pouco tempo depois, assim como o tenho visto todas essas noites. Ou ele viajou como um trovão durante a chuva que caia, ou apenas fingiu que deixava-nos, para poder maquinar o quer que esteja maquinando. Aquele maldito ruivo sardento dos infernos! Devíamos prendê-lo a duas árvores envergadas, então soltá-las, para que o corpo do meninote fosse partido ao meio. - sorriu sadicamente o loiro.
Sleipnir sorriu, desviando seus olhos levemente para uma das esquinas da casa, podendo ver um pequeno vulto escondido ali. Gatunamente fez um sinal para Fangral, tornou sua cara seria. Fangral então girou o pescoço, como se o fizesse para relaxar, aproveitando para olhar o vulto no processo.
- Aconselho-te a vir para onde possamos vê-lo, caso não o faças, juro-te pela minha honra que esse será teu último momento de vida! _ disse friamente Sleipnir, voltando seu rosto na mesma direção. Fangral ergueu-se, pegando o machado, com claros sinais de ferrugem, guardado ao lado da tora onde estava sentado.
Brunnhild então se revelou aos irmãos, sua face vermelha pela vergonha de ter sido pega e seus olhos temerosos à reação dos irmãos.
- Homessa, o que fazes aqui pequena?! Desde quando tens os modos vis de observar cousas que não são do teu intento?! - gritou Fangral, largando o machado.
A jovem encolheu frente ao olhar inquisitor dos irmãos. Respirou fundo, dando alguns passos em direção a eles, de cabeça baixa. Postou-se a alguns passos deles, os olhando firmemente.
- Esse ruivo com manchas, minha pessoa o avistou por essas bandas na noite anterior e no dia que o Konungr caiu doente. Ele esgueirava-se como uma serpente por entre a casa e as pessoas.
Fangral e Sleipnir se entreolharam, e então sorriram sadicamente.
(...)