"Era um platô rochoso que a deixava quase flutuando no ar. À frente uma vastidão de verde, azul e intermitentes manchas vermelhas como feridas abertas na terra.
Seus cabelos esvoaçavam, trançando e amarrando os fios uns nos outros e deixando sua face menos rubra vez por outra. O sol incidia naquele rosto choroso com seus raios furtivos das manhãs de inverno, arrancavam caretas da face delicada da moça triste. E a faziam sorrir também. Um sorriso dolorido e cheio de saudade. Era bonita a moça.
Sua mochila de couro rústico caíra ao chão deixando à mostra o maço de cigarros amarrotado e um trevo de quatro folhas plastificado.
Ela amava aquele lugar, por isso sentia-se tão reconfortada em sua dor. Sentia-se acariciada pelo dia que acordava e balançava-se para frente e para trás enquanto fechava os olhos e sentia o vento tentar lhe conduzir.
Seus braços estavam abertos fazendo a sombra de uma cruz projetar-se sobre o solo rochoso.
Logo atrás, do seu carro, uma romântica melodia country ecoava pelo ar e se perdia na grandiosidade do lugar. Mas ela ouvia os acordes ritmados e melancólicos e sentia seu próprio coração pulsar daquela forma.
Ela se sentia tão só. Queria gritar ao mundo mas também não queria que ninguém a ouvisse, porque sabia que não a compreenderiam. Não entenderiam sua dor. A dor era só dela.
E um frio, uma agonia, um medo profundo tomou seu estômago e se espalhou pelo seu corpo enquanto sentiu que o vento, o tempo e o mundo passavam pelo seu corpo. Sentiu a dor aumentar até tornar-se insuportável, mas foi muito rápido.
Ao final do dia, no platô rochoso, o sol envolveu o carro sem baterias com seus raios sangrentos. O vento continuou balançando as copas das árvores ao longe avistadas. Um bilhete escrito em papel de agenda que tremelicava sob a roda do automóvel logo soltou-se e voou com as aves graciosas e barulhentas da região até perder-se no alaranjado céu que se despedia da moça triste..."