Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 17 Mar 2008, 18:09

Olá pessoas,

Estou trazendo hoje a terceira parte do conto, a penúltima. Espero que gostem. Todas as 4 partes do conto significam muito pra mim. Essa, em específico, é especial por causa das várias amizades que eu já tive. E elas sempre deixam marcas em mim. Tanto boas quanto ruins. Espero que entendam também o fato de alguns parágrafos serem um pouco grandes. Enfim, essa parte já dá uma idéia do que vem pela frente, do que irá tratar a última parte do conto, acho.


Parte Três
Vitória na alvorada



Mas, ao contrário de todas as previsões sarcásticas de Hansuke, o jovem soldado Koji Kiyoshi saiu-se muito bem na guerra. Lutou bravamente no campo de batalha, matou mais inimigos do que a maioria dos outros soldados, salvou aliados feridos e numa certa ocasião vagou pelo campo de batalha aniquilando qualquer um que cruzasse seu caminho por ininterruptas trinta horas.

Perdeu as contas de quantas cabeças decepou. Perdeu as contas de em quantas cabeças tropeçou. E quase perdeu as contas de quantos amigos viu morrer. Ainda lembrava-se do número exato, porque era difícil esquecer a sensação. No entanto, não chorou nenhuma vez. Deixou seu coração em casa antes de ir à guerra. Seu coração ficara lá no vilarejo em que ele nascera e crescera, com todos que ele amava. E talvez tenha sido por isso, por tornar-se um guerreiro sem coração, que ele se saíra tão bem na guerra.

Agora, porém, com a guerra vencida, ele e seus companheiros de tropa sobreviventes voltavam para casa. Todos conheciam muito bem esse final da estrada. Todos, com exceção dele, choravam de alegria. Não, Koji nunca chorara de alegria. Mas ele estava alegre; mais do que muitos ali. Céus! Como era bom estar de volta. O outono se aproximava e o vilarejo estava lindo com as árvores tingidas de dourado. Faltava ainda um quarto de hora para o sol nascer e poucas pessoas vagavam pelas ruas, o que certamente contribuiu para eles serem logo vistos.

“Olhem, são eles! Os soldados voltaram!”, gritou um garoto que estava pegando água de um poço. Largou seu balde e foi correndo até aos soldados. Logo outros chegaram, chamaram mais outros, e em poucos minutos todos aqueles que há três estações atrás seguravam tochas e se despediam dos soldados que passavam em direção ao quartel agora estavam ali com cara amassada dando as boas vindas aos recém chegados.

E então começou um misto de gritos de alegria e de tristeza por parte de alguns soldados que reencontravam seus familiares e de familiares que não reencontravam seus soldados. Não muito depois, Koji avistou sua irmã vindo correndo e sua mãe caminhando mais atrás. Foi até elas, pegou sua irmã no colo e distribuiu-lhes vários beijos. Ambas choravam compulsivamente e nada diziam, mas não era preciso.

Os três então foram para casa. Sua mãe continuou sem dizer nada e tudo que sua irmã disse no caminho é que estava com saudades e que a cadela deles havia tido filhotes. Quando passaram perto da casa de Hansuke, encontraram sua mãe na frente da casa, cuja foi logo abraçá-lo também. Tinha um carinho enorme por ela, e ela por ele.

“Hansuke sentiu muito sua falta. Estávamos todos muito preocupados. Ficou meses dormindo muito mal. Passou a dormir melhor apenas há uma semana atrás quando um mensageiro nos informou que a guerra estava praticamente vencida e que você estava vivo. Espere aqui que vou acordá-lo”, disse ela já se virando para entrar na casa.

“Não, senhora, por favor, deixe que durma. Ele odeia ser acordado. Quando ele se acordar, diga que eu estou em casa e que estarei esperando uma visita.”

“Tem certeza? Ele adorará vê-lo.”

“Sim, tenho. Não há porque ter pressa. Está tudo bem agora e eu estou de volta”, disse ele dando um grande sorriso.

“Está bem, então. Venha jantar conosco esta noite.”

“Não sei, senhora. Há várias pessoas que quero rever ainda hoje e acho que todas me convidarão para jantar”, respondeu ele ainda sorrindo bastante. E então os três continuaram caminhando.

Quando chegou a casa, Koji primeiro tirou de um bolso um pergaminho todo dobrado e todo sujo e o colocou com cuidado em cima da sua cama, e depois do outro bolso tirou um pedaço de carvão pontiagudo e o depositou ao lado. E então tirou a vestimenta rasgada, suja e fedida que usara na viagem de volta e tomou o banho mais demorado da sua vida.

Depois do banho, após muitos meses, colocou uma roupa limpa e tomou café da manhã com sua família. Logo em seguida se preparou para sair novamente. Pegou o pedaço de pergaminho e, depois de refletir um pouco, decidiu pegar também o pedaço de carvão e colocou-os nos bolsos. E saiu de casa. Não caminhou nem dez metros e parou. Lá vinha Hansuke, caminhando depressa rumo a sua casa, com olhar fixo no chão. Parecia que falava sozinho e tinha os olhos cheios de lágrimas.

“surpreende... Não me surpreende mesmo. Claro que iriam deixar o Hansuke por último de novo. Quem se importa com o Hansuke? O vilarejo inteiro já sabe, menos o Hansuke. Nem para passar na minha casa e ver se o Hansuke está bem, como passou Hansuke? Sonhou com os anjos?”, e nesse momento ele viu Koji e percebeu que ele estava olhando-o. Fingiu que não percebeu e começou a falar mais alto.

“Quanta ingratidão. Quando aparece aquele palerma do Fuyuki para falar mal, quem é que defende? Quando a irmãzinha está tristinha porque o irmão nunca volta, quem é que a anima? O Hansuke. O Hansuke está lá sempre que todos precisam. Mas, para avisá-lo que os soldados voltaram, coisa que eu estava esperando desde que eles foram embora, porque eu fui o último a vê-los partir, sim, sim, eu fiquei lá sentado na lama esperando para vê-los partir e ninguém quis mais vê-los voltar do que eu e quem estava lá para avisá-lo que eles voltaram? Ninguém! E o imbecil ainda passa na frente da minha casa e nem me chama. Ah, coitadinho do garotinho, deixa ele dormir mais um pouquinho. Que ódio! E o pior é que sou obrigado a ouvir o obtuso do Huyu dizendo que eu sou a pessoa mais ignorante do mundo porque eles já chegaram há horas e todo mundo com exceção do Hansuke já está sabendo.”

“Chegamos há uma hora”, disse Koji sorrindo.

“Seu tolo!”, gritou ele. Então o alcançou e o abraçou com força. E sem soltá-lo, continuou falando alto e chorando. “Senti muito sua falta, sabia? Não sabe o quanto esse vilarejo é supérfluo sem você. E eu sabia que ia acabar com eles”, e então disse algum palavrão que Koji não conseguiu entender direito porque o choro já o impedia de falar. O abraço foi longo e ambos estavam felizes. E até onde Koji se lembrava, esse era o primeiro abraço que dava no seu melhor amigo desde que se conheceram. Eram amigos há anos, mas ele não sabia por que razão jamais o havia abraçado.

“Meu ídolo e meu irmão”, disse Hansuke soluçando e ainda sem soltá-lo. “Eu disse que você iria acabar com todos eles, mas ninguém acreditou. Agora eles têm o que merecem, porque minha mãe disse que o general falou que você foi um dos melhores soldados na guerra e que ganhará uma medalha de honra e será promovido a oficial.” Essa era uma novidade para ele. E ele não estava nem um pouco inclinado a aceitar. No entanto, mudaria de idéia antes do sol nascer novamente.

“Hansuke, é muito bom ver você novamente”, disse ele. “Melhor ainda é saber que continua o mesmo”, e começou a rir. O amigo finalmente o soltou e sorriu.

“Ei, Koji, meus parabéns! Falaram que você foi incrível”, disse um garoto do tamanho de Hansuke que passava por eles carregando um saco de arroz.

“Sim, Yamato, agora todos vão ter que mostrar respeito na frente do meu amigo aqui”, respondeu o sorridente Hansuke. Depois, virou-se para Koji. “Venha, vamos dar uma volta por aí”, disse ele dando uma piscadela.

E eles caminharam bastante pela vila, e todos que os encontravam elogiavam o jovem soldado Kiyoshi e sua grande bravura. E quem mais sorria de puro orgulho era o mais jovem ainda Hansuke. Ao chegarem a um bosque, Koji parou de repente e ficou imóvel.

“Veja, Hansuke. Que linda paisagem.”

O amigo riu. À sua frente estava o bosque que ele, Hansuke e outros garotos usavam há não muito tempo para brincar. Já havia se esquecido completamente desse bosque, e principalmente de quão bonito ele fica quando todas as suas árvores estão com as folhas amarelas, douradas e vermelhas. Como era incrível ver tudo isso após conhecer a morte, respirá-la, vivê-la e sobreviver a ela.

“Momijigari, samurai! Ainda é outono!”, respondeu ele e saiu correndo em direção ao bosque, chutando os montes de folhas que já estavam no chão e jogando-se por cima de outros. Koji foi atrás dele e fizeram uma guerra de folhas mortas. Sem cabeças pelo chão. Depois, deitaram-se nas folhas e ficaram conversando, colocando o assunto em dia. E, inevitavelmente, Koji acabou lembrando-se dela, a verdadeira razão dele ter saído de casa logo após comer. Como pôde se esquecer?

“Como pude me esquecer? Hansuke, preciso ir. Depois nos falamos. Preciso vê-la”, disse ele levantando-se.

“O quê? Não, fique mais um pouco. Ainda está cedo”, respondeu ele se mexendo sobre as folhas secas e fingindo estar adorando o som que faziam.

“Preciso ir, amigo. Talvez eu vá jantar na sua casa esta noite, mas de qualquer maneira eu passo por lá para fazer uma visita.”, virou-se e foi caminhando.

“Não, espere”, disse Hansuke, mas sem força na voz. Sabia que nada impediria o amigo de ir em frente. Mas, as coisas estavam tão bem ali naquele bosque. Eles estavam tão felizes. Por que ele não a esquecia?

Por que o tempo não parava?
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Elara em 18 Mar 2008, 14:34

Alex, o interessante,

Impressão minha ou o Hansuke tem ciúmes da moça?

No mais, bem fluido como as demais partes. Deliciosa leitura.

Chero!
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 18 Mar 2008, 15:37

Elara, a empolgada,

Isso veremos na última parte do conto.

Que bom que a leitura fluiu bem.

Eu tava com receio de que essa parte fosse um pouco desinteressante e não empolgasse o leitor para a parte final. Espero que a animação continue. Obrigado pelo comentário e estarei aguardando seu comentário também na última parte, ok?

:b
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor laharra em 18 Mar 2008, 23:29

Grande Aleχ, o conto continua com um alto nível. Já estava me perguntando se ele não ia ver a moça. De repente caiu a ficha nele e em mim. Essa parte tem mesmo cara de um "ponte" para o final.

Só não gostei de uma coisa: o uso de "Mas" no começo do texto. Desnecessário e estranho. Experimente tirá-lo da frase, vai ficar a mesma coisa. Eu não sou expert em língua portuguesa, mas o uso de conjunções serve para criar uma relação entre orações, então não sei se é certo usar algumas delas no começo de um texto. Alguém que saiba teoria pode até dar uma explicação melhor.

Gramática à parte, estou ansioso pelo último capítulo. E não falo por falar. Estou curioso mesmo para saber o desfecho da história. Abraços. :cool:
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
http://www.spellrpg.com.br/forum/viewtopic.php?f=24&t=1067
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 19 Mar 2008, 12:19

laharra, brigado por estar acompanhando! Espero que o último capítulo responda bem às expectativas.

E concordo quanto ao "mas". Nesse ponto de vista também não gostei. Acontece que quando eu escrevi, eu terminei a segunda parte e já comecei a terceira, então para mim ficou sim como uma relação entre o fim da segunda parte e o início da terceira. Se você juntar as duas, verá que faz sentido.

Porém, acho que você tem razão porque a partir do momento que eu separei o texto em capítulos diferentes, acabam-se essas relações e cada parte torna-se independente das outras, estruturalmente falando. Não sei se a gramática especifica algo referente a isso, mas de qualquer maneira ficou algo feio mesmo. :b

Estarei aguardando seus comentários na última parte. Abraço!
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 23 Mar 2008, 14:13

Olá,

Hoje estou trazendo a quarta e última parte do conto. Torcerei para gostarem bastante desse final. Infelizmente ela é um pouco maior que as outras três, mas espero que tenham paciência e encontrem um tempinho para ler. E agora que todo meu trabalho está disponível, estarei de braços abertos para todas as críticas. Muito obrigado pelo apoio, isso realmente me incentiva a postar mais trabalhos meus aqui.

Eu tinha planejado postar uma parte a cada 8 dias, mas estou postando essa mais cedo porque durante a semana talvez eu não tenha muito tempo livre. E laharra, lamento se a última parte não começa muito diferente da terceira. :pidao:

Quando der eu volto aqui para ler comentários.

Abraços!


Parte Quatro
Derrota no crepúsculo



De qualquer maneira, seguiu o amigo de longe, sem deixá-lo perceber. Koji sorria enquanto atravessava todo o vilarejo. Teria tempo para conversar com Hansuke durante a noite, mas agora precisava vê-la.

Jamais tivera e jamais teria tanto amor por uma pessoa como o que tem por ela. Passar tardes inteiras abraçado a ela, rindo, divertindo-se e comendo seus pratos preferidos do jeito que só ela sabia preparar era o indício mais concreto de que ele era feliz por excelência. Quando estava com ela, todo o resto era desnecessário. Sentia-se realmente angustiado por todos aqueles que não eram e nunca seriam agraciados com tamanho amor. A vida para ele fazia todo sentido quando tinha ela por perto, e não passava de uma paisagem cinza e fosca quando se despedia dela e reencontrava o mundo real.

Céus! Como queria beijá-la agora mesmo. Já estava tudo planejado. Primeiro passaria horas matando a saudade, depois mostraria a ela o que trazia no bolso e então, se ela assim quisesse, casar-se-iam o quanto antes. Seu coração já palpitava de emoção enquanto subia a estrada para a cabana. Achava isso muito engraçado. Era só pisar naquele caminho tão bem conhecido e seu coração já disparava. Era completamente involuntário. E agora, mais do que nunca, pela importância da situação.

No meio do caminho já avistava a cabana e um modesto fio de fumaça saindo da chaminé. Acelerou os passos. Sentia agora cheiro de geléia, mas uma geléia diferente, exótica. Não era um cheiro ruim, mas também não era seu preferido. Sentia também cheiro de carne assada. Começou a correr. Pensou em gritar seu nome, mas talvez fosse melhor fazer uma surpresa. Corria cada vez mais depressa. Será que ele não percebia as rodas do destino girando a todo vapor? Por acaso, percebia. E aquilo tudo estava deixando-o em estado de êxtase.

Percebia, além disso, um barulho sistemático e ríspido vindo dos fundos da cabana. Aliás, agora já podia ver a cabana claramente. Porém, as coisas pareciam um pouco diferentes. E pouco mais tarde ele iria perceber que estavam completamente diferentes. Mas, agora, toda sua atenção estava focada num único lugar. Lá estava ela, saindo da cabana, bela como sempre. Sua mais valiosa flor de cerejeira, saindo do seu ninho de amor. Carregava um cesto cheio de roupas lavadas e, se ele a conhecia bem, estava indo estendê-las nos fundos da cabana.

Se Koji prestasse bem atenção, veria que havia muitas roupas ali para apenas uma jovem que morava sozinha, mas que importância tinha o cesto diante de tão valorosa jóia? E ela o viu.

“Oh, Koji! Koji? É você mesmo?”, disse ela colocando o cesto no chão.

Era ele. E era ela. Ele não sorriu, não chorou, não reagiu. Apenas olhou nos seus olhos e caminhou determinado em sua direção. Ela, por outro lado, sorria muito.

“Koji! Quanto tempo. Que saudade eu já estava sentindo, você não tem idéia”, disse ela com o mais radiante sorriso.

Ela percebeu que ele andava inflexível, e ele percebeu que, apesar do seu sorriso, ela não estava fazendo o mesmo. Apenas sorria, estática, em frente à porta da cabana. O que estava passando pela sua cabeça agora? Estava passando alguma coisa pela sua cabeça? Que diferença fazia? Depois do toque, viria o beijo, e então, nenhuma pergunta sobreviveria. Mas, antecedendo a tudo isso, veio a voz.

“Sakura!”, disse o jovem que agora já era um homem. E ele o disse um décimo de segundo antes da mão suada encostar-se ao ombro cheiroso, talvez dois décimos antes da boca tremente tocar a boca sorridente, mas, certamente, no exato momento em que o calor do inferno começava a aquecer os miolos daqueles que, como Koji, estavam presos à imparcial roda do destino. Que esplêndida harmonia!

Koji estacou, paralisado, ainda olhando nos olhos dela. E ela não mais sorria. Quem dissera aquilo? Havia sido ele? Sim? Não, provavelmente não. Ele estava completamente concentrado no que estava fazendo e não fazia idéia nem de onde a voz havia chegado. Porém, logo soube, quando de trás da cabana surgiu o dono dela.

“Sakura?”, disse ele de novo. E foi ela quem primeiro falou. E que alegria; ela voltara a sorrir.

“Ayahiko, olhe!”, disse segurando no ombro de Koji e olhando para o outro. “Este é Koji, aquele amigo que havia ido para a guerra. Já voltou. Isso não é ótimo?”

“Ah, então você é o Koji? Sakura me falou de você. Contaram-me que se saiu bem na guerra. Meus parabéns!”, disse ele sorrindo, mas Koji permanecia sério, olhando nos olhos dela, embora ela não mais olhasse para ele. E assim permaneceu.

“Ah, desculpe-me. Não me apresentei”, disse ele ao ver que Koji não reagira. “Prazer, meu nome é Ayahiko Ishikawa, casei-me com Sakura há pouco mais de um mês e esta...”

“Casou-se?”, interrompeu Koji, finalmente olhando para ele.

“Sim”, respondeu ele sorrindo novamente.

“Bom, amor”, disse ela alegremente para seu marido, mas com uma certa cara de indisposição. “Vou estender essas roupas e deixá-los se conhecerem melhor. Koji, venha jantar conosco esta noite. Quero saber tudo o que aconteceu nessa sua aventura.” E após dizer isso, pegou novamente o cesto e foi para os fundos, de onde Ayahiko havia vindo.

“Está bem, amor. Tenho certeza de que vamos nos dar bem”, respondeu ele dando um tapinha nas costas de Koji. “Então, Koji, as coisas aconteceram muito rápido, sabe? Tudo mudou de repente. Eu e Sakura nos conhecemos...”, mas Koji já não estava ouvindo mais nada do que Ayahiko dizia.

Era como se um bloqueio houvesse sido criado dentro da sua cabeça. Por que ela sorria? Não era possível que aquele sorriso fosse sincero, era? Mas, era sincero, ele sabia disso. Depois de tantos anos de convivência, ele já sabia muito bem quando ela expressava com sinceridade suas emoções. Apesar de não saber a razão da alegria, sabia que ela estava alegre. Como era capaz?

Tudo que ele expressava agora era uma careta de quem comeu e não gostou. E o bocó não parava de falar. Por que não entupia a boca com damascos? Damascos? Sim, sim, agora reconhecia o cheiro estranho; eram damascos. Que horror! Geléia de damasco. Como pôde pensar que o cheiro não era ruim? Estava hipnotizado, é claro. E a careta ficou mais feia.

“Ei, você está bem, amigo?”, disse Ayahiko, mas Koji nada respondeu.

Em que lugar ele estava? Só agora percebia que o local estava bem diferente da última vez que estivera ali. Ignorando o anfitrião indesejado, olhou em volta. Estava tudo muito diferente. A cabana estava maior do que antes. Ou ele deveria abolir o termo e começar a chamá-la de casa? A ampliação fora feita com uma madeira muito mais ostentosa, dando um ar de despensa para a porção antiga, aquela que ele havia construído com todo carinho para sua amada.

Sua cabeça estava rodando. Achava que iria desmaiar. Aquele cheiro o enjoava mais do que tudo. E aquele sujeito ao seu lado o enojava mais do que qualquer espécie de damasco. Olhou para o lado, procurando mais alguma diferença, e logo se arrependeu. Adjacente à casa, havia uma árvore que antes não existia. Certamente fora colocada ali enquanto ele estivera na guerra. Estava cheia de flores brancas, mas não era uma cerejeira. Cerejeiras não florescem no fim do outono. O que seria então?

“Um... damasqueiro...”, murmurou ele.

Agora achava que vomitaria a qualquer instante. Que ousadia plantarem um damasqueiro logo ali. Ela sabia muito bem que ele odiava damasco, mais do que qualquer outro alimento. E ela permitira que um damasqueiro fosse colocado ali? E ela estava preparando geléia de damasco? Será que ele morrera na guerra e finalmente havia chegado ao inferno? Se não, então morreria agora. E precisava sair dali o quanto antes, senão isso realmente aconteceria. Procurou tontamente pelo caminho de onde viera e, quando o achou, começou a caminhar por ele.

O elemento atrás dele ainda insistia em dizer ‘O que houve, amigo?’, ‘Está passando bem?’, ‘Quer um copo d’água?’, mas ele estava surdo agora. A última coisa que ouvira era algo referente a eles se darem bem, e então ouviu sobre algo ter acontecido muito rápido. E agora precisava ir embora dali. Começou a correr pelo caminho, cambaleando e quase caindo de vez em quando. Até que depois de Ayahiko o perder de vista, encontrou alguém à frente vindo em sua direção. Será que era ele ainda? Não, não podia ser. Ele não pode voar. E realmente não era ele. Era alguém menor, sem barba. E quando o alcançou, pôde ver: era Hansuke.

“Não, Hansuke, agora não. Deixe-me em paz”, disse ele passando pelo amigo e seguindo o caminho.

“Espere, Koji. Eu tentei avisá-lo antes e você não me deu ouvidos. Agora, por favor, espere”, disse Hansuke indo até ele e mais uma vez o abraçando, pela segunda vez na vida. “Não precisa dizer nada, parceiro. Eu estou com você. Venha, vamos embora daqui.”

E os dois caminharam, mas apenas Hansuke falava. Falava coisas engraçadas sobre todos que via passar por eles, embora Koji em nenhum momento tivesse prestado atenção em algo que o amigo falava. E, repentinamente, depois de andarem por algumas horas, Koji falou.

“Hansuke, muito obrigado por me fazer companhia, mas eu realmente preciso ficar sozinho um pouco. Não pense que é algo contra você, por favor.”

“Mas, Koji...”

“Você deve entender minha decepção. Deve entender que preciso de um momento sozinho.”

“Promete que vai ficar bem? Você é meu melhor amigo. Na verdade, é meu único amigo, assim, de verdade. E me preocupo com você. Sei que está se sentindo um lixo, mas tente não se esquecer das pessoas que realmente se importam com você e que jamais o abandonarão.”

“Eu sei disso, Hansuke”, respondeu ele sorrindo. “Mas, ela é uma grande amiga, acima de tudo. Como pode me magoar e ainda ficar sorrindo? Pergunto-me o que passa por aquela cabecinha. Sei que lá não há maldade.”

“Você não me disse se promete ou não que vai ficar bem”, respondeu Hansuke depois de um tempo em silêncio.

“Prometo que sim, não se preocupe. Bom, vá para sua casa. Estarei lá no início da noite. Decidi que vou jantar com vocês.”

E então se foi, deixando Hansuke para trás. E o garoto ficou ali por mais um tempo, vendo o amigo indo caminhar pela vila. Já havia parado de babar e de cambalear há muito tempo, mas parecia que a qualquer momento desmaiaria. Ele esperava, do fundo do coração, que tudo isso acabasse logo, que ele superasse toda essa situação o mais breve possível. Porque o que ele mais queria é ver seu amigo sorrir novamente. Ele não poderia sorrir se Koji não sorrisse também. No fundo, porém, ambos sabiam que isso não aconteceria tão cedo quanto eles gostariam, embora fosse acontecer algum dia, certamente.

Não muito tempo depois, Koji chegou ao bosque que ele e Hansuke estiveram há algumas horas atrás. Lembrava-se bem, apesar daquilo estar agora há anos-luz da realidade. Por que ele não podia voltar no tempo? Jamais teria ido à guerra, se soubesse que a maior derrota estaria esperando por ele na volta, independente de quantos ele matasse. Koji caminhou lentamente arrastando os pés nas folhas secas. Seu estado atual era de solidão e completo desencanto. Não estava cansado, mas sua melancolia tirava todas as suas forças. Por fim, caiu de bruços no chão, sem mais condições de permanecer em pé, e por sorte seu peso foi todo amortecido pela grossa camada de folhas. Ou por azar. Ah, como ele adoraria levar um murro agora.

Soluçando, enfiou com dificuldade a mão no bolso e trouxe de lá o pedaço de pergaminho todo dobrado. Abriu-o por inteiro e deu uma analisada. Era horripilante. Estava todo sujo de sangue seco e cinzas. Nele estava escrito algo que parecia um poema, apesar de não ter sido escrito com essa intenção. Começou a lê-lo, lembrando-se das circunstâncias em que ele havia sido escrito. Fora há pouco mais de um mês, quando a guerra já estava encaminhando-se para o seu fim.

Começara a escrevê-lo às três horas da manhã, uma hora antes do início de uma batalha que duraria dez horas e que viria a acabar com todas as forças inimigas em Hokkaidō. Por acaso, foi naquele momento que ele mais sentiu falta das pessoas que amava. Como estariam todos? Estariam sentindo sua falta? Claro que sim. Ele também sentia falta deles. Com um pedaço de pergaminho que um dos seus amigos havia deixado antes de morrer e um pedaço de carvão, escrevera o que sentia, expusera toda sua nostalgia. Não pela família, nem pelo seu melhor amigo Hansuke, mas por ela. Era dela que mais sentia falta.

Terminara apenas quando a batalha já estava por encerrada. Sentara-se cansado ao lado de amigos e inimigos mortos e escrevera as últimas linhas. O dia ao seu redor não poderia estar mais feio. Estava frio e nublado, e se fosse inverno provavelmente já estaria nevando. O campo de batalha estava taciturno. Ele não comia há muitas horas e sua última refeição havia sido composta apenas por minhocas e água suja. E, pelo gosto, suja inclusive de sangue oriundo de batalhas anteriores.

E mesmo com todo o enjôo que sentia naquele momento, escrevera ali o fim do seu relato. Escrevera com a letra mais bonita que seu pedaço de carvão o permitiu. E no fim o pergaminho lhe pareceu a coisa mais bonita que já vira nos últimos meses. Agora, porém, jazendo humilde em meio à tão magnífica paisagem, era o pergaminho mais horrendo de todos. Continuou lendo e chegou enfim nas linhas finais.

Pode chover, nevar...
Aceito passar fome e sede...


Como essas linhas eram verdadeiras. E enfim, mais abaixo, a última linha.

Se pelo menos eu estivesse aí do seu lado’.


E agora? Ele havia voltado. Ela estava lá, na mesma cabana. Por que seus maus pressentimentos tinham de se confirmar? Voltando a chorar, enfiou a mão no outro bolso e pegou o pedaço de carvão que utilizara para escrever. Estava intacto ainda, para sua surpresa.

Erguendo-se nos cotovelos, tirou o amontoado de folhas à sua frente, colocou o pergaminho no chão duro de terra e preparou-se para escrever mais um pouco. Não sabia o que o futuro o aguardava, mas agora tudo o que ele conseguia fazer era lamentar o seu presente. Lágrimas caiam agora sobre o seu texto aberrante, deixando-o mais e mais disforme. Firmou com uma mão o pergaminho no chão e com a outra, à luz do sol poente, escreveu mais duas linhas. As legítimas linhas finais.

e também você estivesse do meu lado.
Como se nada tivesse acontecido.



FIM
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Elara em 24 Mar 2008, 13:41

O destino, ah, o destino.

Um final horrivelmente triste, mas verdadeiramente comum.

Parabéns pelo texto.

Chero!
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Lady Draconnasti em 24 Mar 2008, 21:08

Achei o final um tanto previsível, mas analisando aqui, se fosse diferente, ficaria muito manjado. O conto todo, em minha opinião, ficou mediano.

A única figura que parecia realmente ter vida na história toda, foi o Hansuke. Talvez você devesse ter trabalhado um pouco mais a história. Por que a guerra? Contra quem era a guerra?
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 25 Mar 2008, 00:07

Elara, muito obrigado. Espero não ter decepcionado.

Draconnasti, que pena que apenas Hansuke parecia ter vida. Koji era todo o princípio vital do conto e lamento muito não ter agradado minha descrição dos seus pensamentos e atitudes.

Quanto a trabalhar um pouco mais a história, acho que isso seria viável apenas se eu fosse fazer um romance. Acho que eu deveria ter feito o contrário. Acho que eu deveria ter dado menos foco à guerra, abstraído mais esse lado do conto, e focalizado na relação entre Koji e Sakura, que é o que realmente o conto estava disposto a tratar. A guerra é apenas o pano de fundo para as reviravoltas na vida de Koji.

Brigado pelos comentários das duas! Muito obrigado por terem acompanhado o conto e por comentarem. :victory:
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Gehenna em 25 Mar 2008, 12:03

Não acho que a guerra devesse ser mais detalhada. Apesar de um evento importante socialmente, não é o foco do conto. Porém, concordo que a relação Koji e Sakura devia ter sido melhor trabalhada.
O final foi previsível, mas muito bom. Não acho que outra coisa ficaria melhor.

E na terceira parte, achei a relação Koji e Hansuke meio boiola. :b
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 25 Mar 2008, 22:42

É verdade, a relação entre os dois poderia ser melhor trabalhada. E você também achou que o final foi previsível. Que pena. Na verdade acho que se a terceira e a quarta partes fossem lidas em seqüência, de uma só vez, talvez desse menos idéia de previsibilidade. Não sei...

E ouvir isso da relação deles é estranho, mas não deixa de ser uma declaração prudente. Eles são muito amigos, e eu tentei retratar uma amizade realmente verdadeira e para observador externo pode realmente dar essa impressão. :bwaha:

Enfim, brigadão também por ter acompanhado o conto e comentado. Vlw!
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor laharra em 26 Mar 2008, 13:04

Iae, Alex. Gostei do conto como um todo, e a forma como finalizou o quarto capítulo, mas acredito que ele poderia ter sido melhor trabalhado. Como estava acompanhando desde o começo, vou tomar a liberdade de fazer uma análise :cool:

Primeiro vou falar dele como um todo. Também acho que a guerra deveria ter recebido um capítulo à parte. Não os conflitos, necessariamente, mas aquela hora específica, antes da batalha, em que ele começa a escrever o pergaminho, se alimentando mal e sem saber se sobreviveria. Acho que enriqueceria muito e aliviaria a quantidade informações da última parte. É um momento de amadurecimento do personagem que se encaixaria bem.

Gostei da forma como você amarrou a importância da flor de cerejeira na segunda parte. Mas senti falta dessa associação na última parte. Sei que teve, mas foi tão rápida... Em contrapartida, os dois parágrafos que falam da confusão mental de Koji com o damasco foram o ponto alto.

Ainda na última parte, no começo, você colocou dois pontos de vista diferentes no mesmo parágrafo. Ficou estranho. E depois, nos capítulos posteriores, repetiu muito o pronome ela.

Outra coisa, tente eliminar alguns adjetivos desnecessários. Por exemplo:
Lágrimas caiam agora sobre o seu texto aberrante, deixando-o mais e mais disforme.


Nesse e em outros momentos, o uso acabou empobrecendo o texto. Era como se você quisesse forçar um drama que já está ali, com as próprias ações e pensamentos do personagem. E quanto a esses pensamentos, também não gostei de algumas frases, como "Que esplêndida harmonia!", ou "Será que ele não percebia as rodas do destino girando a todo vapor?". Acho que, principalmente no final do conto, ele teria que falar por si próprio, sem a narrativa ficar levantando perguntas (às vezes desnecessárias) ou afirmando coisas.

Ah, e não acho que as palavras bocó e lixo são muito apropriadas para o tempo em que a história se passa.

De uma forma geral, parabéns pelo conto. Espero que outras pessoas apareçam e leiam a história.

PS: Você ficou de falar sobre os elementos da cultura japonesa que usou no texto. Acho que a hora é essa :cool:

Abraços.
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 28 Mar 2008, 01:03

laharra, que bom que gostou, e melhor ainda que tenha acompanhado desde o começo. E fico feliz que tenha feito sua análise.

A idéia principal do conto era falar de um jovem que está feliz, fica um tempo ausente, e depois retorna esperando encontrar as coisas como deixou mas acaba encontrando algumas coisas diferentes e tal. Por acaso, decidi que ele ficaria um tempo ausente numa guerra, mas poderia ser outra coisa. E se eu falasse mais da guerra, iria fugir um pouco do meu objetivo principal. Acho que realmente seria interessante, mas ainda prefiro a idéia de descrever melhor a relação entre os dois, principalmente na primeira parte, para deixar mais explicito que o foco é esse. Talvez em um outro conto...

Quanto à flor de cerejeira, ela tem toda importância. Primeiro porque a flor de cerejeira é um dos símbolos do Japão. Tanto que em 1912 o governo japonês, para representar a paz entre Estados Unidos e Japão, deu 3000 mudas de cerejeiras para o governo americano. E é naturalmente um dos símbolos culturais que eu inseri no texto. As cerejeiras e suas flores em japonês é sakura, e são tão importantes que existe há quase 1300 anos uma tradição japonesa chamada hanami que consiste apenas em se apreciar o florescimento das cerejeiras, e outras plantas que florescem na primavera e possuem flores parecidas, mas principalmente cerejeiras. As pessoas costumam fazer piqueniques nos bosques, entre aquelas árvores cheias de flores brancas. E é nessa época que se passam as duas primeiras partes do conto. As flores são muito bonitas e ficam pouco tempo nas árvores, e por isso representam, para os japoneses, a vida. A vida, igualmente linda e efêmera.

Ao contrário dos damascos, que também são frutas populares do japão, mas florescem no fim do outono, e dão frutos durante todo o inverno, fato que dá fama aos damasqueiros como uma das três plantas "Amigas do Frio", ao lado dos pinheiros e dos bambus. E por falar em fim do outono, as duas últimas partes do conto se passam durante outro período tradicional do Japão, chamado momijigari. Essa outra tradição japonesa consiste em se visitar lugares (geralmente bosques) onde folhas caíram e avermelharam por causa do outono.

Esses são os símbolos de cultura japonesa que eu inseri no texto. Agora vocês todos podem compreender o que Hansuke queria dizer com algumas frases e o que Koji quis dizer quando Hansuke perguntou "Ela quem?" na segunda parte do conto.

Quanto ao pronome ela repetido muitas vezes, infelizmente não percebi. E a respeito dos adjetivos desnecessários, já anotei aqui. Vou tomar cuidado com esses detalhes da próxima vez, obrigado. Porém, quanto ao adjetivo "aberrante" que estava no seu exemplo, ele foi colocado no texto propositalmente, em referência a um outro tópico daqui do fórum, também de minha autoria, chamado Um Pedaço da minha mente. Trata-se de um curto texto autobiográfico que escrevi há alguns meses e que acabei utilizando nesse conto.

Quanto às frases que você não gostou, eu adoro elas. :ops: Mas concordo que ficou um pouco exagerado. E bocó e lixo são palavras que estão no dicionário e foram feitas para serem usadas, mas compreendo que o uso geralmente dado a elas é restrito a certos tipos de textos.

Enfim, brigadão pelos comentários. Sempre ajudam. E também espero que mais pessoas leiam. Acho melhor receber críticas do que ter de me virar com o silêncio.

Vlw! :victory:
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor laharra em 28 Mar 2008, 11:58

Legal, Alex. Essas associações com os elementos da cultura japonesa foram muito bem encaixadas no conto. Eu não os conhecia, para ser sincero. Os pequenos detalhes que falei, são muito subjetivos, mesmo. :cool:

E gostei da sua frase: "Acho melhor receber críticas do que ter de me virar com o silêncio". Se boa parte da galera que lê os contos por aqui a entendesse, teríamos um maior feedback e trocas de experiências no fórum. Não que não esteja bom no momento, mas pode melhorar.

Espero pela próxima obra. Já tem data? E idéias?

Abraços.
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Elara em 29 Mar 2008, 11:40

Ow Alex,

Tava pesquisando sobre o assunto e quando venho aqui postar, achando que seria esclarecedora, vc já esclareceu tudo!! XD

Bom, o que eu descobri: coincidência ou não, seu conto vem bem a acalhar com a época do florescimento das cerejeiras no Japão, justamente este mês. Outra coisa é que as flores da cerejeira são conhecidas como Sakura, o nome da moça pela qual Koji é apaixonado, talvez por isso o título Koji e a flor de cerejeira, não?

Outro fato interessante é que as flores da cerejeira simbolizam a fragilidade da vida, e isso justifica perfeitamente o final do conto, já que o rompimento, o fim, demonstra a fragilidade dos nossos curtos momentos...

Espero não ter viajado demais.

A propósito, não sei por que mas agora me lembrei da música Ironic, da Alanis Morissette...

Chero!
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