Spell RPG

Cenários com consistência sociológica. Mundos “realísticos”, que apesar da carga fantástica, possuem aspectos corretos do ponto de vista das ciências sociais (o inverso do cenário típico comissionado pra servir puramente de “palco de aventuras” priorizando o AWESOME em detrimento de tudo).

Ex: Terra-Média, Tekumel e Glorantha, criados por um filólogo, um lingüista, e um mitólogo, respectivamente, apresentam aspectos fortemente pautados em campos de conhecimento reais.


Mas não precisa ser TÃO realista como esses aí. Kingdoms of Kalamar, por ex. me parece apto (se alguém puder falar mais, agradeço imensamente). O mesmo vale pra Transhuman Space. Mas por favor, não ousem citar Forgotten Realms!

Incrível, todo cenário "realístico" ou é horrendo, ou é tedioso ou é assustadoramente bizarro fruto de alguma orgia que envolve drogas psicóticas, gases alucinogénos e fantasias "feathery" com patos humanóides bárbaros.

E ver Tolkien sendo chamado de "Realista" quando o próprio autor ambicionava fazer uma obra literária caracteristicamente britânica misturada com background católico e "divindades pseudo-nórdicas" - misturado com a história de dormir que ele contava aos filhos - deve fazer o cadáver do "Professor" dançar rebolation no túmulo

Silva

Pra você um cenário realista é um cenário coeso?

Se o mundo real não faz sentido completamente, imagino como um mundo imaginário com aspectos fantásticos o faça. Lembrando que "realista" é bem diferente de "coeso", como o Lanzi frisou.

Talvez "verossímil" seja a palavra.

E "realístico" é f*, ein? Parece aquelas adaptações picaretas de inglês...

Até agora não captei a idéia do Silva.

Greyhawk tem uma base muito sólida, se tu tiver vontade de ver ele até o fundo - principalmente depois do Eric Mona botar a mão no cenário. O que é surpreendente, por que ele literalmente nasceu como um mundo-masmorra. E francamente, eu prefiro ele como um mundo-masmorra.

Conheço um cenário que está sendo desenvolvido que tem mais ou menos essa proposta aí. Materialistas históricos trabalhando em conjunto com historiadores da cultura, críticos literários, interessados moda, professores de literatura, bacharéis e licenciados em educação artística, com ocasional consultoria de liberais e interessados em teologia, além de diversas outras bichas e marinheiros. Dá uma conferida lá.

Lanzi escreveu:Silva,
Pra você um cenário realista é um cenário coeso?

Não sei, mas acho que não. Eu posso ter um cenário completamente absurdo porém coeso dentro de suas próprias premissas e no desdobramento destas. Ex: mágica é algo "absurdo", sem explicação. Mas eu posso ter um cenário que use esse elemento (absurdo) de forma coesa e lógica, como é o caso, me parece, de Eberron (só conheço superficialmente).

Talvez believable / crível seja um termo melhor ?

Elven escreveu:E ver Tolkien sendo chamado de "Realista" ... deve fazer o cadáver do "Professor" dançar rebolation no túmulo

As linguagens e folclore tecidos por ele ressonam bastante com nossos próprios(as), dando um ar muito crível a coisa toda. Ou ao menos essa foi minha impressão (conheço superficialmente, só comecei a ler Simlarillion e o Hobbit ). E essa qualidade (de ser crível) não parece ter sido por acaso: a bagagem de filologista e o conhecimento de obras e lendas nórdicas do Tolkien devem ter influenciado bastante nesse resultado. É disso que to falando.

Elven escreveu:Incrível, todo cenário "realístico" ou é horrendo, ou é tedioso ou é assustadoramente bizarro..

... ou é *mitologicamente correto* como poucos. Aliás, esse é um belo exemplo do que quero dizer com "realista". Quem conhece o tratamento que Glorantha dá ao mito e religião, em comparação ao que D&D tradicionalmente dá, sabe do que estou falando. ( e quem não conhece, basta ver a comparação entre suplementos incônicos desses jogos, aqui: Cults of Prax vs Deities & Demigods, ou aqui: Gods of Glorantha vs Deities & Demigods. )

E, mais uma vez, não é por acaso - afinal, o autor de Glorantha é um mitólogo, que aplicou teorias de seus estudos ao cenário, resultando em um mundo que, mesmo sendo de fantasia, possui um aspecto mitológico assustadoramente crível.

Elven escreveu:..fruto de alguma orgia que envolve drogas psicóticas, gases alucinogénos e fantasias "feathery" com patos humanóides bárbaros.

Bah... um cenário com seres assim não tem envergadura moral pra falar de homens-pato..

É extremamente complicado falar sobre isso, já que tem furos aqui e outros lá...

Mas eu sei dizer que um cenário que fosse o contrário de tormenta com certeza seria o mais próximo de "realístico"

O fundamental, na minha opinião, é não ter reinos temáticos "porque sim" e um reino do lado do outro serem extremamente diferentes (todos, praticamente) só "porque sim". Tem que ter essa interação. E outro ponto importante é não ter a idealização da moral, tendo então personagens egoístas, em sua maioria, mas não necessariamente puramente maldosos para o serem, ou seja, uma relativização de tendências, no caso do D&D. Daí, acho que Eberron se encaixa, com muitos furos, claro.

Isso aí Darin! Exatamente o que quero dizer. Finalmente alguem me entendeu.

Uma vez, numa discussão com amigos, pensamos sobre como seria a política num cenário de D&D coerente.

Considerando que os indivíduos mais poderosos do mundo são de fato os que saem por aí acumulando níveis e que um nobre, justamente por precisar governar não pode participar dessa "corrida armamentista" (apesar de muitos cenários darem altos níveis pras vacas sagradas, justamente pra impedir aquilo que citarei adiante), ele dependeria dos próprios aventureiros para se manter no poder.

Mas, quem garante que os aventureiros seriam sempre leais? Em algum momento aventureiros poderiam começar a tomar para si baronatos, vilas, condados, e até reinos. E a cada castelo, a cada corte tomada, os que sobram contratariam mais magos, mais ladinos, mais guerreiros e clérigos, só pra ficar no quarteto fantástico padrão, para protegê-los...existiriam então reinos de aventureiros que tomaram o poder, e "Estados Pretorianos", onde os generais seriam outros aventureiros.

E a sucessão nos reinos de aventureiros, obviamente não poderia ser hereditária pela primogenia...além de ter que resistir a tentativas de take over por bandos de aventureiros mais fortes, os filhos do monarca-aventureiro deveriam eles proprios se aventurar, acumulando itens e níveis, para quando finalmente o pai morrer, eles se matarem ao longo de uma "corrida maluca hardcore" rumo à Capital para a coroação. E os que sobrassem e escapassem, poderiam ir para outras cortes, tentar arquitetar algo, tentar tomar algo para si.

Chamamos essa hipótese de Balkans & Dragons.

Podem não gostar, mas acho melhor do que as pessoas mais poderosas do mundo passarem a vida inteira dormindo em chão duro,comendo rações de viagem, acumulando poder e mais poder, e mais poder, e mais poder...e só. Nunca exercerem esse poder de forma mais útil...todos esses pontos em inteligência, arquimago, e tudo que você faz é ser bully contra os guerreirinhos por aí?

Claro, muitos cenários já existentes fazem uso de NPCs "mais fodas do que seu PC jamais será", em posições estratégicas pra impedir uma Balcanização do cenário. Mas esses super-homens de lealdade cega pra mim não são plausíveis, ainda mais na quantidade que existem, e sempre nas posições cabalísticas.

Só que o Darin não falou nada com nada. Só disse "lol, tem que ser antiTormenta". =P

"lol, tem que ser antiTormenta". =P

E ele está certo nisso, pow!

KhanNoonienSingh escreveu:Uma vez, numa discussão com amigos, pensamos sobre como seria a política num cenário de D&D coerente.

Considerando que os indivíduos mais poderosos do mundo são de fato os que saem por aí acumulando níveis e que um nobre, justamente por precisar governar não pode participar dessa "corrida armamentista" (apesar de muitos cenários darem altos níveis pras vacas sagradas, justamente pra impedir aquilo que citarei adiante), ele dependeria dos próprios aventureiros para se manter no poder.

Mas, quem garante que os aventureiros seriam sempre leais? Em algum momento aventureiros poderiam começar a tomar para si baronatos, vilas, condados, e até reinos. E a cada castelo, a cada corte tomada, os que sobram contratariam mais magos, mais ladinos, mais guerreiros e clérigos, só pra ficar no quarteto fantástico padrão, para protegê-los...existiriam então reinos de aventureiros que tomaram o poder, e "Estados Pretorianos", onde os generais seriam outros aventureiros.

E a sucessão nos reinos de aventureiros, obviamente não poderia ser hereditária pela primogenia...além de ter que resistir a tentativas de take over por bandos de aventureiros mais fortes, os filhos do monarca-aventureiro deveriam eles proprios se aventurar, acumulando itens e níveis, para quando finalmente o pai morrer, eles se matarem ao longo de uma "corrida maluca hardcore" rumo à Capital para a coroação. E os que sobrassem e escapassem, poderiam ir para outras cortes, tentar arquitetar algo, tentar tomar algo para si.

Chamamos essa hipótese de Balkans & Dragons.

Podem não gostar, mas acho melhor do que as pessoas mais poderosas do mundo passarem a vida inteira dormindo em chão duro,comendo rações de viagem, acumulando poder e mais poder, e mais poder, e mais poder...e só. Nunca exercerem esse poder de forma mais útil...todos esses pontos em inteligência, arquimago, e tudo que você faz é ser bully contra os guerreirinhos por aí?

Claro, muitos cenários já existentes fazem uso de NPCs "mais fodas do que seu PC jamais será", em posições estratégicas pra impedir uma Balcanização do cenário. Mas esses super-homens de lealdade cega pra mim não são plausíveis, ainda mais na quantidade que existem, e sempre nas posições cabalísticas.

Khan, bela sacada. Realmente, se D&D tivesse coerência no desdobramento de suas premissas básicas, a coisa ia descambar pra algo muito próximo disso aí.

Madruga escreveu:Só que o Darin não falou nada com nada. Só disse "lol, tem que ser antiTormenta".

Então ele já falou tudo, ué.


E segue um link com dicas de como se fazer uma geografia plausível pro seu cenário. Achei bem legal: http://www.giantitp.com/articles/xO3dVM8EDKJPlKxmVoG.html