Parte IX
A chuva que caia dias antes, dera lugar a uma fina e melancólica neve. A chegado do inverno prendia as pessoas mais em suas casas, preocupados com outros serviços, que não fosse a colheita. Fumaça escura saia de dentro das grandes casas, após saturar as mesmas.
Em meio ao cenário branco, uma figura caminhava lentamente. Seus longos cabelos ruivos e seu porte austero o tornavam inconfundível.
Mais uma vez Hadagash vagava sem rumo, com a mente distante. Antevia os acontecimentos próximos. Conseguia prever como aconteceria às próximas batalhas, afinal já tinha vivido muitas delas, o suficiente para utilizá-las como base.
Em meio a um campo, cercado por sombras se degladiando, ele dava ordens. Todos seus músculos voltados apenas para um objetivo, o triunfo da batalha.
Escudos se chocavam contra escudos, pessoas seriam pisoteados, ele, ou alguém que se destacaria, quebraria a barreira de escudos inimiga, e então começaria a verdadeira carnificina, a verdadeira diversão.
Podia sentir o cheiro do suor e o gosto do sangue, o ar se eletrizar, o momento da batalha. Vivera sua vida inteira para esses momentos, e teria o seu, mais uma vez.
Despertou nos limites da cidade, próximo a muralha externa, sorrindo.
Com movimentos rápidos subiu a mesma, olhando toda a extensão daquelas paragens. Caminhou sobre a muralha, até avistar um dos vigias, fumando, um tanto sonolento.
- Não devias dormir em teu posto. - sua voz soou fraca, porém recriminatória.
O pobre homem despertou num sobressalto, quase o derrubando da muralha. Postou-se de pé o mais rápido possível, deixando cair seu cachimbo aos pés do Konungr.
Hadagash o fulminou com os olhos por alguns instantes, abaixando logo em seguida, pegando o cachimbo do homem. Cheirou o fumo, dando uma longa tragada logo em seguida.
- Vá homem, fa-lo-ei a vigília até o próximo turno.
O pobre vigia retirou-se da presença do Konungr, quase caindo por duas vezes da muralha.
Por um longo tempo Hadagash ficou ali, sozinho, observando o horizonte, fumando a longas tragadas.
A noite já se aproximava quando Sleipnir parou junto ao pai.
- Hadagash, meu senhor, o que fazes aqui?
- Nunca imaginei que era deficiente dos olhos Sleipnir, meu filho. Estou a fazer a vigília, o guarda não agüentava manter os olhos abertos.
Sleipnir sorriu, sentando ao lado do pai, porém, virado para a cidade. Ele observava a quietude do local, o leve cair da neve, seu cão-lobo andando em círculos abaixo da muralha, procurando como subir.
- E então pai, quais os verdadeiros motivos desta peleja? _ disse o moreno, enquanto chamava o animal, estalando os dedos _ Nem eu, nem Fangral, ou qualquer um dos outros inúteis que chamamos de Jarls, o sabem.
- Cada um irá à guerra pelos teus próprios objetivos obscuros, Sleipnir. Que para os néscios o motivo seja a tomada de terras e união absoluta dos clãs dos homens do norte. O vento trás noticias do sul e do extremo norte, não escutas? Precisamos ser unidos para sobreviver aos tempos que virão. _ ironizou o velho, enquanto tragava mais uma vez o cachimbo.
- Porém, o que estas a fazer provocarás nossa desunião. Jarls não lutarão ao teu lado, e outros tentarão impedir que vossa mercê batalhe. Aqueles clãs são compostas de selvagens, demônios e próximo das terras dos Trolls e dos Jöttin, essa investida resultará em nossa derrota, meu senhor. _ a voz de Sleipnir era fria, e com certa autoridade, apesar de todo respeito que ele tentava esconder.
- Estás com medo da peleja, Sleipnir Hadagashsson? _ os olhos frios de Hadagash caíram sobre o filho, avaliando-o.
- Não sejas ridículo, meu pai. Não temo nada nem a ninguém, não quero ver tudo ser destruído para satisfazer as ânsias de uma boa peleja de um velho que está se tornando senil. - o lobo de Sleipnir logo estava junto a eles, tinha subido por uma carroça próximo a muralha - Apenas quero saber os motivos pelo qual você irá pelejar.
Por um breve momento pai e filho se encararam, suas faces serias e frias, sendo esporadicamente cobertas pela fumaça do fumo de Hadagash.
Sleipnir ergueu-se, bufando. Afastou-se então do pai, indo até um dos suportes para descer pelo mesmo, acompanhado pelo seu cão.
- Luto por que devo fazê-lo Sleipnir, mais cedo ou mais tarde descobrirás o porque eu devo fazê-lo. - disse asperamente o ruivo, voltando a observar as terras além da cidade - E você Hadagashsson, por que lutas?
Sleipnir parou por instantes, observando o mesmo local que o pai, descendo da muralha logo em seguida.
- Faço das tuas as minhas palavras, meu senhor. Só espero que um dia possas descobrir meus motivos obscuros, assim como descobrirei os teus.
(...)